OPINIÃO

Quando o Mundial virou obsessão

25/12/2022 | Tempo de leitura: 4 min

No dia 13 de dezembro de 1992, o São Paulo levantou o troféu de campeão mundial de clubes. A conquista veio lá do outro lado do planeta, no Japão, mais precisamente no Estádio Nacional de Tóquio. A efeméride tricolor foi celebrada em meio à Copa do Mundo, que ocorreu em época diferente neste ano, e pode não ter tido o destaque merecido. Porque o feito são-paulino foi, perdão pelo clichê, um "divisor de águas" no futebol brasileiro. A partir dali, Libertadores e Mundial se tornaram obsessão de nossos clubes. O tal "Projeto Tóquio" permeou os anos seguintes e esta mudança de comportamento definiu o que temos atualmente no cenário nacional da modalidade.

O primeiro dos três Mundiais do São Paulo foi a coroação de uma trajetória que o clube construiu com os títulos do Campeonato Brasileiro de 1991 e da Libertadores de 1992. O Tricolor encarou o poderoso Barcelona na decisão em Tóquio. Antes, em uma prévia da final do Mundial, as duas equipes haviam se enfrentado no Torneio Teresa Herrera, no Estádio Riazor, em La Coruña, na Espanha, na definição do título. Os brasileiros, que excursionavam pela Europa, foram campeões em cima do Barcelona com uma sonora goleada por 4 a 1, com gols de Müller, Maurício e Raí (2) - Salinas fez o dos catalães -, no dia 15 de agosto do mesmo ano. Duas semanas após a conquista do Tereza Herrera, o São Paulo goleou também o Real Madrid, desta vez por 4 a 0, faturando ainda o Troféu Ramón de Carranza.

O feito

Mas voltando ao adversário da final do Mundial, menos de quatro meses depois do Teresa Herrera, as equipes se perfilaram no gramado da capital japonesa e o temor da torcida são-paulina era de que o Tricolor tivesse "gastado" os gols no torneio espanhol. O Barcelona, como sempre, ostentava um elenco estelar, com nomes como Zubizarreta, Ferrer, Ronald Koeman, um certo Guardiola, Stoichkov, Michael Laudrup... dirigidos pela lenda Johan Cruyff. Era uma parada difícil e a imprensa internacional, como sempre, apontava o time sul-americano como "zebra".

E o começo do jogo aumentou a tensão. Stoichkov abriu o placar para os catalães logo aos 12 minutos. Já era difícil... Mas o São Paulo não se abalou e jogou futebol digno de campeão mundial. O time brasileiro reagiu e virou a partida com dois gols de Raí. O primeiro após grande jogada de Müller, que cruzou para gol de barriga do capitão são-paulino, aos 27 ainda da primeira etapa. O segundo em cobrança de falta magistral, aos 34 minutos do período complementar. A comemoração, inesquecível, com o mestre Telê Santana, que finalmente teve a justiça que sempre mereceu e foi campeão mundial.

A realidade é que aquele São Paulo era, de fato, o melhor time do mundo naquela ocasião. Algo raríssimo para os clubes sul-americanos. E o Tricolor confirmou isso no ano seguinte, superando o Milan e conquistando o bicampeonato. Mas isso é assunto para outro texto. Na histórica partida diante do Barcelona, o São Paulo jogou com Zetti; Vítor, Adílson, Ronaldão e Ronaldo Luís; Pintado, Toninho Cerezo (Dinho), Raí e Cafu; Palhinha e Müller. Todos sob o comando de Telê Santana. E Raí fez jus, naquela temporada, a ser apontado como melhor jogador do mundo. Mas quando um futebolista atuando na América do Sul ganhou o prêmio?

Nova prioridade

Não é exagero dizer que o título são-paulino criou um "paradigma" no futebol brasileiro. Até os anos 1980, a disputa da Libertadores e, consequentemente do Mundial, não era uma obsessão. Passou a ser. O torneio continental ganhou uma relevância nunca antes vista - os brasileiros, ao contrário de argentinos e uruguaios, não consideravam a Libertadores a prioridade antes. Passaram a considerar. Todas as torcidas nacionais começaram a ambicionar de forma veemente "ganhar o mundo".

O resultado disso foi uma ofensiva nacional nas décadas seguintes que culminou com conquistas internacionais de vários dos nossos grandes, inclusive o São Paulo, que chegou ao tri em 2005. O Mundial passou por mudanças de formato, mas os times brasileiros seguem com o sonho e projetos de alcançar a glória planetária. A Fifa planeja uma alteração radical no torneio a partir de 2025. Mas a torcida são-paulina, pelo menos até lá, pode se orgulhar e dizer que "ainda não inventaram Mundial que o São Paulo não pudesse ganhar".

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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