REFERÊNCIA

90 anos de Lauro: do confinamento à referência mundial em hanseníase

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Tisa Moraes
José Ricardo Bombini, diretor da instituição (veja também foto no final)
José Ricardo Bombini, diretor da instituição (veja também foto no final)

Do asilo-colônia que serviu, em meados do século passado, para isolar pessoas com hanseníase, mais conhecida à época como lepra e cercada por estigmas, o hoje Instituto Lauro de Souza Lima (ILSL) se transformou em um centro de referência internacional no tratamento, ensino e pesquisa sobre a enfermidade. Com 90 anos de história celebrados na última quinta-feira (13), é, ainda, referência nacional para cuidar de pacientes com todo tipo de dermatose, ou seja, doenças de pele, incluindo psoríase e leishmaniose, por exemplo.

A unidade abriga, ainda, a maior biblioteca do mundo sobre hanseníase. Segundo o diretor da instituição, José Ricardo Bombini, atualmente, o ILSL recebe pacientes de todo o País com quadro mais grave da doença. E, além de realizar estudos científicos, também forma profissionais em cursos e especializações.

"Entre as pesquisas, estudamos, por exemplo, pacientes que apresentam resistência ou alergias à medicação. Recebemos amostras do Brasil inteiro e toda a parte de DNA da patologia é feita no Lauro. Temos projetos grandes em parceria com universidades dos Estados Unidos, Inglaterra", elenca, acrescentando que, durante o período mais crítico da pandemia, o instituto também processou mais de 150 mil exames de Covid-19.

ESTUDO

Entre os estudos em andamento, um dos maiores é o que está sendo realizado em parceria com a indústria farmacêutica Janssen. A empresa produziu um medicamento novo contra hanseníase, mais eficaz, com menor dose, tempo mais curto de tratamento e menos efeitos colaterais.

"Agora, nós estamos fazendo a validação desta droga, no Lauro. São pesquisas clínicas e há todo um protocolo a ser seguido, com uma série de itens em que o paciente precisa se enquadrar para ser selecionado e entrar no projeto. Agora, na fase 3, estamos aumentando o número de pacientes na pesquisa", comenta.

Fundado em 13 de abril de 1933 e posteriormente encampado pelo Estado, o Asilo-colônia Aymorés foi fruto de uma política isolacionista que visava conter a endemia da chamada lepra no Brasil. Como não havia tratamento efetivo à época, as pessoas infectadas eram marginalizadas da sociedade, abandonadas ou vítimas de preconceito e estigma. Mesmo com o isolamento e a impossibilidade de as famílias manterem contato, até mesmo os parentes sofriam discriminação e eram evitados por outras pessoas.

SULFONA

Como os asilados não podiam sair do local, foi construída toda uma estrutura, com igreja, escola e espaço de lazer onde eram realizados bailes e sessões de cinema. Foi só no início da década de 1940, quando médicos começaram a utilizar sulfona - tendo como um dos precursores o hansenologista Lauro de Souza Lima - que o cenário começou a mudar. Em 1946, a doença foi considerada curável e, em 1969, o isolamento compulsório foi extinto.

Houve um trabalho para possibilitar a ressocialização destes asilados, porém, nem todos conseguiram. Por isso, até hoje, o ILSL mantém casas onde vivem estes pacientes e suas famílias. "Muita coisa melhorou de lá para cá, mas, infelizmente, o preconceito ainda existe. Temos pacientes com grau de comprometimento neurológico grave - o que pode ocorrer até cinco anos após o início dos sintomas - que chegam sem diagnóstico, não só porque demoraram para buscar atendimento, mas também por desconhecimento de uma parcela dos médicos da assistência primária, que sequer suspeitam da doença", completa.

LINHAS DO TEMPO

O Asilo-colônia Aymorés foi idealizado em 1927, em uma iniciativa de 64 municípios da região Noroeste do Estado para a construção de local que pudesse abrigar e tratar pessoas com hanseníase. Na época, cada município se comprometeu a repassar 10% de sua arrecadação anual visando a realização das obras. A unidade foi efetivamente fundada em 1933, sendo transformada em Sanatório Aimorés, em 1949, e em Hospital Aimorés de Bauru, com o fim do isolamento compulsório, em 1969. Vinte anos depois, passou a ser denominada Instituto Lauro de Souza Lima.

Corpo clínico e funcionários do Lauro de Souza Lima (crédito: www.ilsl.br)
Corpo clínico e funcionários do Lauro de Souza Lima (crédito: www.ilsl.br)

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