Geral

TRÊS HISTÓRIAS DA FEIRA DOMINICAL

(*)Henrique Perazzi
| Tempo de leitura: 2 min

A feira de domingo, na rua Gustavo Maciel, sempre foi um acontecimento. Ponto de encontro, reencontro e muitas outras coisas, além da sua finalidade precípua, que são as frutas e legumes. Gosto de ir (o preço das verduras é inigualável), levo meu filho. Nesse domingo, a surpresa se dá na ida, quando nos deparamos com uma nova construção no caminho. Uma imensa tenda branca, que chama a atenção do menino. Quer saber o que é aquilo. Digo ser uma igreja. Ele, sem pestanejar, demonstrando espanto, responde. Parece mais um circo. Lhe digo que igrejas e circos têm muita coisa em comum. Agora ele se espanta e quer saber os motivos. Digo que ambos, à sua maneira, atraem o povo para seus espetáculos, cultos, com grande afluência popular. E, mais não digo, para não confundir sua cabeça, em idade tão precoce.

Diante da banca de tomates, reencontro o sindicalista Roque. O feirante, conhecendo Roque, se aproxima, diz ter simpatia pelo Lula, faz questão de mostrar o sapato todo rasgado, em petição de miséria. Sei que ele faz um pouco de gênero, diz que, quando da eleição, chegou a pedir um para um rico candidato a prefeito, mas não foi atendido. Eu (Roque, muito menos), que não sou adepto desse tipo de política, respondi de pronto: Para esse tipo de político, você tem que garantir o atendimento do seu pedido antes da eleição, pois, depois eles somem. O feirante, resignado, concorda e diz nunca mais ter visto o tal político na feira.

Já no final da feira, todos adoram dar uma passada na Feira do Rolo. Sou dos que batem ponto naquela Babilônia, mas tem quem sofre com aquilo tudo. Falo dos moradores. Um deles sofre em particular, pois teve a infeliz sorte de ter bem em frente sua casa, o único dono de banca que faz uso de um potente alto-falante (revende aparelhos de som). O som é estridente, ainda mais quando o barraqueiro faz uso dos seus dotes no karaokê. Seu Silvio, um alfaiate de primeira, hoje doente, de tanto reclamar do som muito elevado e não ser atendido, resignou-se. Encontro o barraqueiro exercitando seus dotes com o microfone na mão e seu Silvio, sentado, na porta de sua sala, prostrado, com os olhos longe, talvez imaginando-se num outro lugar. Uma cena que merece uma melhor atenção. Nada que o bom-senso não resolva. Basta querer. Mas, quem quer?

(*)Henrique Perazzi de Aquino - RG. 9.710.205-2

Comentários

Comentários