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Povo cigano

Erika de Lima
| Tempo de leitura: 5 min

Ciganos deixam casas para morar em tendas

Ciganos deixam casas para morar em tendas

Texto: Erika de Lima

Trocar o aconchego do lar por uma vida sem destino é uma prática rotineira na vida dos ciganos, que deixam suas casas para viver sob tendas. Em Bauru existem duas famílias de cigano, que estão alojadas na Vila Independência e no Jardim Terra Branca há mais de seis meses.

Vivendo sob tendas, mudando de um bairro para o outro, de uma cidade para a outra e até mesmo de um estado para outro

é o que faz dos ciganos um povo nômade, que diferencia-se também pelos seus costumes.

Há famílias ciganas que não vivem em tenda, mas em casas e sempre mudam delas com freqüência. "Meus pais sempre mudam dentro da cidade, de um bairro para outro, e sempre de uma casa para outra", lembra a cigana recém-casada,

Ângela Caldeira Gomes, 20 anos, nascida em Goiás.

O cigano araraquarense Estele Sau, 44 anos, instalado na Vila Independência, admite que a maioria dos ciganos não vive em casa. "Nós somos acostumados a viver em barraca, se ficarmos em casa, podemos adoecer", complementa.

Devido à tradição há casos em que os ciganos montam tendas em frente à própria casa, para usá-la. "De tanto gostarmos de barraca, montamos uma em frente de casa", conta Sau.

A maioria dos ciganos tem suas casas e chega a permanecer nela no máximo dois anos ou até acabar o inverno, por ser uma estação fria para ficar em barracas. "Quando inicia o inverno, nós voltamos para casa, esperando por uma nova estação", disse Estele.

Depois de terminada a estação fria, os ciganos viajam novamente para outros lugares. Alguns saem para visitar parentes, outros aproveitam para participar das festas de casamento, permanecendo de 20 dias a um mês sob tendas, retornando para casa e saindo para viajar novamente. "Nós gostamos de viver assim, temos banheiro com chuveiro que fica ao lado da barraca, camas, aparelho de som, TV, temos todo conforto que precisamos", afirma o cigano Armando Caldeira, 47 anos.

Estele afirma que, com estas viagens, muitas cidades são conhecidas e novas amizades são feitas.

Como a maioria dos ciganos possue casas, eles as deixam alugadas enquanto viajam e dizem lembrar-se delas quando chove. "A situação mais triste é quando ocorre temporal, pois temos que erguer colchões, colocar as crianças dentro dos carros, para o caso de cair alguma tenda", retrata Sau.

Uma das famílias que mora no Jardim Terra Branca veio de Uberaba (MG) e está em Bauru há 16 anos. A família tornou-se sedentária, preferindo fixar-se em Bauru, devido

à hospitalidade recebida na cidade e também pela participação ativa na comunidade evangélica cigana.

Segundo o pastor e cigano Rodolfo Castillo, 71 anos, são oito famílias ciganas que estão no Jardim Terra Branca e vieram à cidade "pela providência de Deus". "Depois de percorrer muitos estados do Brasil, descobrimos esta cidade, compramos terrenos e decidimos nos alojar aqui, porque Deus nos guiou", completa.

Os terrenos ocupados pelos ciganos geralmente são emprestados por seus proprietários ou alugados, mas alguns compram os imóveis. "Depois de um tempo nós compramos o terreno, construimos uma casa e a vendemos. Em alguns casos, os terrenos são da própria família cigana.

"Meu filho está com a família num terreno emprestado por um amigo, que já construiu casas para nós", relata Rodolfo.

Além do prazer de levar uma vida sob tendas, os ciganos devem cumprir o que manda sua tradição: viver livre, mantendo o contato com a natureza, para se desgarrar dos bens materiais, para que possa viver livremente. "Pela nossa tradição não poderíamos ter casas, terrenos, plantações, para que nada impessa de levarmos uma vida liberta", ressalta o pastor Rodolfo.

As crianças também gostam de viver em tendas. Lucas Zancovich Costa, 9 anos, e Giovani Costiti, 8 anos, dizem que gostam da vida de cigano porque podem ficar à vontade.

"Nós podemos brincar na terra, andar de bicicleta sem estragar jardim ou sujar a casa", disseram.

De acordo com Rodolfo, a tradição obriga os ciganos a viver livres, para terem uma vida sadia, em contato com a terra, com a chuva, sem preocupações por ter deixado a casa sozinha. "Tendo uma casa não podemos partir para lugar algum, já sem a casa não há preocupação por tê-la deixado. A tenda é o que nos deixa livres", completa Castillo.

Ele também disse que os ciganos gostam de viver em local arejado, para sentirem-se livres, pois a casa representa uma prisão para eles.

Os ciganos afirmam que não têm previsão para sair de Bauru.

Periodicidade das viagens

Os ciganos, quando chegam à alguma cidade, primeiramente pedem uma licença na Prefeitura para sua instalação e um contrato sobre o aluguel da propriedade. Após o recebimento da licença, as famílias ciganas procuram adquirir um terreno, alugando ou emprestando-o, por um tempo determinado de 15 a 30 dias.

Durante esses dias, se não houver nenhuma queixa na cidade sobre eles, é renovado o contrato e os ciganos permanecem por mais tempo. "Tudo deve estar de acordo, tanto com o nosso serviço, com nossas vendas, quanto com nosso modo de vida", lembra Castillo.

Quando há muito trabalho e boas vendas, os ciganos permanecem no local, caso contrário dentro de dez dias partem em busca de outra cidade. "Há muitas cidades que não dão licença para nossa hospedagem, então, procuramos outras, principalmente cidades grandes", ressalta Rodolfo.

A hospedagem dos ciganos nas cidades pequenas é temporária, permanecendo entre cinco ou nove dias. E não conseguindo manter-se num estado, muda-se para outro. "Se não der certo num estado partimos para outro, como já fomos para Pernambuco", comenta Castillo.

Os ciganos afirmam que desde que começaram a viajar já conheceram mais de 100 cidades do País.

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