É sabido que o vício traz primeiro o prazer e depois a dor. Mas, não resolve o problema. É necessário buscar a causa e a solução. Por outro lado, no desenvolvimento da virtude a dor vem primeiro e depois o prazer. Na década de 1970, período em que era moda fumar, era comum ver autoridades e artistas fumando em público. Estava com 17 anos de idade e nunca havia experimentado fumar. Até que comecei namorar uma moça que fumava. Foi questão de tempo para eu abraçar o vício do cigarro. Muita ingenuidade de minha parte. Ao terminar o curso de engenharia, prestei concurso para entrar na Marinha de Guerra do Brasil. Foram vários testes que superei e faltava apenas um para ingressar naquela instituição: de preparo físico. Tinha consciência plena de que seria necessário parar de fumar. Caiu em minhas mãos um texto oriental que dizia que a mente deve ser comparada com um cavalo selvagem e um macaco brincalhão, uma vez que não é fácil dominá-la.

Conversando com um amigo sobre a situação, ele comentou ter outra interpretação sobre a mente. Disse: a denominação “mente” vem do verbo mentir. Em outras palavras, a mente pede para mentir. Consciente que essa fala não tinha nada a ver, mesmo assim considerei-a, pois não poderia afirmar para minha mente que pararia de fumar definitivamente, pois ela não deixaria, tal era a minha falta de autocontrole perante aquele hábito. Acordei numa manhã de segunda-feira e disse, olhando em um espelho: “só hoje, amanhã eu volto”. Consegui ficar aquele dia sem fumar. Acordei no outro dia, e repeti a fala “só hoje”. No final de sete dias, havia vencido essa imperfeição, e consegui ingressar naquela corporação. Fiquei sabendo mais tarde que os Alcoólatras Anônimos utilizam um slogan parecido para curar os seus pacientes. 

Considerando que o caos está sempre rodeando, fica claro o quanto é imprescindível o esforço, uma vez que sem ele a desordem predomina. Em face disto, percebi que o método “Só hoje” pode ser aplicado para dominar outros vícios, tais como gula, redes sociais, jogos digitais, medicamentos, discussões, negatividades, fofocas etc. Aristóteles disse: “É mais valente quem vence seus desejos do que quem vence seus inimigos, pois a vitória mais difícil é sobre si mesmo”.

Uma pessoa que vence o seu Eu interno conquista autoconfiança e, com isto, toma decisões valentes, se liberta de prisões mentais e se torna mais feliz. Viva a valentia.