Não é visto, é esquecido: o chapéu e a ciência

Por Alberto Consolaro | 29/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min
Professor Titular pela USP e Colunista de Ciências do JC

Reprodução

Monumentos à molécula do DNA em Cambridge, São Petersburgo e Milão ajudaram a popularizar a genética!
Monumentos à molécula do DNA em Cambridge, São Petersburgo e Milão ajudaram a popularizar a genética!

Os chapéus estavam em todas as cabeças masculinas nas solenidades e festas até 1960. Os publicitários tentaram explicar aos fabricantes de chapéus que era importante fazer propaganda, mas disseram que não precisavam, que ninguém deixaria de usar chapéus!

A cada 5 anos, temos outra geração. Você toma Coca-Cola porque traz felicidade e a todo momento escuta-se isto e se vê alguém tomando, mesmo que seja em fotos e vídeos. É quase impossível não tomar e mais da metade do preço do produto é propaganda. Nós consumimos o que a mídia manda!

COCA-COLA

Em 1961 tomou posse o presidente John F. Kennedy em uma solenidade vista no mundo inteiro. Pela primeira vez um presidente estadunidense tomou posse sem chapéu! Foi uma rebeldia e ousadia, quase um escândalo. E foi a partir deste ano, que o chapéu passou a ficar “démodé” uma palavra incorporada do francês para o que fica fora de moda ou decadente. Se pronuncia “dêmodê” fazendo-se bico com os lábios.

E o mito de que todos usaram e usariam chapéus realmente acabou e hoje é até difícil achar algum para comprar, a não ser em lojas de artesanatos ou de trajes artísticos para alugar ou vender.

A figura do Papai Noel foi uma criação patrocinada, incorporada e mantida pela Coca-Cola, inclusive suas cores. O mundo tem muitos interesses e muitas coisas para chamar nossa atenção. O que aparece toda hora, escutamos e consumimos todos os dias, fica marcado em nossa mente.

CIÊNCIA É POP

A ciência e suas criações também precisam da publicidade para que possamos valorizar suas conquistas e consumi-las. Não dá para ir a Bruxelas e não visitar o Átomo! Como assim? Um conjunto de salões de exposição em um “edifício” que por fora é um gigantesco Átomo. Um monumento maravilhoso montado para uma exposição internacional décadas atrás e que agora talvez seja a principal atração da cidade. Os milhões de visitantes tomam ciência na veia ao visitar os museus e exposições dentro de um átomo!

Como andar pelas ruas de Paris sem ver a Torre Eiffel, não subir em sua estrutura ou ler a seu respeito? Como não descobrir que sua estrutura foi “copiada” de ossos longos com suas trabéculas e corticais preparadas para receber as forças sobre nosso esqueleto. Pois, seu desenho, estruturas e desenhos simulam a estrutura óssea.

Como não valorizar a ciência e suas descobertas ao passear por Cambridge no Reino Unido, Milão na Itália e São Petersburgo na Rússia e desfrutar seus lindos monumentos à molécula de DNA que tantos avanços ainda nos permitem evoluir.

REFLEXÕES FINAIS

1. Nossas praças, parques e ruas deveriam ter estátuas de anticorpos atacando os vírus, como ocorre quando se toma vacinas. Ou uma bactéria sendo fagocitada e destruída por uma célula. Se você não vê, não valoriza, não compra e não se acredita!

2. Se não se vê nenhuma criança deficiente por poliomielite ou rubéola, as pessoas passar a achar que essas doenças nem existem! Assim acontece com o sarampo, varicela, tuberculose e muitas outras doenças. Que façamos vídeos, fotos, outdoors e muita publicidade!

3. A ciência não pode imitar os antigos fabricantes de chapéus que perderam o bonde da história porque não acreditaram que “o que não é visto, é esquecido ou desacreditado pela nossa memória e as novas gerações!”.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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