COLUNISTA

A experiência dos discípulos de Emaús

Por Dom Caetano Ferrari |
| Tempo de leitura: 4 min
Bispo Emérito de Bauru

Os discípulos de Emaús reconheceram Cristo nas Escrituras e na celebração do pão repartido, conforme São Lucas relata no Evangelho da Missa deste terceiro Domingo da Páscoa - Lc 24,13-35. Aconteceu naquele mesmo dia, o primeiro da semana, que dois dos discípulos de Jesus iam para o povoado chamado Emaús, distante onze km de Jerusalém. Eles conversavam a respeito de tudo que tinha acontecido com Jesus. Podemos imaginar como deveriam estar com a cabeça a mil por hora, com as emoções à flor da pele e os sentimentos conturbados, tanto que Lucas anota que eles caminhavam "conversando e discutindo sobre tudo aquilo". Eis que o próprio Jesus, como um estranho, se aproximou e se pôs a caminhar com eles; eles nem desconfiaram que fosse Jesus porque, como conta Lucas, "estavam como que cegos". De fato, as fortes emoções perturbam a visão e a mente. Jesus entrou na conversa, começando com jeito, fazendo a pergunta óbvia: "O que ides conversando pelo caminho?" Se eles estivessem alegres, soltando gargalhadas, certamente estariam conversando sobre o resultado da partida da tarde em que o time do povo teria vencido o time dos fariseus. Mas Jesus percebeu no ar que eles andavam com o rosto triste e cabisbaixos, que o momento não era para brincadeira. Por isso fez aquela pergunta, respeitosamente. Um deles respondeu - aquele que tinha o nome de Cléofas, que era casado com uma das mulheres que estiveram aos pés da cruz, segundo se lê: Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena" (Jo 19,25). Cléofas respondeu com outra pergunta, mal disfarçando perplexidade: "Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que lá aconteceu nestes últimos dias?" Como quem nada soubesse, Jesus perguntou com curiosidade: "O que foi?" Os dois foram contando o que aconteceu com Jesus, começando a dizer-lhes que Ele era Nazareno, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e todo o povo. Que, não obstante, os sumos sacerdotes e os chefes O entregaram para ser condenado à morte e O crucificaram. Que eles esperavam que Jesus fosse libertar Israel, mas já fazia três dias que todas essas coisas aconteceram, apesar de que algumas mulheres do seu grupo lhes deram um susto com a notícia de que encontraram o sepulcro vazio, sem o corpo de Jesus, e alguns anjos tenham aparecido dizendo-lhes que Jesus estava vivo. E que alguns outros discípulos foram ao túmulo e encontraram as coisas como as mulheres tinham dito, mas a Jesus eles não O viram. Jesus os ouviu atentamente, e então começou a lhes falar, mostrando certo espanto: "Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram! Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?" E, pacientemente, Jesus passou-lhes o que chamamos hoje uma verdadeira catequese. Toda catequese começa e termina com a Palavra de Deus. Foi assim que Jesus, "começando por Moisés e passando pelos profetas, explicava aos discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dEle". Eles iam ouvindo Jesus com profunda atenção. Um deles se manifestará ao outro, um pouco mais adiante, confessando em forma de pergunta: "Não estava ardendo o nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?" Eis que chegaram a Emaús e Jesus fez de conta que ia mais adiante. Os discípulos, porém, insistiram com Jesus: "Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!" Jesus aceitou o convite. Descansaram um pouco e sentaram-se à mesa para a ceia. Quando Jesus se sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía. No partir do pão, os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus. No partir do pão, os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus. Só aí a "ficha caiu". Jesus, como num átimo, desapareceu da frente deles. Os discípulos se puseram de volta a Jerusalém para contar aos onze que se encontravam reunidos com os outros o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão. Os onze com os outros a essa altura confirmaram a ressurreição de Jesus, dizendo: "Realmente, o Senhor ressuscitou e é verdade que tenha aparecido a Simão, como ele nos confessou".

A Igreja destaca três temas desse Evangelho: "A inspiração bíblica da catequese", "o fica conosco Senhor" e o "partir do pão". Deve-se dizer que os três temas compõem a pedagogia catequética de Jesus. A verdadeira Igreja de Jesus Cristo é a que parte simultaneamente o pão da Palavra de Deus, o pão da Eucaristia e o pão da Caridade. Por conseguinte, a verdadeira catequese cumpre estas três etapas: 1ª) Pregação da Palavra, 2ª) Oração-Liturgia-Eucaristia, 3ª) Caridade ou Amor ou Misericórdia. Reúne a "lex orandi", a "lex credendi" e a "lex operandi in caritate".

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