ATITUDE

O poder de se manter calado

Por Mariana Rosário |
| Tempo de leitura: 2 min
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A ideia do "calado vence" (frase que se tornou um bordão para fugir de encrencas nas redes sociais) tem sido defendida por especialistas em saúde e bem-estar como o último grito do autocuidado, com aplicação fácil: basta falar menos, ouvir mais e aproveitar os momentos de silêncio. O manuscrito da nova onda é o livro "O poder de manter a boca fechada num mundo infinitamente barulhento", lançado nos Estados Unidos e ainda sem versão em português.

Na publicação, o jornalista Dan Lyons descreve suas desventuras falando demais em toda sorte de ocasiões, em casa, no trabalho e na internet. O autor também detalha como a incapacidade de ficar quieto atrapalhou suas relações profissionais e familiares. Para sanar os problemas, ele defende ficar quieto sempre que possível e, além disso, dar um chega pra lá nas redes sociais.

No âmbito da saúde física, é exagerado dizer que há um avanço mágico em falar menos. Mas há alguns indicativos: se a ideia é melhorar a saúde do coração, análises mais antigas sugerem que a fala pode aumentar índices de pressão arterial mesmo para adultos saudáveis, sem o indicativo de que sofram de doenças cardiovasculares.

Não se trata, porém, de encerrar contatos interpessoais para melhorar a vida. Pelo contrário, trocar ideias profundamente sobre assuntos que particularmente nos interessam, com reflexões sobre o que dizer e, sobretudo, lançando mão de perguntas para ouvir quem está no mesmo ambiente é a chave para uma vida um pouco mais feliz.

Análise realizada com cerca de 500 pessoas pela Universidade no Arizona (EUA), mostrou que pessoas engajadas em conversas substanciais, com assuntos que realmente interessam os interlocutores (não importa a variedade, pode ser política, relacionamentos ou clima), mostraram-se mais felizes e satisfeitas num cenário geral. Responsável pelo estudo, o pesquisador Mathias Mehl classifica que falar de maneira mais engajada faz bem e pode figurar como ferramenta para viver melhor.

A chave para não exagerar é saber quando você está falando porque está ansioso, ou apenas para preencher um espaço silencioso. E, é claro, se as suas palavras terão utilidade.

O psiquiatra Mark Epstein, autor do livro "Terapia Zen: quando a terapia e o budismo se encontram no divã", aconselha "dar voz ao solêncio".

Dá para cultivar o silêncio e alguma paz de espírito se conseguimos aprender a não levar nossos pensamentos tão a sério. Isso dá algum tipo de liberdade porque não seremos enganados, nem controlados por pensamentos ou impulsos - diz.

Christian Dunker, autor do livro "O palhaço e o psicanalista: Como escutar os outros pode transformar vidas", diz que a dificuldade de escuta é, justamente, deflagrada pela fala incessante.

É uma tática que se tornou mais facilitada por recursos tecnológicos e por transformações sociais. Há um tipo de fala, que Jacques Lacan (psicanalista francês) chamou de "fala vazia". Ela é usada para tampar angústias, incertezas e dúvidas. Aquele frio na barriga quando a gente se encontra com o silêncio. Estamos nos afastando um do outro, de outras questões. Há excesso de fala que constrange pessoas que não estão na mesma onda.

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