No início do próximo ano, o serpentário de Borebi deve inaugurar espaço destinado exclusivamente à visitação pública.
Borebi - O serpentário mantido há três anos pelo Instituto Serpentes da Colina, em Borebi, está preparando uma área que em breve deve ser colocada à disposição do público particularmente interessado em ver e aprender sobre um dos seres mais mitificado da história. Desde a queda do Homem, no Jardim do Éden, narrada no livro do Gênesis, a serpente foi estigmatizada como algo negativo.
Essa imagem foi preservada ao longo do tempo e chegou aos dias de hoje quase intocada. Mesmo sabendo que mudar essa imagem é uma possibilidade que beira a utopia, o bauruense José Jorge, 26 anos, e o técnico em serpentes alemão Stefan Tutzer, 43 anos, não desanimam e preparam-se para prestar todo tipo de informação sobre esse réptil tão temido.
A inauguração do espaço destinado ao público deve acontecer no começo do próximo ano, de acordo com as previsões de Jorge.
Além dos 52 terráreos de vidros, onde serão colocadas as serpentes e dos dez serpentários ao ar livre, o instituto vai contar ainda com um auditório, lanchonete, alojamento e mais à frente com uma escola técnica.
Nos terráreos de vidro serão expostos animais venenosos de um lado e não-venenosos de outro. Em cada um dos terráreos será colocada uma placa com informações sobre a espécie em exposição. O auditório, com capacidade para 60 pessoas sentadas, deve ser utilizado para palestras e estudos sobre as serpentes. Esse será um dos espaços mais valorizados pela equipe do instituto, pois é lá que ela pretende dar sua colaboração para desmitificar o animal. Além disso, devem ser organizadas palestras sobre prevenção de acidentes e como se portar diante de uma serpente.
A escola técnica, mesmo estando um pouco mais distante de virar realidade, já tem dois cursos pré-selecionados: reptologia e bioterismo. O primeiro, como o próprio nome deixa claro, é destinado ao estudo dos répteis, em especial as serpentes. O bioterismo, por sua vez, trata do manejo e criação de cobaias, normalmente usadas e desenvolvidas em laboratório.
Trabalhamos com todos os tipos de serpentes brasileiras, sejam elas peçonhentas ou não, disse Jorge. A intenção, segundo ele, é ampliar esse leque e passar a trabalhar também com serpentes de outros países.
Geralmente, os animais são doados ao instituto por meio de universidades, do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), de terceiros ou são capturadas pela equipe do instituto na própria fazenda ou até mesmo na Amazônia.
Assim que chegam ao instituto, elas ficam em um local separado das demais, em observação, por um período de pelo menos 40 dias. Caso apresentem algum problema, são prontamente medicadas.
Atualmente, o instituto conta com 380 serpentes, segundo cálculos do técnico alemão, Tutzer. De um modo geral, elas se reproduzem uma vez por ano. Após uma gestação de três ou quatro meses, nascem, em média, de 10 a 15 filhotes. A reprodução pode se dar tanto de modo natural como por meio de ovos, dependendo da espécie.
Logo após o nascimento, os filhotes são levados ao berçário, onde recebem tratamento especial. Alguns já nascem com a capacidade de se alimentar sozinhos. Outros precisam de ajuda e são alimentados por via oral.
Depois que atingem um certo grau de desenvolvimento, os filhotes são levados ao serpentário, onde permanecem o resto da vida. A vida útil de uma serpente dura, em média, 25 anos, dependendo a espécie.
Uma das condições essenciais para prolongar a vida útil de uma serpente é deixá-la em um local onde a variação de temperatura ambiente seja bem pequena. O ideal é manter a temperatura entre 28 e 30 graus. Os dois instrumentos mais usados pelo instituto para manter o ambiente aquecido são o aquecedor elétrico e as lâmpadas de 60W, de preferência.
Mais importante do que manter a temperatura ambiente, Tutzer informa que é necessário que a umidade do ar esteja entre 60% e 100%.
De acordo com Tutzer, existem hoje cerca de 2,7 mil espécies de serpentes catalogadas. Isso sem contar as subespécies; fruto do cruzamento de espécies diferentes.
