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27 de março de 2023

OPINIÃO

OPINIÃO

Uma conversa sobre Lavoisier, GPT e Asimov

Uma conversa sobre Lavoisier, GPT e Asimov

Por Renato Ghilardi - Prof. Livre-docente - Unesp - Bauru | 11/03/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Por Renato Ghilardi - Prof. Livre-docente - Unesp - Bauru


11/03/2023 - Tempo de leitura: 2 min

Durante essa semana um amigo, professor e pesquisador, me confessou sua preocupação com o tão em moda Chat GPT. De fato, e ele me mostrou isso, um parágrafo de um artigo científico pode ser reescrito pela Inteligência Artificial (IA) com o mesmo conteúdo mas com estilo diferente e, portanto, sem se configurar plágio. Lembrei de Lavoisier e sua máxima sobre nada se criar e sim tudo se transformar e ela aplicou-se perfeitamente a esse exemplo da morte da criatividade humana. Nas universidades, como sempre, a discussão ainda é muito crua e quando existe está mais preocupada em como evitar que os alunos utilizem o Chat GPT para realização de atividades como exercícios ou provas.

Ou seja, a discussão ainda é simplificada no patamar de novas metodologias de ensino. Contudo, mesmo com exemplos preocupantes no campo da pesquisa e do ensino, Lavoisier nunca imaginaria uma transformação tão premente como a que está ocorrendo e poucos estão percebendo: a não criação mais de indivíduos, na concepção mais filosófica que esse termo possa ter, mas sim a transformação de todos em uma única massa disforme não pensante. Vejam, não é de hoje que temos essas "forças externas" que controlam o que devemos pensar. Considero dois os grandes momentos da história que se relacionam a isso e que são verdadeiras revoluções de costumes.

O primeiro foi o surgimento da moderna propaganda, no início do Séc. XX, com Edward Bernays que era sobrinho nada mais nada menos que de Freud e que, utilizando de conceitos de comunicação e psicologia, conseguia com que feministas fumassem achando que isso era um ato de liberdade, por exemplo. O segundo é o surgimento do próprio Chat GPT que, certamente, abrirá o caminho para outras IAs que conviverão diariamente com as gerações futuras. E é aqui que deveríamos estar discutindo como proceder! Explico: hoje, como nunca, vivemos uma cultura onde há uma produção massiva de conteúdo, principalmente digital.

O grande "deus consumo" mora agora no ambiente virtual e é lá que é necessária a boa peleja entre influenciadores versus influenciados. Nessa guerra quem produz em grande volume e rapidamente tem maior chance de ser visto e de influenciar. O Chat GPT está facilitando o caminho de grande parte desses influenciadores na produção de seus conteúdos ou vocês não perceberam que ininterruptamente de uns tempos para cá o que mais existe na internet são as listas de ranqueamento do tipo "top 10 de alguma coisa". Reflexos torpes de muita falta de criatividade e muito uso de algoritmos de busca.

Apesar dos algoritmos se modificarem no tempo de acordo com as demandas dadas a ele, ainda assim ele é criado e controlado por um ser humano que pode ser contratado por uma grande empresa ou até mesmo por um estado-nação. Queremos chegar em um ponto onde empresas ou estados alimentem as IAs?

Se isso ocorrer não seremos mais influenciados pelos influenciadores mas pelas próprias IAs transformando (e não criando!) nossa vida em um verdadeiro devaneio de Isaac Asimov.

Durante essa semana um amigo, professor e pesquisador, me confessou sua preocupação com o tão em moda Chat GPT. De fato, e ele me mostrou isso, um parágrafo de um artigo científico pode ser reescrito pela Inteligência Artificial (IA) com o mesmo conteúdo mas com estilo diferente e, portanto, sem se configurar plágio. Lembrei de Lavoisier e sua máxima sobre nada se criar e sim tudo se transformar e ela aplicou-se perfeitamente a esse exemplo da morte da criatividade humana. Nas universidades, como sempre, a discussão ainda é muito crua e quando existe está mais preocupada em como evitar que os alunos utilizem o Chat GPT para realização de atividades como exercícios ou provas.

Ou seja, a discussão ainda é simplificada no patamar de novas metodologias de ensino. Contudo, mesmo com exemplos preocupantes no campo da pesquisa e do ensino, Lavoisier nunca imaginaria uma transformação tão premente como a que está ocorrendo e poucos estão percebendo: a não criação mais de indivíduos, na concepção mais filosófica que esse termo possa ter, mas sim a transformação de todos em uma única massa disforme não pensante. Vejam, não é de hoje que temos essas "forças externas" que controlam o que devemos pensar. Considero dois os grandes momentos da história que se relacionam a isso e que são verdadeiras revoluções de costumes.

O primeiro foi o surgimento da moderna propaganda, no início do Séc. XX, com Edward Bernays que era sobrinho nada mais nada menos que de Freud e que, utilizando de conceitos de comunicação e psicologia, conseguia com que feministas fumassem achando que isso era um ato de liberdade, por exemplo. O segundo é o surgimento do próprio Chat GPT que, certamente, abrirá o caminho para outras IAs que conviverão diariamente com as gerações futuras. E é aqui que deveríamos estar discutindo como proceder! Explico: hoje, como nunca, vivemos uma cultura onde há uma produção massiva de conteúdo, principalmente digital.

O grande "deus consumo" mora agora no ambiente virtual e é lá que é necessária a boa peleja entre influenciadores versus influenciados. Nessa guerra quem produz em grande volume e rapidamente tem maior chance de ser visto e de influenciar. O Chat GPT está facilitando o caminho de grande parte desses influenciadores na produção de seus conteúdos ou vocês não perceberam que ininterruptamente de uns tempos para cá o que mais existe na internet são as listas de ranqueamento do tipo "top 10 de alguma coisa". Reflexos torpes de muita falta de criatividade e muito uso de algoritmos de busca.

Apesar dos algoritmos se modificarem no tempo de acordo com as demandas dadas a ele, ainda assim ele é criado e controlado por um ser humano que pode ser contratado por uma grande empresa ou até mesmo por um estado-nação. Queremos chegar em um ponto onde empresas ou estados alimentem as IAs?

Se isso ocorrer não seremos mais influenciados pelos influenciadores mas pelas próprias IAs transformando (e não criando!) nossa vida em um verdadeiro devaneio de Isaac Asimov.

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