OPINIÃO

OPINIÃO

A escola é burra?

A escola é burra?

Por Roberto Magalhães | 19/09/2023 | Tempo de leitura: 2 min

O autor é professor de redação e autor de obras didáticas e ficcionais

Por Roberto Magalhães
19/09/2023 - Tempo de leitura: 2 min
O autor é professor de redação e autor de obras didáticas e ficcionais

Parece, mas não é. Ela sabe muito bem o que está fazendo. Sabe exatamente por que continua dizendo não à música, ao teatro, à pintura, à dança, à poesia, ao cinema... A escola não gosta das artes. É que ela tem dono que lhe cochicha nas orelhas o que e como deve ensinar. Que memorizar é muito melhor do que pensar; reproduzir, do que criar; obedecer, do que rebelar, fazer conta, do que filosofar. A escola sempre viu o homem pela metade: só investe no intelecto, zero na emoção. Quer, enfim, ver os alunos enfileirados em ordem hierárquica, cabeça altiva, peito entufado, pé direito seguindo a ordem do tambor: um dois, um dois, um dois... É preciso que aprendam a marchar com o pé certo! Pé esquerdo nem pensar!

A escola sabe que todo cuidado é pouco com aquele professor louco que, desprezando o giz e a verborreia salivante, inocula nas pobres crianças o vírus de indesejável pandemia. Sim, todo cuidado é pouco com aquele professor louco que ensina a pele a sentir, ensina o corpo a dançar, ensina as mãos cores e volumes criar. Ensina, enfim, a cabeça a pensar, desconfiar, questionar, rebelar... Que perigo! Lápis de cores diferentes, em mãos aprendizes, podem outro desenho criar.

Quando se educa com arte, nasce quem não interessa, o indesejável. Alguém que marcha com o pé errado confundindo os coturnos até então bem alinhados. Alguém, mexido na sensibilidade, que descobre o irmão excluído e com isso pode se indignar. A arte é perigosa. Pudera, é humanizante, questionadora, inquieta, transformadora... "Canta, poeta, canta! Violenta o silêncio conformado. Cega com outra luz a lua do dia. Desassossega o mundo sossegado", poetou Miguel Torga.

A escola é burra? Parece, mas não é. Ela sabe muito bem o que está fazendo e a mando de quem. O filósofo Bertrand Russel, em Princípios da Reconstrução Social (1916), apontou o dedo para o medo do andar de cima: "É melhor que os homens sejam parvos, preguiçosos e oprimidos do que sejam livres seus pensamentos. Eles poderiam não pensar como nós. E essa doença deve ser evitada a qualquer preço. Assim argumentam os opositores do pensamento nas profundezas de suas almas. E assim agem em suas igrejas, suas escolas e universidades." Assusta saber onde estão os opositores do pensar: nas igrejas, nas escolas, nas universidades...

Num mundo ameaçado por inteligência já não mais humana, o cérebro artificial pensará por nós? Não sei não. Segundo a lógica do capital, ele tende a favorecer os endinheirados donos da IA. Que mundo pior ainda se anuncia? Deus meu! O que vem por aí? Por isso, cada vez mais se impõe uma verdade solar: só a sensibilidade, a emoção e a empatia poderão nos salvar. A inteligência não mais, que esta será friamente artificial. Precisamos urgente de um novo homem, de um homem po-ético. Precisamos da arte, sentada no banco primeiro da fila primeira de todas as salas de aula. Só a arte poderá nos salvar!

Parece, mas não é. Ela sabe muito bem o que está fazendo. Sabe exatamente por que continua dizendo não à música, ao teatro, à pintura, à dança, à poesia, ao cinema... A escola não gosta das artes. É que ela tem dono que lhe cochicha nas orelhas o que e como deve ensinar. Que memorizar é muito melhor do que pensar; reproduzir, do que criar; obedecer, do que rebelar, fazer conta, do que filosofar. A escola sempre viu o homem pela metade: só investe no intelecto, zero na emoção. Quer, enfim, ver os alunos enfileirados em ordem hierárquica, cabeça altiva, peito entufado, pé direito seguindo a ordem do tambor: um dois, um dois, um dois... É preciso que aprendam a marchar com o pé certo! Pé esquerdo nem pensar!

A escola sabe que todo cuidado é pouco com aquele professor louco que, desprezando o giz e a verborreia salivante, inocula nas pobres crianças o vírus de indesejável pandemia. Sim, todo cuidado é pouco com aquele professor louco que ensina a pele a sentir, ensina o corpo a dançar, ensina as mãos cores e volumes criar. Ensina, enfim, a cabeça a pensar, desconfiar, questionar, rebelar... Que perigo! Lápis de cores diferentes, em mãos aprendizes, podem outro desenho criar.

Quando se educa com arte, nasce quem não interessa, o indesejável. Alguém que marcha com o pé errado confundindo os coturnos até então bem alinhados. Alguém, mexido na sensibilidade, que descobre o irmão excluído e com isso pode se indignar. A arte é perigosa. Pudera, é humanizante, questionadora, inquieta, transformadora... "Canta, poeta, canta! Violenta o silêncio conformado. Cega com outra luz a lua do dia. Desassossega o mundo sossegado", poetou Miguel Torga.

A escola é burra? Parece, mas não é. Ela sabe muito bem o que está fazendo e a mando de quem. O filósofo Bertrand Russel, em Princípios da Reconstrução Social (1916), apontou o dedo para o medo do andar de cima: "É melhor que os homens sejam parvos, preguiçosos e oprimidos do que sejam livres seus pensamentos. Eles poderiam não pensar como nós. E essa doença deve ser evitada a qualquer preço. Assim argumentam os opositores do pensamento nas profundezas de suas almas. E assim agem em suas igrejas, suas escolas e universidades." Assusta saber onde estão os opositores do pensar: nas igrejas, nas escolas, nas universidades...

Num mundo ameaçado por inteligência já não mais humana, o cérebro artificial pensará por nós? Não sei não. Segundo a lógica do capital, ele tende a favorecer os endinheirados donos da IA. Que mundo pior ainda se anuncia? Deus meu! O que vem por aí? Por isso, cada vez mais se impõe uma verdade solar: só a sensibilidade, a emoção e a empatia poderão nos salvar. A inteligência não mais, que esta será friamente artificial. Precisamos urgente de um novo homem, de um homem po-ético. Precisamos da arte, sentada no banco primeiro da fila primeira de todas as salas de aula. Só a arte poderá nos salvar!

Quer receber as notícias mais relevantes de Bauru e região direto no seu WhatsApp? Faça parte da comunidade JCNET/Sampi e fique sabendo de tudo em tempo real. É totalmente gratuito! Abra o QR Code.

Participe da Comunidade

Quer receber as notícias mais relevantes de Bauru e região direto no seu WhatsApp? Faça parte da comunidade JCNET/Sampi e fique sabendo de tudo em tempo real. É totalmente gratuito!

Participe da Comunidade

1 COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.

Ainda não é assinante?

Clique aqui para fazer a assinatura e liberar os comentários no site.

  • Tati
    19/09/2023
    Não sei de onde vcs estão falando, mas eu morava numa cidade e trabalhava numa escola de tempo integral, onde os alunos podiam escolher mais de 30 oficinas! Entre elas: artes circenses, teatro, Robotica, informática, auto maquiagem, maquiagem artística, horta, dança, relaxamento, alongamento, violão, canto, etc! Com a chegada do “novo ensino médio” ferraram a vida dos coordenadores pq estas oficinas se tornariam inviáveis dentro da carga-horária!