O ex-presidente da Cohab Edison Bastos Gasparini Júnior chegou ao Fórum de Bauru, ontem (14), pouco depois das 13h. Estava cercado por seus advogados, que vieram de São Paulo para acompanhá-lo no interrogatório que marcou a última vez em que ficou frente a frente com o juiz Fábio Correia Bonini, titular da ação penal que o acusa de ter desviado R$ 54 milhões da companhia que presidiu.
Nem Gasparini e nem sua defesa conversaram com a imprensa na entrada e na saída do prédio. O advogado Leonardo Magalhães Avelar, que lidera a defesa do ex-presidente, afirmou que só se pronuncia por escrito. E reclamou da decisão do magistrado Bonini que autorizou jornalistas a acompanharem a audiência, iniciada por volta das 14h10.
Avelar antecipou ao juiz que seu cliente só responderia às perguntas da própria defesa. "É uma pena, pois tinha vários questionamentos a fazer também", disse o magistrado enquanto segurava um calhamaço de papel. "Mas é um direito", ressaltou. O único diálogo de Gasparini com Bonini ocorreu nas conversas preliminares.
Indagado sobre seu atual sustento, por exemplo, Gasparini afirmou que vive das liberações mensais de parte dos valores que estão bloqueados pela Justiça. "Também sou advogado, mas não estou exercendo", complementou. O advogado Avelar faria a primeira pergunta minutos depois - e pediu, numa espécie de abertura, para o ex-presidente relembrar sua trajetória profissional.
Gasparini comentou de seu pai, contou sobre sua influência na política e terminou o relato em 2019, quando deixou a liderança da Cohab em meio à Operação João de Barro. "Estávamos prestes a assinar o acordo [com as construtoras] e veio a operação", afirmou, em tom misterioso que sugeriu alguma ligação entre as duas coisas - o acordo e a busca e apreensão.
"Fiquei tanto tempo [na presidência da companhia] e isso pode ter incomodado [muita gente]", apontou Gasparini durante o interrogatório. Ele dirigiu a Cohab de 2005 a 2019.
O ex-presidente elogiou efusivamente sua gestão. E alfinetou o Ministério Público mais de uma vez. Disse, por exemplo, que suas viagens até Brasília aconteciam a trabalho, e não com a finalidade de lazer. "Ninguém ia para andar de lancha...", ironizou.
A denúncia do MP cita algumas viagens feitas por Gasparini, uma a Brasília, e mostra recibos de hotéis e passagens aéreas num indicativo de que a vida levada pelo ex-dirigente era incompatível à sua renda.
O advogado Avelar citou o termo "narrativa acusatória" em várias ocasiões do interrogatório para se referir às denúncias do Gaeco e reafirmar a inocência de seu cliente. Disse também sobre um rastreador encontrado no carro do ex-presidente em 2019, fato que é investigado no âmbito de um inquérito policial.
Gasparini disse na audiência que jamais tocou nos valores do seguro habitacional - fundo de onde ele desviava recursos, segundo o Ministério Público. E mais: afirmou que nunca se envolveu nas "atividades agropecuárias" de sua mulher, Izabel, e que não sabia direito a localização delas.
Uma das estratégias da defesa do ex-presidente foi frisar, sempre que possível, o termo "Federal" e "União" - medida que reforça a tentativa de Gasparini de levar o caso para a Justiça Federal.