COLUNISTA

Democracia

Por Hugo Evandro Silveira | 25/03/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Pastor Titular da Igreja Batista do Estoril

A democracia é vista como a melhor das opções num sistema de governo. Segundo a definição de Abraham Lincoln - "A democracia é o governo do povo, pelo povo, e para o povo". O conceito de democracia é invocado constantemente nos discursos políticos. Todos anseiam por democracia. Os políticos adoram qualificar suas ações como democráticas. Paradoxalmente, não poucas vezes, justificam suas medidas autoritárias como necessárias para defender justamente a democracia! Hilário, se não fosse trágico.

No caminho da maturidade devemos compreender que, apesar da democracia ser quase um objeto idolátrico de encantamento da grande maioria ocidental, não se trata de um sistema perfeito, imune às críticas. O estadista e primeiro ministro britânico Winston Churchill declarou: "A democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as demais". No mesmo sentido articulou o diplomata brasileiro Rui Barbosa: "A pior democracia é preferível à melhor das ditaduras."

Democracia é uma palavra mágica, que fascina e que, muitas vezes, impõe sobre seus súditos não uma luta pelo bem comum dentro do eixo igualitário, mas que esbraveja pela manutenção dela própria - com unhas e dentes - no custe o que custar. A teoria do igualitarismo democrático se esforça em sustentar uma hegemonia onde todos deveriam possuir os mesmos direitos; tendo por objeto a igualdade de condições entre todos os membros da sociedade, sob a liberdade de manifestação e respeito aos direitos civis e individuais de cada cidadão.

Contudo, na práxis, todos sabemos que não há igualdade. A ideia de uma sociedade igualitária, tendo como pano de fundo a democracia, é uma ficção, porque os seres humanos não são iguais. Inclusive é uma ilusão presente no conceito democrático o desprezo pela estrutura hierárquica presente na sociedade desde os primórdios. Em seu livro "Peso de Glória" (1945), C.S. Lewis abre um breve espaço para lidar com a democracia: "Creio na igualdade política, mas existem duas razões opostas para ser um democrata. Você pode pensar que todos os homens são tão bons que merecem participar do governo, e tão sábios, que a comunidade necessita de seus conselhos. Em minha opinião, essa é a falsa e romântica doutrina da democracia." C.S. Lewis não era contra a democracia; em sua trajetória sempre defendeu os pilares democráticos. Não obstante, demonstrou-se atento contra aquele pensamento de que os homens são bons, e que seus ideais são apropriados. Em outras palavras, ele entendeu que a democracia teria maior êxito se não partisse do princípio da boa fé do ser humano, mas da má fé. Em sua análise de mundo, a desconfiança deveria ser a base da democracia - afinal a liberdade tão propagada pela própria democracia nunca existiu de fato. O ser humano não é bom por natureza. É só observar: somos egoístas, orgulhosos, invejosos, ambiciosos, ávidos por poder, gananciosos, vorazes, mas externamos uma aparência de democráticos. Cabe aí uma desconfiança de nós mesmos, da nossa arrogante democracia. O homem por natureza é mau, corruptível e imperfeito. O poder humano corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente. Logo, apesar de enxergarmos a impossibilidade de uma democracia plena, concordamos que sua defesa é deveras importante na tentativa de frear a maldade e a violência. Por outro lado, embora concordemos com a defesa da democracia como ponto crucial, a democracia sob a expressão de uma realidade sólida e atuante não passa de uma ficção. Não entendam mal! Reiterando: A defesa da democracia é de vital importância - é ação protetora - medicamento de combate à nossa enfermidade social; mas não alimento, porque não a experimentamos de fato, não obstante uma ilusão.

É desnecessário dizer que as pessoas têm o mesmo valor. Se tomarmos a palavra 'valor' como se fossemos todos igualmente úteis, bonitos, bons ou divertidos — seria ilógico. Por isso mesmo que o valor infinito de cada alma humana não é uma doutrina cristã. Porque pensemos: Deus não morreu pelo ser humano por causa de algum valor que tenha percebido nele. O valor de cada alma humana, considerada simplesmente em si mesma, sem um relacionamento com Deus, é zero. Analisemos: "Morrer por pessoas de valor não teria sido divino, mas meramente heróico" - como tantos na história. Jesus fez o que nenhum herói é capaz de fazer: entregou a sua vida por pessoas, como eu e você, que diante do soberano Criador não possuem valor algum. Isso é divino! Pense nisso num mundo onde as pessoas estão digladiando para provar seu valor, sob a égide de que estão numa democracia, a fim de serem reconhecidos e valorizados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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