COLUNA

Casamento e Sexo

Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril

Por Hugo Evandro Silveira: | 29/07/2023 | Tempo de leitura: 3 min

O pensamento dominante na Idade Média era de que o prazer sexual em si era mau, mesmo quando ocorria entre cônjuges. Por exemplo, Agostinho de Hipona entendia que o ato sexual era inocente no casamento, mas a paixão da prática sexual possuía um caráter pecaminoso. Ele inclusive elogiava cônjuges que se abstivessem do sexo. Gregório, o Grande, concordava com essa visão e acrescentava que, quando um marido ou mulher se engajava na relação sexual apenas pelo prazer, e não com o objetivo de procriar, o prazer tornava o ato impuro. Outros nomes proeminentes da Idade Média, como Alberto e Aquino, também se opunham ao ato sexual, pois acreditavam que ele submetia a razão às paixões. Além disso, Orígenes levou de forma tão literal o comentário de Jesus no evangelho de Mateus (19.12) que chegou a se castrar. Essa aversão ao prazer sexual levou ao enaltecimento da virgindade e do celibato, sendo que Jerônimo exaltava cônjuges permanentemente virgens. A maioria dos mestres e pais da igreja louvava a virgindade como um estado superior à relação sexual, resultando em uma depreciação do casamento em si e uma rejeição ao sexo.

Os protestantes, por sua vez, romperam com esse pensamento dominante da Idade Média e passaram a valorizar o matrimônio e o sexo. William Tyndale, pastor protestante e acadêmico inglês do século XV, defendeu a liberdade dos ministros eclesiásticos para o casamento, citando as palavras do apóstolo Paulo em sua primeira carta a Timóteo (3.2), que mencionava que "o bispo deve ser esposo de uma só mulher", enfatizando que "não é bom que o homem esteja só" - conforme escrito no livro de Gênesis 2.18. Enquanto a Idade Média celebrava a virgindade como um estado superior ao casamento, os protestantes afirmavam que o matrimônio era uma condição mais excelente, pois fora ordenado por Deus (Gn 2.24).

No final do século XVI, o amor romântico no casamento havia substituído o ideal do cortejo adúltero da Idade Média. C. S. Lewis, irlandês, apologista cristão e autor da série "As Crônicas de Nárnia", afirmou que a transformação do cortejo amoroso em amor monogâmico romântico aliancista foi um trabalho desenvolvido pelos pensadores ingleses de linha reformada. O entendimento moderno, advindo do protestantismo, baseia-se no fato de que o sexo no casamento não apenas é legítimo, mas também exuberante, devendo os cônjuges engajarem-se nele com boa vontade, prazer, voluntariamente e alegria. Caso contrário, estariam fadados à decepção. João Calvino, o grande reformador, escreveu que a relação conjugal é pura, honrável e santa, pois é uma instituição de Deus para todos os homens.

Essa compreensão Reformada a partir do século 16 rejeitava, acima de tudo, o ascetismo e o dualismo implícito na ideia do sagrado e do secular. O novo entendimento partia da premissa de que Deus jamais é avarento ao ponto de privar suas criaturas de coisas boas que lhes foram oferecidas, como o sexo no matrimônio. A própria Bíblia, nas palavras do rei Salomão, aprova uma espécie de arrebatamento nos momentos íntimos do leito matrimonial. Dessa forma, o cristianismo não se mostra restringente em relação ao contato erótico entre os casais que contraíram matrimônio de forma heterossexual.

O sexo é um apetite natural e biológico implantado por Deus. Assim como o apetite por comida, ele é uma parte natural da vida. Trata-se da união entre duas pessoas em seus corpos, mentes, emoções, espíritos e almas. O sexo é necessário e fundamental no casamento, representando uma relação responsável e promissora. Portanto, deve ser praticado sem abstinência, com felicidade e abundante afeição.

O casamento é o meio ordenado por Deus para satisfazer os impulsos sexuais, e nem a mulher nem o marido devem negar a relação sexual ao seu cônjuge (I Coríntios 7.3-5). Embora seja um dever matrimonial, não pode ser algo triste, sem afeto, alegria e prazer.

O amor entre um marido e sua esposa, e vice-versa, deve ser o sentimento mais caro, íntimo, precioso e completo que um ser entrega ao outro. Nenhum sentimento, exceto o amor a Deus, está acima dele. Portanto, o amor conjugal é o alicerce da família, e o sexo entre os cônjuges é a maior expressão desse amor.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL

61 anos atuando Soli Deo Gloria.

E-mail: hugoevandro15@gmail.com

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