"Além das pessoas dependentes de amor e sexo, o D.A.S.A. também ajuda as pessoas que sofrem de anorexia. Como desordem alimentar, a anorexia é definida como rejeição compulsiva da comida. Na área de amor e sexo, anorexia tem uma definição similar, porque é a rejeição compulsiva de dar e receber nutrição social, sexual e emocional", disse Marcelo (*nome fictício), membro da D.A.S.A. em Bauru.

O grupo de ajuda acredita que a dependência de amor e sexo

é uma doença progressiva, que não pode ser curada, mas pode ser detida.

"Essa doença pode tomar várias formas, incluindo uma necessidade compulsiva por sexo, dependência extrema de uma pessoa (ou várias), preocupação crônica com romance, flerte ou fantasia. Existe um padrão compulsivo, seja sexual ou emocional, em relacionamentos ou atividades sexuais, que prograssivamente se tornam destrutivas para sua vida, profissão, família e senso de auto-respeito", completou Marcelo.

Segundo a psicóloga e sexóloga Maria Lúcia Biem, o sexo em excesso só é ruim quando ele começa a atrapalhar a vida da pessoa, fazendo com que ela deixe de aproveitar outros prazeres da vida, como a família, o trabalho e o lazer.

"O sexo em excesso não é negativo, quando não atrapalha a vida da pessoa. Quando ela deixa de curtir outros prazeres da vida, como a familia, o trabalho o lazer, em virtude do sexo e seus pensamentos giram em torno disso, é um compulsivo. Agora, se a pessoa tem um grande desejo sexual, mas isso não atrapalha sua vida, não ha problema. E é isso que não se pode confundir, a pessoa que tem um grande desejo sexual com as que não conseguem controlar esse desejo e nem piques sexuais diferentes, porque às vezes, o parceiro pode ter mais desejo sexual que você, ou o contrário, e isso não quer dizer que ele é um compulsivo", disse a sexóloga.

Assim como todo viciado, o compulsivo por sexo não aceita ou demora muito para reconhecer seu problema e por isso, demora a procurar ajuda. Marcelo explicou que quando o problema é detectado, a pessoa pode fazer um Auto-Diagnóstico (veja quadro) com 40 perguntas precisas.

"Você está preocupado com sua vida sexual e começa a se auto-diagnosticar. Se você suspeita de algo já é um começo. Então, se você quer ajuda, procure-a, lembrando sempre de que você não

é o único", completou Marcelo.

Nas reuniões do D.A.S.A., as pessoas trocam suas experiências.

"Com isso, elas vêem que não são as únicas no mundo, que há outras pessoas com o mesmo problema seu e que querem se ajudar", afirmou Maria Lúcia Biem.

O dependente sexual pode ser uma pessoa que não consegue ter apenas um parceiro sexual ou que não consegue manter relacionamentos estáveis. Há ainda os dependentes que mantém relacionamentos afetivos estáveis (alguns são até casados) , mas não conseguem ter apenas um parceiro sexual. Geralmente, o dependente sexual não consegue se relacionar com outras pessoas, não sabem aonde começa uma relação e nem onde termina a outra. Por medo de solidão ou de abandono, sempre prolongam e reiniciam relações destrutivas. Se separam dos amigos, da família, porque não conseguem ficar no meio de outras pessoas sem pensar em sexo. Têm medo dos compromissos mais sérios e de ficar sem sexo.

Um outro problema apresentado pelo dependente e compulsivo sexual

é o fato de não se prevenir. Muitos, na hora da euforia, esquecem dos riscos que correm e podem até comprometer o parceiro.

"Nossa sociedade é muito preconceituosa. Não devemos julgar os atos das pessoas, dizer ele ou aquele são promíscuos, porque o que pode acontecer é a pessoa ser um dependente sexual. E isso é uma doença", finalizou a sexóloga.

"Saía de casa toda noite...

... Ia em bares, boates, sempre procurando parceiros sexuais e sempre sozinha.

No começo, eu apenas saía com meus amigos para me divertir e sempre rolava uma paquera. Mas depois, eu perdi o controle da situação. Saía toda noite, acabava ficando com alguém e transava com ele.

Houve noites em que eu disse antes de sair de casa que só

ía tomar uma cerveja com os colegas do trabalho, mas sempre acabava vindo embora com um desconhecido e transava.

Isso foi me cansando. E eu me perguntava por que eu sempre estava com uma pessoa diferente, e me respondia que estava procurando a pessoa certa e ainda não tinha encontrado. Foi aí que eu conheci um cara maravilhoso. Ele queria ter um relacionamento mais sério e eu fiquei com medo dessa situação. E fugi dele.

Foi aí que eu descobri o D.A.S.A.. Percebi que eu dependia de sexo e que precisava de ajuda. Há um ano e meio frequento o grupo. Hoje, eu posso dizer que estou recuperada. Continuo frequentando as reuniões e ajudando outras pessoas. E não tenho medo de ficar sozinha ou de me relacionar com alguém", Andressa, Relações Públicas, em São Paulo.

Auto-Diagnóstico

Estas são algumas das 40 perguntas do Auto-Diagnóstico.

1 - Você já tentou controlar quanto sexo faria ou com que frequência encontraria alguém?

2 - Você fez ou faz sexo com alguém que não queira fazer?

3 - Você perdeu a conta dos parceiros sexuais que teve?

4 - O seu comportamento sexual ou amoroso afeta sua reputação?

5 - Você já ameaçou sua estabilidade financeira ou posição na sociedade ao manter um parceiro sexual?

6 - Você precisa fazer sexo ou se apaixonar para se sentir

"um verdadeiro homem" ou "uma verdadeira mulher"?

7 - Você sente que seu comportamento amoroso e sexual é tão gratificante quando empurrar uma porta giratória? Está exausto?

8 - Você sente que sua vida sexual afeta sua espiritualidade de forma negativa?

9 - Você sente que sua vida está ingovernável por causa de seu comportamento sexual ou das suas excessivas necessidad3es dependentes?

10 - Você já pensou que poderia fazer coisas na sua vida se não fosse guiada pela busca sexual amorosa?

* Fonte: D.A.S.A.

Os 12 Passos

O D.A.S.A. é uma "irmandade" que tem como fundamento os 12 Passos e as 12 Trasdições, baseados no modelo adaptado dos Alcoólicos Anônimos.

1 - Admitimos que éramos impotentes perante a Dependência de Amor e Sexo, que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.

2 - Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia devolver-nos a sanidade.

3 - Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos.

4 - Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.

5 - Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.

6 - Prontifiquemo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.

7 - Humildemente rogamos a Deus que nos livrasse de nossas imperfeições.

8 - Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.

9 - Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.

10 - Continuamos a fazer o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.

11 - Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação à nós, e forças para realizar essa vontade.

12 - Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses passos, procuramos transmitir esta mensagem aos dependentes de amor e sexo e praticar esses princípios em todas as

áreas de nossas vidas.