Geral

Beijo

Gustavo Cândido
| Tempo de leitura: 8 min

Há alguns anos, cientistas divulgaram o resultado de uma pesquisa segundo o qual cada beijo dado significava três minutos a menos de vida devido a todas as reações físicas que ele provoca no corpo. Apesar do espanto com a notícia, não se sabe de ninguém que tenha parado de beijar ou proposto uma economia de beijos para viver mais. É possível que a razão esteja no fato de que a vida e o beijo sejam duas manifestações tão intimamente ligadas que tornem difícil crer que uma possa ser ruim para a outra. O primeiro beijo que recebemos foi o sopro vital do criador, que com amor, através da respiração divina, nos deu o sublime beijo criando nossas almas e nossas vidas, escreve Eduardo Lambert, em A Terapia do Beijo. Também é um instintivo beijo no seio da mãe que faz o bebê descobrir sua fonte de alimento e de vida. O beijo acompanha o homem desde a Antigüidade e não parece estar com os dias contados, talvez porque apenas com um beijo o ser humano seja capaz de expressar e sentir muito mais do que faria com palavras, gestos ou olhares. Nos casos do beijo de amor e do beijo apaixonado, quando são bons, dão asas à imaginação e deixam aquela sensação gostosa e até saudade, lembra Lambert

É difícil precisar quando é que uma pessoa adquire a noção do que é um beijo. Provavelmente os bebês já o associem a uma sensação prazerosa devido ao carinho que sempre acompanha o beijo da mãe e dos familiares. Ainda nessa fase é até bastante comum que as crianças, mesmo antes de aprenderem a falar, saibam jogar beijinhos. Na infância, o beijo começa a ganhar outros tons. Depois dos beijos salvadores dos príncipes encantados em Branca de Neve e na Bela Adormecida e do romântico beijinho do cão vira-lata na linda cadelinha de raça de A Dama e o Vagabundo, todos clássicos infantis, qualquer criança sabe que o beijo significa não só carinho, mas também atração, amor, paixão.

A conotação sensual do ato de colar os lábios no rosto ou na boca de outra pessoa atinge o seu ápice na pré-adolescência. Dai para frente passa a ser fundamental para desenvolvimento de uma relação afetiva entre os jovens, tanto que passou a marcar o início da relação através do ato de ficar. Como afirma a a psicóloga e sexóloga Maria Lúcia Biem: O beijo é começo de tudo, o ponto de partida para as demais carícias e outras demonstrações de afeto.

Há até alguns anos, o namoro adolescente não começava com um beijo como hoje. Havia uma aproximação inicial, o primeiro toque era uma conquista ( pegar na mão era o máximo!) e só depois que houvesse uma aceitação de ambas as partes é que acontecia o beijo. O ficar encurtou o processo, mas popularizou não só o beijo como também a preocupação com o que os adolescentes chamam de virgindade da boca. Se antigamente o primeiro beijo era sinônimo de primeiro amor, hoje ele significa que o jovem está pronto para namorar, que não é mais uma criança. Atualmente, os jovens têm uma preocupação muito grande com o primeiro beijo, que antes demorava muito a acontecer e era mais esperado. Hoje há mais ousadia, o beijo é mais roubado, diz a psicóloga.

Perdendo a virgindade

Nenhum adolescente gosta de admitir que nunca beijou. Se eu disser que nunca beijei, os meus colegas vão tirar sarro de mim, revela o estudante Luis*, de 15 anos. Para as garotas, o preconceito também existe mas é menor, uma clara prova de que a cultura machista ainda continua vigente - homens têm que beijar logo para se mostrarem machos, as mulheres podem se preservar para se mostrarem puras.

Mas as preocupações e dúvidas quanto a primeiro beijo são divididas com igualdade por meninos e meninas. Tenho um pouco de medo de não saber o que fazer na hora, confessa Luis*, que diz que nunca beijou por falta de oportunidade e timidez. Para a também estudante Maria Clara*, de 14 anos, o grande problema é a rejeição, Fico com medo de que o menino não goste e sai por ai dizendo que não sei beijar, diz, preocupada porque a concorrência é muito grande entre as colegas. Quase todas já beijaram, eu sou uma das únicas B.V., explica. B.V. ou boca virgem, é como os adolescentes se referem aos jovens que nunca beijaram.

Por conta desse desespero, a estudante lembra que muitas meninas ficam com qualquer garoto só para não serem B.V. e terem menos prestígio no grupo. A necessidade de beijarem logo - e com qualidade (já que um primeiro beijo decepcionante não vale) - também faz com que os jovens (homens e mulheres), sigam mil receitas para treinar os lábios para o grande momento, como experimentar beijar uma laranja ou chupar um cubo de gelo. Nunca tentei, então não sei se dá certo, diz Maria Clara*. Pedro *, de 17 anos, que hoje se considera um beijador experiente já tentou e aprova o treino: A pedra de gelo ajuda a gente praticar mesmo, diz.

