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Dançar não pode! É desrespeitoso e "macaquice". Provocar? Não sabe ganhar! Tem que seguir um padrão, afinal, "na América do Sul, o futebol não é tão avançado quanto na Europa". Nesta Copa do Mundo do Catar, não faltaram dedos apontados e palavras ácidas ao comportamento sul-americano. Tentam nos moldar, nos tolher, tentam nos colocar em um "padrão de qualidade", de comportamento. Tentam anular nossa identidade. Mas ela é invencível.

O Brasil, dançando, humilhava o adversário. Quem julgou será que conhece um pouco da cultura brasileira? Os argentinos provocaram os holandeses quando venceram. Não têm estatura para ganhar, cravou a imprensa europeia, sobretudo britânica. Ou devolveram a provocação? É certo ou errado? Não sei, mas os "hermanos" são assim. A quem cabe julgar um momento de catarse depois do jogo? Após o fim, repito. Não durante. Há um padrão para se comemorar?

O goleiro Emiliano Martínez fez um gesto obsceno com o troféu de melhor da posição no Mundial (não é a primeira vez). Eu não gosto, mas ele explicou que devolveu, à sua maneira, as vaias e perseguição que sofreu dos franceses ao longo da partida e disse que "soberba com ele não desce". Voltando no tempo, Luis Suárez morde, faz pênalti, é expulso e celebra a classificação de sua "Celeste", não necessariamente nesta ordem. A alma uruguaia que nós conhecemos tão bem e é tão difícil de enfrentar.

Não adianta, como Mbappé declarou, a Europa ter um futebol mais avançado. E entendo a observação, porque é óbvia. A relação poder financeiro e organização faz, sim, do Velho Continente o "centro do mundo do futebol" indiscutivelmente. Mas é preciso cautela, o futebol nos pertence e nós pertencemos a ele. Nós, sul-americanos, latino-americanos. O título da Argentina é um "nós estamos aqui". E competimos de igual para igual. São dois títulos e três finais nas últimas seis edições de Mundiais. O placar geral está 10 "para nós" e 12 "para eles". Nada mal.

Não adianta querer, como no clássico distópico "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, resgatar, civilizar "o selvagem". O talento, o temperamento, a raça, o cerne transgressor e indomável sul-americano, é impossível de anular. É legítimo. À nossa maneira, erraticamente ou não, nós também somos o futebol.

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