Quem quiser fugir dos pedágios das rodovias federais e estaduais que cortam o Estado de São Paulo, precisa conhecer bem a região, senão corre o risco de andar muito por estradas ruins ou mesmo pegar um pedágio municipal que vai tornar inútil e dispendiosa a rota alternativa.
Na região de Araçatuba, caminhoneiros entram nas cidades de Guararapes, Rubiácea e Castilho para fugir da cobrança de pedágios na rodovia Marechal Rondon, que é feita no sentido Capital-Interior. A passagem de carretas e caminhões causa danos no asfalto das ruas das cidades, que não foi feito para suportar tráfego pesado.
Apesar do problema, as prefeituras e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), que administra a rodovia e as praças de pedágio, não tomaram muitas providência para impedir que os caminhoneiros continuem utilizando os desvios. Em Guararapes, o desvio é de 30 km e chega a atrasar a viagem em cerca de meia hora. Mas os motoristas dizem que compensa fugir do pedágio, já que um caminhão de cinco eixos paga tarifa de R$ 23,50. Com esse dinheiro, dá para comprar quase 30 litros de óleo diesel. Para evitar acidentes, a prefeitura de Guararapes teve que construir lombadas nas ruas por onde os caminhões passagem.
A estrada vicinal Ângelo Zancaner, que liga Guararapes a Rubiácea e faz parte do desvio, vive esburacada. Neste ano, as prefeituras das duas cidades, em conjunto com o DER, taparam buracos ao longo de 10 km da vicinal.
Em Castilho, já na divisa de São Paulo com o Mato Grosso do Sul, o desvio é por uma estrada de terra do bairro Junqueira, na zona rural. O tráfego de caminhões não chega a representar uma ameaça à segurança dos moradores, porém a poeira incomoda.
Em Andradina, não existe praça de pedágio, mas caminhoneiros que trafegam com excesso de peso entram na cidade para fugir de uma balança fixa existente na base da Polícia Rodoviária. O resultado são buracos constantes na estrada vicinal Sebastião Lourenço da Silva, que liga Andradina a Murutinga do Sul.
A Prefeitura de Andradina chegou a construir uma guarita na estrada para tentar conter o tráfego de caminhões, mas ela nunca funcionou. O DER instalaria balanças móveis na vicinal, providência ainda não concretizada.
A favor
O prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), nem quer ouvir falar em pedágio municipal: vetou os dois projetos para vicinais. E ele trava, na Justiça, um duelo com a Triângulo do Sol para que o acesso a uma estrada municipal, a 300 metros da praça de pedágio da Rodovia Washington Luís, no km 282,5 (tarifa de R$ 5,40), não seja fechada. Uma liminar deixa o acesso aberto - surgiu até um comércio informal no local, com venda de água. Silva conseguiu liminar judicial abrindo-a, mas a concessionária recorreu. Araraquara ficaria ilhada e, por ser forte no comércio e em prestação de serviços, depende economicamente das cidades da região, justifica-se o prefeito, que garante os acessos alternativos. Ele está pavimentando um trecho da estrada que liga o município a Matão. Isso ocorre em qualquer lugar do mundo e aqui não pode ser diferente: cada um usa a estrada que quiser. Silva e os prefeitos de Ibaté e São Carlos ainda brigam para evitar que a Comissão de Concessões do governo estadual autorize a criação de um novo pedágio em Ibaté, na Rodovia Washington Luís - isso diminuiria as tarifas de outros trechos, mas essa praça não estava prevista no Plano de Concessões. Para isso, fizeram uma mobilização. Silva acredita que o ato paralisou o processo da Triângulo do Sol. Enquanto Silva é contra o fechamento de rotas de fuga, o colega de partido, José Daniel Graton (PT), prefeito de Sales Oliveira, fez o mesmo em 2000, movendo ação contra a Vianorte para abrir o acesso de uma estrada municipal no km 348 da Rodovia Anhangüera para desviar da praça do km 350 (R$ 3,70). Neste mês, porém, tomou atitude contrária: fez acordo com a Vianorte para fechar o acesso. Na Justiça, o local foi reaberto na quinta-feira (19). A concessionária irá recorrer da decisão. O mesmo a Vianorte já fez em relação ao desvio do Anel Viário Norte, perto de Ribeirão Preto, que possibilita a fuga dos caminhões do pedágio do km 327,5 (R$ 2,20) da rodovia Atílio Balbo por uma estrada. A Prefeitura de Sertãozinho conseguiu uma liminar judicial e, por enquanto, o acesso está livre.
Pontos de fuga
Nos últimos anos, o Desenvolvimento Rodoviário do Estado SA (Dersa) e a NovaDutra, concessionárias que administram as estradas, têm feito obras para evitar pontos de fuga em colaboração com as prefeituras que não querem caminhões e ônibus pesados estragando a pavimentação das ruas. O maior exemplo dessa preocupação é a nova praça de pedágio que começa a funcionar no próximo mês em Jacareí, instalada pela NovaDutra e que vai dividir a tarifa com o pedágio de Arujá, o primeiro a partir da Capital. Esse novo pedágio já providenciou a instalação de cabines avançadas na entrada do trevo de Jacareí para evitar que o tráfego de veículos pesados seja feito por dentro do perímetro urbano da cidade. Esse pedágio será controlado pela prefeitura e terá o mesmo preço da rodovia.
