GERAL

Rendimentos da classe média foram os mais afetados pela pandemia de Covid

Ainda assim, a cidade de Bauru figurou entre as 10% mais ricas do País, considerando as que possuem mais de 50 mil habitantes

Por Tisa Moraes e Folhapress | 25/02/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Ricardo Borges/Folhapress

Economista Marcelo Neri: empobrecimento da classe média agravou a desigualdade no Brasil
Economista Marcelo Neri: empobrecimento da classe média agravou a desigualdade no Brasil

A classe média foi a que mais perdeu renda durante parte da pandemia de Covid-19, provocando aumento da desigualdade de renda no Brasil. Entre os mais pobres, os rendimentos mantiveram-se praticamente inalterados, graças, principalmente, ao pagamento do Auxílio Emergencial.

Trata-se de uma realidade nacional, que também se aplica a Bauru. Porém, mesmo com os impactos, a cidade figurou entre as 10% mais ricas do País, considerando os municípios com mais de 50 mil habitantes.

Elaborado pela FGV Social com base em declarações de Imposto de Renda (IR) de 2020 e na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o levantamento mostra que a classe média - formada por pessoas com mais renda do que os 41% mais pobres e com menos do que os 10% mais ricos - perdeu 4,2% de seus rendimentos no primeiro ano da pandemia. Entre os 10% mais ricos, a queda foi mais do que três vezes menor, de 1,2%. Já entre os 41% mais pobres, houve um pequeno ganho, de 0,2%.

Segundo o economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, ao contrário do que se imaginava, em função do Auxílio Emergencial que chegou a até 67 milhões de pessoas, a desigualdade de renda não caiu no Brasil em 2020, mas foi agravada em razão do empobrecimento da classe média. A pesquisa também buscou identificar a localização geográfica dos municípios mais abastados do País, considerando os rendimentos de declarantes do IR, divididos pela população total de cada cidade.

RANKING

E, no ranking das 677 localidades brasileiras com mais de 50 mil habitantes, Bauru ficou na 64.ª posição, ou seja, entre os 10% mais ricos. A renda média dos moradores da cidade é de R$ 1.994,00 mensais, acima da média nacional (R$ 1.310,00) e um pouco abaixo da do Estado, região economicamente mais dinâmica do País, com R$ 2.093,00.

Já o patrimônio líquido médio do bauruense - ou seja, a riqueza declarada no IR, dividida por toda a população - é de R$ 72.985,00, incluindo bens como imóveis, veículos e ativos financeiros, entre outros. "É uma cidade localizada no Estado mais rico da federação e, provavelmente, possui uma maior proporção de pessoas de classe média alta, a chamada classe média tradicional, que possui um padrão de vida semelhante ao da classe média norte-americana", descreve Neri.

Entre as unidades da federação, o topo do ranking foi ocupado pelo Distrito Federal, que possui grande concentração de funcionários públicos e alcançou renda média de R$ 3.148,00, mais que o dobro da média nacional. O DF também registra maior patrimônio por habitante, de R$ 95 mil.

Perda de empregos e fechamento de negócios foram principais motivos

O fechamento de vagas de emprego e os prejuízos financeiros sofridos por muitos negócios foram as principais causas da perda de renda da classe média em Bauru entre 2019 e 2020. E, como serviços e comércio compõem 70% da matriz econômica da cidade, foram trabalhadores e empreendedores destes segmentos os mais afetados, conforme avalia o economista Reinaldo Cafeo.

"A inflação não foi um componente para o achatamento da renda naquele primeiro ano de pandemia, já que o índice foi baixo (4,52%), assim como foi o da taxa básica de juros (2%). Foi um ano de recessão. O desequilíbrio na economia só veio em 2021, com a inflação escalando", pontua.

Para o economista, algumas características da cidade, em termos de trabalho, ajudaram a colocá-la em uma posição de destaque entre as mais ricas. Uma delas é o grande volume de funcionários públicos atuando nas esferas municipal, estadual e federal.

"Mesmo aquele que trabalha na base da pirâmide na prefeitura já recebe, de saída, R$ 1 mil de vale-alimentação. Além disso, parte da população é de servidores aposentados, que estão recebendo seus benefícios com base nas boas remunerações ofertadas pelo setor público no passado", descreve.

A cidade abriga, ainda, um grande contingente de profissionais liberais, como advogados, economistas, contadores, arquitetos e engenheiros, além de médicos e empresários, entre outros. "Por outro lado, muitos empreendedores perderam patrimônio ou se endividaram na pandemia. Só não tivemos um problema maior porque a geração de empregos no segmento de recuperação de crédito acabou, de certa maneira, compensando", aponta.

Mas, apesar da existência consistente destes profissionais, muitos deles pertencentes à classe A (com renda mensal domiciliar superior a R$ 22 mil), Cafeo lembra que Bauru tem predominância de moradores de classe média e média baixa, que possuem renda familiar entre R$ 2,9 mil e R$ 7,1 mil. Segundo a pesquisa IPC Maps, elaborada pela empresa especializada em informações de mercado IPC Marketing, no ano passado, a projeção era de que 52,2% dos domicílios bauruenses correspondiam à classe C. Outros 28,4% pertenciam à B; 15,6% às camadas D e E; e 3,8% à A.

Economista Reinaldo Cafeo: características da cidade a ajudaram (Valcir Alves Benício/Divulgação)
Economista Reinaldo Cafeo: características da cidade a ajudaram (Valcir Alves Benício/Divulgação)

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