COLUNISTA

Você é dente ou osso?

Por Alberto Consolaro | 02/04/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Professor Titular pela USP e Colunista de Ciências do JC

Reprodução

Às vezes, esquecemos de refletir sobre nós mesmos: dente ou osso?
Às vezes, esquecemos de refletir sobre nós mesmos: dente ou osso?

Temos 206 ossos e teremos um esqueleto novo a cada ciclo de 5 a 10 anos. Seria muito bom colecioná-los em casa, mas não é possível, pois os ossos renovam reabsorvendo e formando-se continuadamente, o que se chama remodelação ou turnover ósseo. Seria interessante mostrar os esqueletos anteriores aos amigos, mas não dá pois os ossos vão se adaptando a cada situação de vida em uma verdadeira metamorfose ambulante e constante.

OSSO E MEMÓRIA

No atleta, os ossos se adaptam e ficam maiores, mais densamente mineralizados e estruturados. Nos sedentários, eles ficam menores, mais finos e pouco mineralizados. Ossos atendem às necessidades. Os ossos são muito dinâmicos e se usar só uma parte do corpo, são os ossos dali que se adaptarão. Pela renovação óssea, as fraturas deixam marcas apenas nos primeiros anos e, depois do reparo, a remodelação óssea reformata o local e nem deixa mais sinais do que aconteceu ali.

O osso não tem memória e nem guarda mágoas e cicatrizes. Ossos esquecem o passado, vive do presente e o futuro, quando chegar, ditará as condições. O cérebro tem memória, mas pode guardar mágoas e tristezas, melhor seria esquecer as coisas ruins! Incrível, o cérebro, ao contrário do osso, não renova as suas estruturas, mas tem o dinamismo do pensamento que deveria evoluir. Só que a maioria das pessoas são muito fechadas com opiniões sobre tudo e com julgamento fácil como verdadeiros “gênios” da raça, também conhecidos como pedantes!

A renovação óssea é vital, pois mantem o sangue com os íons e minerais sempre nos níveis adequados para as células funcionarem. O cálcio, por exemplo, se ficar muito elevado no sangue provoca desconforto e muita dor na pessoa, como acontece nas pessoas com osteoporose e pacientes com câncer. Se contar que no interior dos ossos, se formam as células sanguíneas.

DENTES E OSSOS

Os dentes, como o cérebro não renova suas estruturas. Trincas, fraturas, cáries, reabsorções, manchas e outras situações são marcas para sempre. Mesmo que restaure e se aparente normal, uma radiografia, tomografia e ou exame clínico apurado revelará o acontecido. Mesmo com os materiais e técnicas maravilhosas que reconstroem os dentes, eles guardam mágoas eternas, mas o osso remodela-se sem guardar “ressentimentos”.

Até mesmo depois da morte o osso perdoa e os dentes, não! Para destruir os dentes precisa-se de temperaturas elevadíssimas como mil graus de calor. Os ossos depois de alguns poucos anos da morte, não estão mais lá onde foram sepultados, mas os dentes persistem lá!

REFLEXÕES FINAIS

1. Eu conheço pessoas que perdoam facilmente e esquecem as mágoas como fazem os ossos. São vidas leves, de coração e mente felizes. Os maravilhosos cães também são assim!

2. Mas, também conheço pessoas que se parecem dentes: cheias de mágoas, reclamam da vida, lembram a todo momento as coisas ruins e cada vez mais ficam feias sem perceber as coisas boas ao seu redor. Goethe disse que muitas vezes o que queremos, está embaixo do nariz e não percebemos, apenas quando perdemos.

3. Permita-me te questionar: a sua essência humana é mais parecida com o osso ou com o dente?

4. O adolescente perguntou para o avô se deveria ser firme e irredutível ou seria melhor ser resiliente e compreensivo. O sábio avô disse ao neto, abrindo sua boca: - eu tenho apenas alguns poucos dentes, mas a língua continua forte me ajudando a viver até o fim. Ser maleável, resiliente e se adaptar ao meio é um ato de sabedoria que a rigidez igual dos dentes não compreende e sucumbem muito cedo e com frequência.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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