POLÍTICA

Antônio Izzo Filho: 'Errei ao brigar com promotor'

Em entrevista ao JC, Izzo Filho se diz injustiçado, avalia o cenário atual e não descarta concorrer nas eleições de 2024

Por André Fleury Moraes | 18/03/2023 | Tempo de leitura: 6 min
da Redação

André Fleury Moraes

Ex-prefeito Antônio Izzo Filho diz que possível retorno à política será discutido com a família
Ex-prefeito Antônio Izzo Filho diz que possível retorno à política será discutido com a família

Ele foi cassado, condenado, preso. Mas também foi absolvido em alguns dos processos a que respondeu. Em outros, enquanto isso, a tese de sua defesa não vingou. Não restaram alternativas que não fosse o cumprimento da pena.

Goste-se ou não, o ex-prefeito Antônio Izzo Filho, hoje sem partido, é um dos mais emblemáticos personagens da história política recente de Bauru. Começou a carreira política como secretário de Obras do governo Tuga Angerami, na época filiado ao MDB, de onde saiu para se tornar prefeito em 1988. Voltaria ao Palácio das Cerejeiras em 1997, após vencer, pela segunda vez, as eleições majoritárias de 1996. Mas não duraria muito tempo na prefeitura.

Cassado pela primeira vez em 1998 sob a acusação de omissão em denúncias de propina envolvendo seus assessores, Izzo retornou ao cargo em posse de uma liminar. Meses depois, já em 1999 e agora acusado de extorsão no caso ECCB, seria novamente cassado - desta vez em definitivo.

Hoje, quase 25 anos depois da maior turbulência política que Bauru viveu em décadas, o ex-prefeito não tem a menor dúvida: "Fui injustiçado".

Em entrevista ao JC, concedida em sua casa na última quinta-feira (16), Izzo voltou a se dizer inocente de todas as acusações, admitiu erros de sua gestão, criticou o Ministério Público e a Câmara Municipal da época e afirmou que está em busca de um partido para concorrer nas eleições do ano que vem. O mais difícil, apontou, é convencer a família de que voltar a disputar nas urnas é uma boa ideia. A seguir, os principais trechos da entrevista:

JC - O sr. foi cassado, condenado e chegou a ser preso. Num olhar atual, passados mais de 20 anos desde o início dos acontecimentos, qual foi seu maior erro, na sua avaliação?

Izzo - Abrir uma discussão pública com o promotor. Acho que esse foi o maior erro. Isso resultou nas punições que recebi.

JC - O sr. ainda considera que o Ministério Público "agiu com o fígado"?

Izzo - Com toda certeza. E não dá para dissociar a Promotoria do Poder Judiciário. Eles convivem todos juntos. As penas, na minha opinião, foram exageradas. Tanto que estão sendo revertidas. A primeira cassação foi revertida. A segunda ainda não foi totalmente reformada, mas foi uma cassação política.

JC - A segunda cassação, do caso ECCB, também teve desdobramentos na Justiça. O sr. chegou a ser condenado neste caso.

Izzo - Sim, fui condenado. Mas o que eles falaram? Dez anos depois que o processo foi ajuizado, a Justiça disse que estipularia minha pena em fase de cumprimento de sentença. Passaram-se mais de 20 anos desde então e isso não foi para frente. A acusação não se sustenta. Disseram que peguei dinheiro da ECCB, mas como? Não fui eu quem terminou a concessão da empresa. Tenho uma declaração das proprietárias, registrada em cartório, que me inocenta.

O que aconteceu neste caso foi muito mais uma falta de gestão. Eles tinham uma dívida milionária, impagável na minha opinião, e a documentação da empresa continha pendências. Tinham de regularizar para participar da licitação, não houve ameaças ou extorsões.

JC - Mas houve testemunhas neste processo que indicaram a forma como o pagamento ao sr. era realizado e também foram analisadas movimentações bancárias...

Izzo - Sim, mas quais eram as principais testemunhas? Eram a dona da empresa, a filha dela e um outro sujeito, contador, que depois desmentiu as acusações. O juiz perguntou a uma pessoa ligada à ECCB se a dona da empresa tirava dinheiro do caixa na época em que eu era prefeito. Isso se confirmou.

Questionou em seguida se ela continuava pegando dinheiro depois que eu saí. E isso também se confirmou. A empresa era dela, mas as retiradas nunca tiveram nada a ver comigo. Nenhuma pessoa isenta, imparcial, me acusou. Fui injustiçado.

JC - O sr. também teve algumas vitórias na Justiça. Foi absolvido no caso Mobaid e, mais recentemente, o TJ reformou sua condenação na ação movida pela própria prefeitura no caso dos lotes urbanizados.

Izzo - Até porque eram processos sem cabimento. O caso dos lotes urbanizados foi movido pelo governo Nilson Costa. Eram obras que eu iniciei com uma verba que veio do governo Collor, ainda no primeiro mandato, a fundo perdido.

JC - O sr. ficou preso quatro anos e em situação de prisão preventiva. Qual foi o momento mais difícil que passou na cadeia?

Izzo - O começo é a pior fase. Você fica longe da família, vem a solidão. É difícil. Cheguei a presenciar uma rebelião. Eu estava numa cela especial, não participei da revolta, evidentemente, mas vi gente queimando colchão nos corredores e fugindo da cadeia. O sofrimento é muito grande, só sabe disso quem passa pela situação.

JC - O sr. não tentou fugir junto, né [risos]?

Izzo - Claro que não [risos]. Estava disposto a cumprir minha pena, mesmo que não concordasse com ela.

JC - Na época de sua cassação houve muita mobilização. A Assenag chegou a publicar na Folha de S. Paulo um anúncio chamado "apelo ao Judiciário" pedindo a manutenção de seu afastamento. Falava-se sobretudo do crescimento de seu patrimônio.

Izzo - Meu patrimônio é o mesmo. Não cresceu. Moro na mesma casa desde sempre. Claro que houve muita especulação, mas não teve aumento patrimonial. Essa pressão da Assenag veio porque eu não nomeava os profissionais indicados por eles.

JC - Como o sr. enxerga a Câmara responsável por sua cassação? Acha que a falta de diálogo foi um de seus erros?

Izzo - Creio que sim. Como eu abri um embate com o promotor naquela época, ficou uma situação muito difícil. Os vereadores passaram a frequentar o gabinete do promotor. É, eu errei. Não deveria ter agido dessa maneira.

O Ministério Público chegou a fazer uma reunião no Obeid Plaza com todos os promotores da região. Então, não adiantaria eu pedir a suspeição deste ou de outro promotor.

JC - Como o sr. enxerga o governo Suéllen?

Izzo - Eu terminei o primeiro mandato em 1992. Naquele ano, tivemos um orçamento de R$ 90 milhões, bem menor do que o R$ 1 bilhão de hoje, ainda que com correção monetária. E as obras que temos hoje em Bauru, quando foram feitas? O calçadão veio em 1991. Naquela época fizemos Pronto Atendimento Infantil. Vejo que não há vontade de colocar os projetos em prática. Falta ação.

JC - O sr. pretende voltar à política para disputar as eleições do ano que vem? Como está sua situação perante a Justiça Eleitoral?

Izzo - Concorrer é uma vontade. A questão dos direitos políticos é o menor dos problemas, basta uma ação para resolver isso. Mas preciso avaliar a candidatura com minha família, especialmente meus filhos. E depois correr atrás de partido. Tem gente me sondando para disputar, vamos ver.

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