DINHEIRO

'Vilões', pequenos gastos consomem até metade do orçamento das famílias

Alerta parte do presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira, Reinaldo Domingos

Por Marcele Tonelli | 29/01/2023 | Tempo de leitura: 4 min
da Redação

Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Sustentabilidade financeira pode ser inviabilizada quando não há domínio sobre o consumo, destaca Domingos
Sustentabilidade financeira pode ser inviabilizada quando não há domínio sobre o consumo, destaca Domingos

A saideira no bar, os sorvetes não planejados, a plataforma de streaming paga e pouco usada, aquelas cobranças indevidas em faturas não checadas e até a TV ligada para ninguém e o banho longo. São várias as situações que, literalmente, abocanham o salário das famílias, transformando pequenos gastos em grandes 'buracos' nas contas, no fim do mês. E é justamente com foco em trazer reflexão sobre esse consumo considerado inconsciente que a Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin) alerta: as pequenas despesas têm consumido até 50% do orçamento mensal das famílias.

Considerados 'vilões' justamente por passarem despercebidos, estes desembolsos proporcionam desfalques significativos, que só pioram se projetados em longo prazo.

"As pessoas estão acostumadas a se preocuparem com as altas despesas, mas o grande foco deveria estar nos pequenos gastos que engolem o orçamento. Quando você percebe, a fatura do cartão já está nas alturas e seu salário foi minado com coisas que você nem lembra que gastou, porque sempre parte de uma atitude inconsciente", observa o presidente da Abefin, Reinaldo Domingos.

A perda de poder aquisitivo e a alta de preços vivenciadas nos últimos anos no Brasil tornam ainda mais necessária a luta contra essas 'ciladas' por meio da educação financeira.

"É na falta de domínio do consumo que está o problema. Os pequenos gastos de forma prolongada e a falta de planejamento vão inviabilizando a sustentabilidade financeira. E fazem ainda mais diferença se formos pensar lá na frente, quando você for se aposentar e perceber o quanto gastou sem necessidade", acrescenta.

FAXINA FINANCEIRA

Despesas com alimentos comprados em excesso no mercado e o lanche que poderia ter sido feito em casa, ao invés de comprado por aplicativo, com embalagens que custam caro e serão jogadas fora: esses são alguns outros exemplos de 'vilões'.

"Aqueles R$50,00 semanais para gastos evitáveis das crianças viram R$ 200,00 por mês, R$ 2,4 mil no ano e R$ 24 mil em 10 anos", ilustra.

Uma das práticas que ajudam a evitar o comprometimento da renda da família com os excessos é a chamada "faxina financeira", que nada mais é do que prestar a atenção e anotar todos os gastos para ter ideia do que pode ser cortado.

Outro olhar, segundo Domingos, deve estar sobre o extrato bancário mensal e sobre a descrição de faturas, que podem conter serviços e cobranças indevidas. "Muitas empresas tem faturado com a desatenção dos consumidores", alerta.

OBJETIVOS

A Abefin estimula um consumo mais consciente nos lares, especialmente como forma de educar as novas gerações para o uso do dinheiro.

Para isso, Domingos ensina que é preciso traçar objetivos e propósitos claros quanto às despesas, prevendo a realização de sonhos individuais e coletivos da família, com prazos estipulados para praticá-los, como forma de contrapartida. Uma viagem desejada ou um carro novo, por exemplo, são metas que podem ajudar a convencer sobre o "não".

"É uma completa mudança de postura, você deixará de ser um mero pagador de contas para se transformar em um realizador de sonhos. Isso sim será um bom negócio", ensina Domingos.

"Tempo é dinheiro"

Outra recomendação feita pela Abefin é quanto ao uso do tempo. "Quanto tempo você passa respondendo grupos no WhatsApp? Ao gastar uma hora olhando bobagens no celular de manhã, à tarde e à noite, você poderá ter perdido três horas de um dia todo, que poderia ser mais produtivo. E tempo é dinheiro", aponta.

Elimine os 'ladrões' da sua renda

- Converse com a família, pois a solução dependerá da mudança de postura de todos;

- Faça um diagnóstico financeiro: anote e discrimine de forma detalhada todos os seus gastos durante o mês. Isso permitirá que você descubra para onde tem ido seu salário;

- Com o diagnóstico feito, trace um orçamento financeiro contendo as seguintes informações: ganhos, despesas fixas da família e gastos considerados supérfluos;

- Anote ainda o quanto pretende guardar com a economia projetada e em quanto tempo pretende resgatar o valor;

- O orçamento em questão será seu parâmetro para definir o que poderá ser reduzido, eliminado e priorizado.

Comemorações concentradas em um só local

Mãe de cinco filhos, a vendedora Liliane Fernandes, 43 anos, tem tentado cortar pequenos gastos, desde setembro de 2022, para equilibrar as contas e possibilitar que a família continue viajando nos fins de ano. Além de reduzir as saídas para comer fora com os filhos, ela tem freado seus momentos de lazer sozinha com amigos, economizando assim mais de R$ 200,00 semanalmente.
“Antes, eu frequentava bares, pelo menos, uma vez na semana para distrair. Tinha o costume de sair de um bar e passar em outro, mas, agora, tenho concentrado tudo em um local e saído só a cada 15 dias. Também reduzi a quantidade que bebia, tenho dispensado as ‘saideiras’”, conta ela. “O dinheiro que sobra vai para as compras de mercado, que encareceram. E o restante guardo para viagens”, finaliza.

Para frear gastos, Liliane Fernandes tem programado momentos de lazer a cada 15 dias; na foto, ela brinda com seu primo, Fernando Camargo / Foto: Marcele Tonelli
Para frear gastos, Liliane Fernandes tem programado momentos de lazer a cada 15 dias; na foto, ela brinda com seu primo, Fernando Camargo / Foto: Marcele Tonelli

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