GOLPE

Golpe do falso advogado continua e vítima chega a perder R$ 110 mil

Por Larissa Bastos | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Samantha Ciuffa/JC Imagens
Advogado Ivan Goffi critica a impunidade dos estelionatários
Advogado Ivan Goffi critica a impunidade dos estelionatários

Um crime bem estruturado e que tem como pilares tanto a confiança das vítimas em seus advogados quanto informações reais obtidas em processos judiciais resultou em um prejuízo de cerca de R$ 110 mil a uma moradora de Bauru, recentemente. E ela é não é única vítima, nos últimos meses, dos estelionatários que continuam aplicando o chamado 'golpe do falso advogado'.

Conforme o JC já alertou, os criminosos, por meio do site do Tribunal de Justiça (TJ), acessam causas - que não tramitam em segredo de Justiça - para descobrir dados sobre as partes envolvidas, como número do processo e nomes completos, bem como quem é o advogado que as defende.

Depois, criam perfis falsos desses profissionais do Direito e contatam os clientes por aplicativo de mensagens, solicitando o pagamento de taxas para a liberação de supostas quantias em dinheiro referentes a processos judiciais, como precatórios.

POR MENSAGENS

E foi exatamente isso que aconteceu com uma moradora de Bauru, que pediu para ter a identidade preservada por temer represálias.

Ela conta que, no final do mês passado, recebeu mensagem de uma pessoa que se passava pela secretária do advogado bauruense Ivan Garcia Goffi, seu defensor. "Ela enviou um ofício com todas as informações de um processo já ganho em meu nome. Me orientou a entrar em contato com o doutor Ivan e mandou o número dele", narra.

No entanto, o celular enviado a ela não pertencia ao advogado, mas sim aos golpistas. E a tal secretária também era falsa. "Quando fiz o contato, ele me pediu a primeira importância para adiantar os valores do processo. E, como eu conheço o doutor Ivan desde criança e tinha uma foto dele no perfil, nem desconfiei. Depois, ele enviou o mesmo ofício com valores alterados, alegando que, por eu ter mais de 60 anos, a minha indenização seria maior se eu pagasse outra taxa. E foi escrevendo outras justificativas para que eu enviasse mais dinheiro", lembra a vítima.

Além de usar a foto do profissional do Direito, a mulher relata que os criminosos, de alguma forma, tiveram acesso a informações sobre a vida pessoal dela e do próprio advogado, que eram mencionadas durante a conversa, o que colaborou para que ela não suspeitasse de um golpe.

"Até que chegou um ponto que eu já tinha enviado cerca de R$ 110 mil por transferências e não tinha mais dinheiro. Ainda sem suspeitar de nada, contei a situação para o meu filho, que foi checar onde ficava a agência bancária para onde eu enviava os valores. E era uma agência de Fortaleza, não de Bauru. Foi aí que me dei conta de que tinha caído em um golpe", lamenta a vítima, que registrou boletim de ocorrência (BO) em 25 de novembro último.

MAIS CASOS

E este caso, infelizmente, não foi o único em Bauru. O advogado Ivan Garcia Goffi conta que, nos últimos dois meses, ao menos 40 de seus clientes foram contatados por golpistas, sendo que outra mulher perdeu aproximadamente R$ 5 mil. Indignado com a situação, o profissional chegou a contatar os criminosos se passando por um cliente dele.

"Quando dei um nome aleatório, eles já tinham, em um minuto, todas as informações do processo e o valor que essa pessoa tinha a receber. Os deixei falarem aquele monte de asneira jurídica, usando palavras difíceis que não fazem sentido algum. Até que, quando falaram do depósito, eu me identifiquei. A pessoa do outro lado começou a dar risada e perguntou 'gostou da nossa foto?', 'como é que está a nossa mãe?'. Ou seja, vasculharam a minha vida para saber até da minha mãe e ainda virei chacota. E a certeza de impunidade é tanta que, mesmo assim, eles não desativaram o número e sequer mudaram os dados", detalha.

O advogado afirma que denunciou alguns casos à polícia, no entanto, ele critica o empenho para esclarecer esses crimes. "O que é mais comum entre os clientes que me contataram é a descrença no trabalho da Polícia Civil. Infelizmente, eles dizem que não têm nem vontade de levar adiante as denúncias porque acreditam que as investigações não avançam. A sensação de impotência é maior", completa Goffi.

POLÍCIA CIVIL RESSALTA IMPORTÂNCIA DE VÍTIMAS REGISTRAREM BO

Coordenador do Setor de Investigações Gerais (SIG) da Polícia Civil de Bauru, o delegado Alexandre Protopsaltis ressalta que, apesar de as apurações de crimes cibernéticos serem bastante morosas e burocráticas, ainda é essencial que as vítimas registrem BO pessoalmente na delegacia ou por meio da Delegacia Eletrônica (http://www.delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br).

"Esses golpes são, sim, investigados pela delegacia de domicílio da vítima. E é extremamente importante que os casos, até mesmo os que não se consumaram, sejam denunciados", afirma o delegado. "Mas vale alertar que as pessoas sempre se atentem ao que foi acordado com o advogado em contrato, principalmente quando envolver transferência de valores. E também tentar contato com o profissional pelos meios já conhecidos anteriormente, que provavelmente também constam no contrato firmado", finaliza.

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