A 'última fronteira'

Por Wagner Teodoro |
| Tempo de leitura: 4 min

Final de Copa do Mundo. América do Sul x Europa. O confronto clássico entre os dois continentes que dominam o mundo da bola. Havia um histórico equilíbrio entre as forças do Sul e do Norte, que vem sendo quebrado recentemente com hegemonia europeia - já persiste há quatro mundiais. São títulos consecutivos e a América do Sul, de fato Brasil e Argentina, buscam quebrar esta escrita.

A Copa do Mundo é desmerecida por alguns torcedores, mais identificados com seus clubes. Entendo esta predileção, afinal, o "time da gente" é que nos acompanha ao longo da vida, e vice-versa, na alegria, na dor... O time chega a ser parte do que somos. Para quem gosta de futebol, o time é, sim, um dos grandes amores da vida. E traz consigo glória e frustração. Sofrimento e júbilo moldam uma relação que se torna indestrutível ao longo dos anos.

Mas amar seu clube não precisa excluir o sentimento e torcida pela seleção nacional. A seleção, meus amigos, no atual cenário, é a "última fronteira". Nossa derradeira linha de defesa e autoestima sul-americana. É o único momento no qual podemos entrar em campo e encarar o poder financeiro europeu de igual para igual. Não sei quem será campeão neste domingo (18), mas sei que ambos os finalistas entram em iguais condições: Argentina e França.

O futebol brasileiro e argentino vivem, nas Copas, a situação ímpar que não existe mais mundo dos clubes. Com as nossas seleções, somos potência. Nossos craques, que acompanhamos pela TV nas grandes ligas do Velho Continente, estão envergando os mantos tradicionais. E são camisas que impõem respeito, sim. E a qualidade, o talento, sul-americanos seguem inegáveis, sim.

Se pegarmos um recorte dos últimos 20 anos, período razoável para análise, temos um título do Brasil, em 2002, e duas finais da Argentina: 2014 e 2022. Nada mal. Lembremos que são dois países da América do Sul "contra" em torno de uma dezena de europeus com reais condições de título. Se voltarmos um pouquinho mais, teremos uma época de ouro dos sul-americanos, com quatro finais consecutivas (1986, 1990, 1994 e 1998) e dois títulos (94 para o Brasil e 86, Argentina). É justamente este hiato, um jejum de 36 anos, que a Argentina tenta quebrar neste domingo. Além de romper outra seca, a de 20 anos sem título "meridional"

Tende a piorar

A Fifa anunciou novo formato para o Mundial de Clubes, a partir de 2025. Seja qual for o sistema de divisão de vagas e de disputa, deve ser a "pá de cal" em qualquer pretensão de título dos clubes sul-americanos. Em outras palavras, quem ganhou, ganhou; quem não ganhou, não ganha mais. Salvo alguma campanha épica de uma equipe daqui, vencendo gigantes financeiros, derrubando elencos com selecionados mundiais em sequência. Algo difícil de acreditar.

O Mundial vai ser realizado de quatro em quatro anos e serão 32 times. Talvez oito grupos com quatro equipes cada. Daí, oitavas, quartas, semifinais e final. É apenas uma simulação. Nenhum detalhe foi divulgado ainda. Mas, passando de fase, os sul-americanos podem ter um caminho com Manchester City, PSG, Bayern de Munique e Real Madrid, por exemplo, ao longo do mata-mata. É possível ser campeão sem um milagre?

Portanto, a Copa do Mundo é e continuará sendo a oportunidade da gente igualar. De ter nosso poderio a serviço nacional. É a hora da "Amarelinha" e da "Albiceleste" ter o mesmo ou maior peso do que as camisas europeias. É quando nossos craques, levados daqui cada vez mais cedo, transformando nossos clubes em exportadores de commodities, voltam para serem os heróis ou vilões, mas defendendo suas nações.

Não se trata de ufanismo. Mas, apesar de toda lama na qual chafurda o futebol, ainda é lindo ver Messi se emocionando, dando cada gota de suor e talento pela Argentina. E assim foi com tantos craques brasileiros ao longo da história e mesmo nesta edição do Mundial. A Seleção pode ter errado, mas não faltou comprometimento e vontade.

Há algum tempo, a relação povo/Seleção mudou. Esfriou. A distância dos craques, os seguidos fracassos em Copas do Mundo, o fatídico 7 a 1... Mas não se enganem, no mundo do futebol, com nossos clubes em completa desvantagem financeira (boa parte com cofres totalmente combalidos), as seleções são nossa última fortaleza.

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