Mudando com o tempo

O que os adolescentes nunca lembram ou talvez nem saibam, é que, geralmente, o primeiro beijo não é uma experiência muito agradável mesmo. Dos primeiros beijinhos, os chamados selinhos, até o beijo mais ardente, existe todo um processo de evolução. Na adolescência os beijos são mais sensuais, mais longos, mais ousados, isso muda com o tempo, diz Maria Lúcia Biem. E nem sempre no aspecto positivo.

É óbvio que a prática leva qualquer um a dominar a técnica do beijo, mas a idade, às vezes, acaba com o desejo. Uma pesquisa realizada pelo DataFolha há dez anos atrás, por exemplo, mostrava que 51% dos adultos com mais de 41 anos de idade achava o beijo um ato anti-higiênico, que poderia transmitir doenças. Também em 1994, o sexólogo Moacir Costa, autor, entre outros, do livro Sexo, o Dilema do Homem, divulgou uma pesquisa na qual afirmava que os homens estavam beijando menos as mulheres, inclusive, quase abolindo por completo o beijo da relação sexual, o que era motivo de protesto feminino. Segundo Costa, a ausência do beijo em casais com algum tempo de relacionamento era um sinal de alarme, de que alguma coisa ia mal na relação e aparecia antes dos inevitáveis problemas sexuais.

Para Maria Lúcia Biem, a diminuição da freqüência dos beijos é normal quando o casal já está junto há algum tempo. A rotina do dia-a-dia faz que com que o beijo passe a ser deixado de lado, diz. Mas não é um fenômeno positivo, principalmente na hora do sexo. A mulher precisa de um envolvimento romântico e o beijo tem esse significado para ela que é levada às nuvens quando beijada, afirma Biem. O homem, ao contrário, pode ficar sem o beijo e manter uma relação sexual sem problemas. É o que acontece quando eles procuram prostitutas, completa a psicóloga.

Maria Lúcia lembra, porém, que nem sempre a idade avançada marca o fim dos beijos para homem e mulher. Os homens mais velhos, geralmente voltam a beijar com mais freqüência, mas esse beijo é mais afetivo, cheio de carinho e não de desejo, diz. A explicação para o fato talvez esteja no desempenho sexual. Como já não é mais tão potente sexualmente como era na juventude ou na idade adulta, o homem mais velho precisa de mais carinho para se excitar e dá mais valor às preliminares porque também precisa delas. É ai que volta a beijar, conclui a psicóloga.

Química do amor

O que faz alguém querer beijar outra pessoa, a beleza, o instinto? Muitas vezes apenas a visão de uma boca bem desenhada e de lábios carnudos é o suficiente, afirma Maria Lúcia Biem. A sedução dos lábios, independente do relacionamento, pode despertar o desejo de beijar, completa. E o beijo não é apenas uma forma de prazer ou simples satisfação de um desejo. O beijo desperta no organismo humano mais do que sensações prazerosas. Ele praticamente mexe com todo o corpo, a começar pelos 29 músculos que movimenta na face, sendo 17 deles linguais e 12 dos lábios. O beijo ainda favorece o aparelho circulatório, fazendo com que os cerca de 70 batimentos cardíacos normais subam para 150, melhorando a oxigenação do sangue. Há ainda uma considerável troca de substâncias: 9 miligramas de água, 0,7 decigramas de albumina, 0 711 miligramas de matérias gordurosas, 0,45 miligramas de sais minerais, hormônios, 18 substâncias orgânicas, bactérias (cerca de 250) e vírus. Ele ainda mexe com a cabeça, estimulando no cérebro a produção de endorfinas, substâncias responsáveis pela sensação de bem-estar - conhecidas como os hormônios da felicidade.

Como se não bastasse tudo isso, o beijo também queima calorias. Um beijo bem dado pode consumir cerca de 12 calorias e, somado a uma relação sexual bem completa e longa, de aproximadamente uma hora, pode queimar algo em torno de 600 calorias.

Os inimigos de um bom beijo

Cuide-se para não ficar sem curtir essa delícia

Mau hálito Cigarro Olhos arregalados Nervosismo pelo medo de não saber beijar Indiferença Desentupidora de pia ou boca nervosa. Ou seja, aquela menina que invade a boca do garoto querendo engolir a sua língua ou vice-versa Boca-de-siri: aquele que não abre a boca de jeito nenhum Respiração presa até um dos dois ficarem verde e desmaiar por falta de oxigênio Meio quilo de batom vermelho, que deixa o beijante com cara de Bozo

A história do beijo

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