CIÊNCIA

Exames nas farmácias, antes da consulta

Por Alberto Consolaro |
| Tempo de leitura: 3 min
Professor Titular pela USP Bauru e Colunista do JC
Reprodução
Os 180 dias servem para todos se adaptarem a nova realidade
Os 180 dias servem para todos se adaptarem a nova realidade

Para a população em geral a realização de 47 exames de análises clínicas em farmácias e clínicas, e vem mais, representa uma mudança de padrão, ou seja, de paradigma. Para os Cirurgiões Dentistas e Médicos também, pois, sob todos os aspectos, vai mudar a forma na relação profissional- paciente.

O paciente pode procurar pela primeira vez o profissional com os resultados de exames na mão. O profissional vai receber o paciente, fazer anamnese e depois o exame físico do paciente. Na hora de suas suspeitas diagnósticas e indicações dos exames complementares, o paciente já pode ter os resultados nas mãos.

Os exames, antes do diagnóstico clínico que o complementaria, inverte a sequência da abordagem clínica idealizada por Hipócrates, o pai da Medicina: queixa principal, anamnese e exame físico. As hipóteses de diagnósticos seriam seguidas pela solicitação dos exames, cujos resultados complementariam os dados para a conclusão final. Em seguida, o profissional planeja o tratamento e controla seu efeito ao longo do tempo.

Entretanto, por questões de limitações, convenção e tradição, nem todos os profissionais sabem pedir e interpretar todos estes exames de repente, em um primeiro momento. Eles podem ficar confusos na hora da interação com o paciente e família. Diagnóstico significa através do saber e exige reflexão!

O governo federal deu um prazo de 180 dias para as farmácias e clínicas se adequarem, e poderia ser também, usado este prazo para todos os profissionais de saúde se familiarizarem com esta nova realidade.

Os exames de análises clínicas (EAC) são todos aqueles que usam as análises dos fluidos do organismo, como sangue, urina, fezes e secreções. Até então a Anvisa liberava a realização somente de testes de Covid-19 e de glicemia.

E AGORA?

A norma agora aprovada permite fazer muitos testes de triagem. É importante ressaltar, que esses testes não substituem os exames laboratoriais tradicionais. A Anvisa destaca que os resultados desses testes feitos em farmácias e clínicas, não devem ser usados sozinhos para tomar decisões médicas. Eles devem ser usados apenas como uma primeira avaliação.

Mas, vamos usar o bom senso: será muito difícil explicar resultados, mesmo que preliminares aos pacientes. E ainda mais, alertá-los que o exame de farmácia pode estar alterado por alguma razão na fabricação, transporte e conservação. Deveremos ter muita segurança a partir de conhecimentos obtidos de uma atualização constante dos profissionais da saúde.

Uma pessoa que não é da área da saúde pode questionar: mas os médicos e dentistas já não sabem isto de imediato? Eles não têm acesso a um manual, protocolo ou algoritmo, onde se informam? Não, estes profissionais têm um limite de formação, trabalho e de carga de conhecimento. Hoje a maioria do que se precisa está à mão em um computador ou celular, mas no meio de uma consulta com o paciente a sua frente pode gerar constrangimentos.

REFLEXÃO FINAL

Se eu fosse ministro, secretário de saúde ou diretor de serviço de saúde eu providenciaria seminários e treinamentos práticos para os profissionais de saúde neste período de 180 dias e assim, todos estariam minimamente preparados para esta nova realidade que teremos pela frente.

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