O Instituto Serpentes da Colina, segundo Jorge, está legalmente registrado no Ibama e fica dentro dos 1,2 mil alqueires da Fazenda Noiva da Colina, distante cerca de quatro quilômetros de Borebi.
Precauções
As picadas de cobras são verdadeiros pesadelos para qualquer ser humano. A porção fatal do veneno é capaz de pôr fim à vida da vítima em poucas horas. No entanto, se algumas precauções forem tomadas a possibilidade de escapar com vida dessa experiência torna-se bem maior.
Tutzer recomenda, acima de tudo, muita calma. Depois de ter levado dez picadas, e ter sobrevivido a todas elas, o técnico alemão ensina que é preciso tomar bastante líquido e procurar um hospital o mais rápido possível.
Quanto mais nervosa ficar a vítima pior será. O aumento na circulação sangüínea pode trazer sérias conseqüências.
Fazer torniquetes na região afetada também está fora de cogitação. De acordo com Tutzer, a quantidade de veneno é pequena. Portanto, é preferível deixar que ele se distribua pelo corpo do que deixá-lo concentrado em apenas um membro, o que pode causar uma rápida destruição dos tecidos. Como consequência, o membro afetado pode ter de ser amputado.
Antes de receber qualquer medicação, é fundamental um exame de sangue para saber o grau de intoxicação da vítima. De acordo com o resultado do exame, será possível saber a quantidade de soro antiofídico a ser ministrado ao paciente.
Maior parte do veneno é exportada
Borebi - O Instituto Serpentes da Colina surgiu como consequência da admiração que José Jorge, 26 anos, sempre nutriu por essa espécie de animal. Mas o instituto apenas começou a se concretizar quando Jorge encontrou o alemão, Stefan Tutzer, 43 anos, formado em Herpetologia.
Quase toda a produção de toxina produzida no serpentário é exportada para laboratórios da Europa, Estados Unidos e Ásia. A capacidade de produção, assim como a rentabilidade do instituto, não é grande. A extração do veneno, que posteriormente é transformado em soro antiofídico, dá-se num prazo de 30 a 40 dias. Em cada extração é possível obter cerca de cinco gramas de toxina. Uma serpente produz, em média, de 25 a 30 miligramas de veneno.
Depois de passar por um processo de cristalização, o grama do veneno é vendido a um preço que não ultrapassa os R$ 200,00. O instituto conta atualmente com 270 serpentes para a extração. As principais fontes são as cascavéis, jararacas, jararacas da amazônia, caiçara, urutu, jararacuçu e boca-de-sapo.
Quando as serpentes atingem um ano de vida já é possível extrair-lhes o veneno. Toda a toxina extraída passa por um processo à vácuo que a transforma em uma substância sólida. Ela é embalada em um recipiente de vidro, e posteriormente colocada dentro de uma caixa de isopor para evitar que fique exposta ao calor. Toda a produção do instituto tem comercialização garantida. O que não é comercializado é enviado à Universidade de São Paulo para pesquisas.
Aliás, o instituto, segundo Jorge, mantém uma certa permuta com a USP. Em troca das toxinas, a universidade sempre está enviando novas espécies ao serpentário de Borebi. Os pedidos de toxina cristalizada podem ser feitos via fax, correio eletrônico (insercol@uol.com.br) ou telefone (14-3267-5001).
Alimentação
A fonte de alimentação das serpentes é mantida pelo próprio instituto. Lá são criados, em cativeiro, quatro espécies de camundongos: branco, cinza, marrom e preto. O camundongo branco é o menos utilizado. Segundo José Jorge, por ele ser uma espécie criada em laboratório e não existir na natureza, tem serpentes que se recusam a alimentar-se deles.
A jibóia, por ser maior que todas as outras serpentes do instituto, é tratada com ratos, que são roedores maiores que os camundongos. A alimentação é realizada uma vez por semana. Cada serpente recebe, em média, dois camundongos em cada refeição. Antes de serem transformados em comida de cobra, os roedores passam por um cuidadoso processo de alimentação e higiene. Para evitar qualquer problema futuro para a saúde das serpentes, todos camundongos precisam estar saudáveis.
Para manter o estoque de alimento sempre em dia, o instituto separou 190 matrizes de ratos e camundongos, os quais procriam a cada 20 dias. Em cada uma das vezes, são 12 novos roedores, em média.