OPINIÃO

Filosofia do desejo

Por Hugo Evandro Silveira | 18/03/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril E-mail: hugoevandro15@gmail.com

Estamos sempre no caminho. Indo de um lugar ao outro. Invariavelmente, no processo do caminho há sempre uma relação pela busca da alegria. No processo do caminho do ponto B ao A, naturalmente nos locomovemos de um lugar ao outro, via de regra sob o desejo de alcançar a felicidade. A maioria de nós alimenta esse desejo de chegar a um lugar, que intrinsecamente associamos à felicidade: "Quando eu chegar a esse lugar serei feliz! Quando eu chegar a essa nova posição obterei paz!". Trata-se de uma movimentação espacial: sair de um lugar, de um ponto em direção a outro. A melhor forma de simbolizar a felicidade última que as pessoas tanto procuram é um lugar, uma posição. Entretanto o grande "insight" que a Bíblia revela é que a felicidade não se trata de um lugar, ou mesmo de uma posição existencial, mas de uma pessoa. Vivemos toda a nossa trajetória esperando alcançar em nosso caminho a felicidade atrelada a um ponto de chegada, como o da solteirice ao casamento; da pobreza à riqueza; de uma empresa à próxima; de uma conquista a outra, e assim por diante. Não obstante, o texto sagrado em sua revelação, de forma explícita, mostra que a plenitude da tal felicidade só é alcançada quando se encontra uma pessoa que é a mais pura expressão daquilo que chamamos de satisfação: Jesus Cristo, o Filho de Deus.

C.S. Lewis, o grande pensador britânico, em seu livro "Cristianismo Puro e Simples" filosofa quanto ao sentido do desejo satisfeito: "As criaturas não nascem com desejos que não possam ser satisfeitos. Um bebê sente fome; pois bem, há uma coisa chamada alimento. Um patinho deseja nadar; pois bem, existe uma coisa chamada água. Os homens sentem desejo sexual; pois bem, existe uma coisa chamada sexo. Se encontro em mim um desejo que nenhuma experiência deste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que fui feito para outro mundo. Se nenhum dos prazeres terrenos consegue me satisfazer de forma completa, isso não prova que o universo é uma fraude. Provavelmente os prazeres deste mundo nunca foram destinados a me satisfazerem, mas apenas se destinam a me despertar, a me insinuar que há um bem verdadeiro. Se é assim, é preciso tomar todo cuidado, por um lado, para nunca desprezar ou ser ingrato para com essas bênçãos terrenas e, por outro, para não as confundir com a verdadeira 'coisa' da qual elas não passam de uma espécie de cópia, eco ou miragem. Devo conservar vivo em mim o desejo por minha verdadeira pátria, que só encontrarei depois da morte; não devo nunca abafa-lo ou pô-lo de lado; o objetivo central da minha vida deve ser avançar rapidamente na jornada para essa outra pátria, e ajudar os outros a fazerem o mesmo". Lewis está argumentando que todo desejo humano pode ser satisfeito. Mas se há algum desejo no âmago de nossa alma que não se satisfaz pelas opções oferecidas nesta vida, a melhor explicação é que existe um mundo superior a este. Como se vivêssemos numa estação de transição, em sombras, em um arcabouço que não se configura em fraude, absolutamente, contudo sinais insinuantes da realidade que nesse mundo físico não temos acesso. Nesse sentido é que as Escrituras Sagradas apresentam o próprio Criador, na pessoa do seu Filho, como o protagonista da plena satisfação. Nas palavras de Santo Agostinho: "Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em Ti". Fomos feitos para Deus, o Criador, e regressamos para Ele, saciados em plena satisfação nEle: a realidade.

O esforço por compreender essa realidade que vai além do nosso lugar dói; trata-se de uma luta penosa contra a ignorância que quer nos prender ao lugar em que estamos, como se aqui zerasse a vida. Fugindo dessa luta, muitos estão confortáveis em suas cadeias ou jaulas, iludidos na presunção da felicidade última a ser desfrutada nesse mundo imperfeito. Nossa experiência humana, assim como suas conquistas, por melhores que sejam não representa a nossa realidade última. Jesus nos garante algo muito maior que nos aguarda e que deve impulsionar o nosso desejo - como disse Lewis, "avançar rapidamente na jornada para outra pátria, e ajudar os outros a fazerem o mesmo". Somente aqueles que "viram a chave" pela mensagem de Cristo é que descobrem no desejo de um estado feliz, a Pessoa. Através da Graça podemos chegar a Deus, pelo caminho que Ele próprio preparou: Cristo - "Eu Sou o Caminho ... ninguém vem ao Pai se não por Mim".

IGREJA BATISTA DO ESTORIL

60 anos atuando Soli Deo Gloria

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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