COLUNISTA

Os sete pecados capitais - Prólogo

Por Hugo Evandro Silveira | 19/08/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril

Apesar de ser um conceito religioso introduzido pelo catolicismo em meados do século IV, a classificação dos chamados sete pecados capitais, como se conhece hoje, não encontra abrigo nas Escrituras Sagradas, embora cada um deles tenha seu conteúdo e forma evidenciados e repreendidos em diversas passagens bíblicas.

No distante início do quarto século, a igreja, para facilitar o cumprimento dos Dez Mandamentos e descrever defeitos de conduta que pudessem vir a transgredi-los, estabeleceu uma lista de pecados perdoáveis - os chamados pecados veniais, de natureza leve, passíveis de purificação mesmo sem uma intervenção sacerdotal - assim como de outros oito ditos mortais, por serem merecedores da condenação eterna. Sim, oito e não sete, com a vanglória adicionada à gula, avareza, luxúria, ira, melancolia, indolência e soberba.

Ao final do século VI, o papa Gregório deu forma de sete à lista, juntando a vanglória à soberba e trocando indolência por preguiça e melancolia por inveja. Mais tarde, outros teólogos, entre eles Tomás de Aquino, reanalisaram a lista de Gregório e fizeram adaptações, mas a relação se popularizou mesmo com a obra Divina Comédia, de Dante Aligheri, e, a partir daí, os sete pecados capitais foram eternizados como gula, inveja, ira, avareza, luxúria, preguiça e orgulho.

Interessante que, na Idade Média, foram catalogadas virtudes contrapostas a cada um dos pecados capitais, como a direcionar o ser humano para um escape, um lenitivo à prática pecaminosa, uma vez que a virtude seria uma disposição natural e firme de fazer o bem. Assim, à ira se oporia a paciência; à inveja, a caridade; à preguiça, a execução com zelo, ou ser diligente naquilo que faz. Ao pecado da avareza dever-se-ia apoiar no outro prato da balança a generosidade; à gula, uma boa dose de temperança; à luxúria, a prática da castidade; e à soberba, humildade.

A denominação de CAPITAL, derivada do latim "caput" (cabeça) para tais pecados, vem da premissa de serem eles a origem de todas as demais ações pecaminosas cometidas pela humanidade. Também são classificados como vícios, ou seja, como uma imperfeição grave da pessoa ou uma tendência dela para ato nocivo, na visão clássica e propagada do termo. Já em uma visão bíblica, o vício é visto como uma "escravidão voluntária", onde o indivíduo faz a escolha por aquela atitude e não mais reúne forças, por si só, para dessa escolha escapar.

O mal, enquanto pecado, surge portanto pela capacidade de escolha. O mal não tem existência em si só, não tem existência ontológica. Ele é decorrente do uso indevido da liberdade concedida pela Deidade. As Escrituras demonstram ter uma compreensão plena dessa servidão, sem porém com ela compactuar, mas sim a repreendendo firmemente e responsabilizando moralmente o ato e o ator. Isto porque, biblicamente, são atos contrários à natureza de Deus, caracterizando-se como desobediência ao Criador, uma recusa em submeter-se aos seus mandamentos.

Este breve e incompleto resumo histórico e posicional intenta apenas estabelecer as convergências e os distanciamentos de uma sistematização religiosa e humana a algo que não está assentado literalmente na Bíblia. E esta, por ser a palavra do próprio Deus, carrega em si seus atributos, sendo portanto verdadeira e imutável.

Nesta série de oito reflexões agora iniciada, passearemos individualmente pelos pecados ditos capitais, relacionando-os aos padrões morais do início da história humana, mais propriamente à lei do Antigo Testamento, assim como suas manifestações no permissivo mundo contemporâneo e como isso continua a desagradar e interferir no plano divino de um reino eterno de bênçãos para a humanidade.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL
61 anos atuando Soli Deo Gloria

E-mail: hugoevandro15@gmail.com

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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