Empresários, médicos, advogados. São muitos os profissionais que ajudam a construir a história de Bauru e nasceram em Iacanga, município a 50 quilômetros de distância que completou 98 de emancipação político-administrativa no último de 15. E, apesar de terem decidido fixar residência na "Cidade Sem Limites" devido a oportunidades de estudo ou trabalho, uma boa parcela deles mantém fortes vínculos com a terra natal.
"Brinco que a água de Iacanga é enfeitiçada", diz o advogado Olival Antonio Miziara, que se mudou para Bauru aos 12 anos, com a família, por demandas profissionais do pai. "Falo que sou caipira de Iacanga e jacu de Bauru, ou seja, iacanguru, porque moro em Bauru, mas mantenho amizades de infância, inesquecíveis, onde nasci. É uma cidade especial, de muitas pessoas boas, amigas, sinceras", frisa.
O território onde está o município hoje começou a ser ocupado ainda no início do século 19. Imigrantes de países como o Líbano, Síria, Itália e Japão se fixaram nesta área e, hoje, são inúmeros os descendentes que nasceram em Iacanga, mas passaram a viver em Bauru, como é o caso, além dos Miziara, dos Hadba, Banuth, Haddad, Zakir, Trabulsi, Mattar, Cardoso, Bianconcini, Moretti, Ticianelli, Pagliari, Kurosawa e Tanaka. "O Michel Haddad e o Assaf Hadba, por exemplo, foram sócios na conhecida churrascaria H2, a melhor de sua época", acrescenta Olival.
De acordo com iacanguenses ouvidos pelo JC, a decisão por morar em Bauru, quase sempre, deve-se ao fato de a cidade ser polo regional, com mais oportunidades de estudos, emprego e expansão dos negócios. Porém, não deixam de manter contato com amigos e familiares e, sempre que possível, retornam à terra natal, como forma de cultivar raízes e resgatar a própria essência.
Locutor de rodeios e empresário, Jhonatan James Lopes de Almeida mora em Bauru há 15 anos, mas, até hoje, guarda grande afeto por sua cidade de origem - onde ainda vivem familiares e amigos - e orgulha-se por levá-la em seu nome artístico: Jhonão de Iacanga.
"Vim a Bauru por oportunidades de trabalho. Trabalhei uma época no ramo de transporte de medicamentos, mas, hoje, tenho uma marca de confecção country e pretendo levar a empresa para Iacanga. Sou iacanguense raiz, quero investir na cidade e, um dia, voltar a morar lá", relata ele, que vai todos os domingos ao município para apresentar um programa de rádio, ao vivo.
O prefeito Eli Cardoso reforça que o plano de aproveitar a maturidade e aposentadoria em Iacanga, citado por Jhonatan, já vem sendo concretizado por muitos que nasceram nela e constituíram família e carreira em outras localidades, como Bauru. Além disso, o fato de a cidade contar com estrutura turística também ajuda a fomentar visitas periódicas de ex-moradores, sendo que alguns são proprietários de chácaras localizadas às margens do Ribeirão Claro, afluente do Rio Tietê.
"Quem sai de Iacanga, normalmente, vai para lugares maiores, mas sente falta de uma rotina de mais sossego, de frequentar nossa prainha. É um lugar que, de forma definitiva ou não, a pessoa sempre quer voltar", completa.
Iacanga, que em Tupi significa “olho d’agua”, justamente começou a ser ocupada nas imediações do rio Ribeirão Claro. No início do século passado, tornou-se distrito de Pederneiras, sendo emancipada em 15 de abril de 1925. Os setores agropecuário, industrial e de prestação de serviços dividem o Produto Interno Bruto (PIB) da cidade, que ganhou repercussão nacional com o Festival de Águas Claras, conhecido como o Woodstock brasileiro, realizado nos anos 70 e 80. Também ganhou muito destaque a Festa do Peão de Boiadeiro, uma tradição.