Fechando o cerco
Desde que assumiu o controle da Via Dutra, a concessionária NovaDutra não apenas implantou melhoramentos como recapeamento e nova sinalização, como também espalhou guard-rails por toda extensão da rodovia, fechando saídas e entradas clandestinas nas duas pistas, principalmente nos trechos em que a rodovia corta as cidades, como também nas proximidades dos pedágios. Em São José dos Campos, por exemplo, foram feitos 4,3 quilômetros de pistas marginais no sentido SP- Rio, e 3,3 quilômetros no sentido Rio-SP e um novo acesso a rodovia dos Tamoios. Isso retirou o tráfego pesado do perímetro urbano da cidade, ocorrências anteriormente quase diárias devido aos acidentes freqüentes no trecho que transferia a circulação de ônibus e caminhões pelas ruas da cidade próximas ä rodovia. Na praça de pedágio de Moreira César, em Pindamonhagaba, também interior do Estado, a NovaDutra fechou igualmente as saídas e acessos a rodovia, ficando muito distante entrar pelo viaduto e pegar a variante de seis quilômetros até o centro para fazer o contorno. E mesmo assim, nas vicinais paralelas a Dutra, existem pedágios municipais com o mesmo preço da rodovia. E a legislação do município, segundo o responsável pela Procuradoria Jurídica da Prefeitura, Jacuí da Silva, proíbe a circulação no perímetro urbano de caminhões com mais de três eixos ou seis toneladas visando a preservação do calçamento da cidade.
Na Via Dutra, a única forma de escapar do pedágio é entrar pela variante que dá acesso a Mogi das Cruzes, pegando a estrada velha Rio-SP até Santa Isabel, voltando em seguida para a Dutra. Mas o percurso aumenta cerca de 20 quilômetros. O assessor jurídico da Prefeitura de Santa Isabel, Alexandre Simão Vopi, explica que esse tráfego não é intenso e não preocupa a cidade, que não tem nenhum legislação sobre o assunto.
A NovaDutra explica que os caminhões ou ônibus que tentarem utilizar essa variante terão problemas porque a estrada tem pontos precários de tráfego.
Fugas difíceis
A Dersa não tem sido tão rigorosa como a NovaDutra no fechamento de pontos de fuga de pedágio. Para fugir da praça de pedágio de Santa Branca, pode usar a estrada-velha Rio-SP, entrando pelo trevo de Mogi das Cruzes. O problema é que ele vai dar uma volta de pelo menos 20 quilômetros numa estrada de conservação precária, o que não compensa a economia de pagamento do pedágio. O gerente de Operações da Dersa, engenheiro Luiz Carlos Goda, explica que a empresa não tem problemas com rotas de fugas nas rodovias Aírton Senna e Carvalho Pinto que são muito escassas e pouco utilizadas. Ele cita como uma rota muito conhecida também a saída do quilometro 28, junto à balança, em Itaquaquecetuba, de onde se pode sair da rodovia para escapar do pedágio, pegar a Via Dutra e sair nas proximidades de Guararema. Os maiores problemas atualmente da Dersa com rotas de fuga de pedágio estão situados na rodovia D. Pedro I, quando a estrada corta os municípios da Nazaré Paulista e Itatiba. Na primeira, uma estrada municipal fica paralela a D. Pedro, e mesmo um pedágio municipal inibe que os motoristas de caminhões usem a estrada. Em Itatiba, o desvio é feito por dentro da cidade e pela rodovia federal Fernão Dias no sentido de Campinas.
Ribeirão Preto
Uma estrada vicinal de cerca 20 anos que liga Altinópolis a Serrana, é usada por caminhoneiros como rota de fuga do pedágio do km 344 da Rodovia Cândido Portinari, entre Brodowski e Batatais, interior do Estado. A economia é de cerca de 10 quilômetros e R$ 2,30 de tarifa por eixo. Porém, para isso, os caminhões passam por dentro de Altinópolis e irritam a população. Estraga todo o nosso espaço, diz o prefeito de Altinópolis, Marco Ernani Luiz (PMDB), que assumiu a conservação da estrada, que era estadual, no ano passado. Ficamos com o problema. Uma lei municipal, criada há sete anos, proíbe a entrada de caminhões na cidade, permitindo o acesso só aos fornecedores da própria cidade. Mas o problema é operacional. Quem pode multar é a PM e não temos convênio de municipalização do trânsito, explica Luiz. A PM também não tem efetivo para fiscalizar tudo. Assim, a multa, de cerca de R$ 500,00, acaba não sendo aplicada. O que fazer? Mudamos algumas direções do trânsito, mas não foi suficiente, queixa-se o prefeito, que fez outra tentativa. Em 2000, aprovou a construção de um pedágio municipal (só isenta os veículos do município) e a tarifa deve ser a mesma da concessionária Autovias: R$ 2,30. Mas o custo de R$ 10 mil inviabiliza a idéia, pois, com sua construção, o desvio do pedágio diminuiria e o investimento seria deficitário. O impasse continua. Dumont e Colina criaram pedágios municipais e já fazem essa operação.