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Faturamento de MPEs diminui 8,7%

Paulo Toledo
| Tempo de leitura: 5 min

O faturamento das micro e pequenas empresas (MPEs) do Estado de São Paulo ficou 8,7% menor em setembro na comparação com agosto, de acordo com a Pesquisa de Conjuntura das Micro e Pequenas Empresas do Estado de São Paulo (Pecompe), realizada pelo Sebrae-SP em parceria com a Fundação Seade. No acumulado de 2001, até setembro, a queda é de 4,8%, se comparado com o mesmo período do ano passado.

Porém, quando se compara o mês de setembro deste ano com o mesmo mês de 2000, a perda de faturamento se torna mais significativa, chegando a 18%. Nesta comparação, por setores, o segmento que mais perdeu foi o de serviços, com redução 20,1%. A indústria vem em seguida com 19,3% de perda. O comércio perdeu 13,1% do faturamento.

No acumulado do ano, por setores, o comércio foi o setor mais atingido, com baixa de faturamento de 6,6%, enquanto a indústria perdeu 1,8% e a área de serviço 0,3%. Na comparação de setembro com agosto, a indústria foi a mais atingida pela retração, com perda de 14% no faturamento, seguida pelos serviços, com queda de 9,1% e comércio com baixa de 5,7%.

Em todos os casos, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) foi a que mais sentiu a perda de faturamento. Comparando setembro com o mesmo mês do ano passado a redução foi de 20,9%, contra baixa de 13,6% do Interior. No acumulado do ano, a perda da RMSP foi de 4,8% contra 4% do Interior. Em setembro deste ano, em comparação com agosto, a queda na Região Metropolitana foi de 10,4 contra 6,6% do Interior.

Para os técnicos do Sebrae e da Seade, um dos fatores da queda é a diferença de quatro dias úteis entre os meses - em razão dos feriados, setembro foi menor para atividade econômica.

Além disso, a conjuntura também influenciou a queda no faturamento nominal dessas empresas. A crise na economia internacional - recessão norte-americana agravada depois dos atentados de 11 de setembro e Argentina em queda livre há pelo menos 40 meses - aliada à alta do dólar e aumento do índice de inflação e dos juros de mercado (ainda que o Banco Central tenha mantido a Selic em 19% ao ano) já repercutem nas micro e pequenas empresas brasileiras.

Ocupação

No item Índice de Pessoal Ocupado (IPO) verificado pela Pecompe, o acumulado do ano registra aumento. O índice está 1,9% maior na comparação dos nove primeiros meses de 2001 com igual período do ano passado. Na comparação de setembro com agosto, o índice ficou 1% menor. Porém, na comparação de setembro de 2001 com o mesmo mês do ano passado, há uma queda de 6,6%. A maior perda, nessa última comparação, também está na RMSP, com queda de 9,5%, enquanto o Interior tem redução de 3,6%.

Já os gastos com salários das MPEs caíram 1,2% na comparação entre os meses de agosto e setembro. Uma redução de 8,4% é verificada quando se compara setembro com setembro de 2000. Porém, no acumulado do ano, há uma alta de 7,1% em relação ao mesmo período do ano passado.

Reversão de expectativas

Para o economista e consultor de empresas Carlos Roberto Sette, o resultado de setembro foi, certamente, uma das maiores reversões de expectativas dos últimos tempos. Sette lembra que o desempenho da economia brasileira, que vinha ocorrendo de forma positiva nos primeiros cinco meses deste ano, notadamente no setor industrial, teve uma queda abrupta, devido a vários fatores: racionamento de energia, alta do dólar e dos juros, queda do poder aquisitivo da população, crise argentina e recessão mundial.

Conjunturalmente, no cenário internacional, algumas expectativas são nesse momento, melhores do que em setembro, quando ocorreu a pesquisa de desempenho das MPEs, ressalta Sette. Por exemplo, no final da semana passada, a crise argentina foi parcialmente minimizada com o pacote do governo daquele país, fazendo com que o dólar no Brasil fechasse cotado em aproximadamente em R$ 2,56 contra o nível de R$ 2,87 algumas semanas atrás.

A extensão dos efeitos dos atentados nos EUA parece que serão menores e mais curtos do que se previa, acredita o economista. A perspectiva é de que a economia norte-americana retome o ritmo de crescimento já a partir do segundo semestre do ano que vem.

Assim, acredita Sette, as perspectivas para o cenário interno brasileiro poderão melhorar a partir do segundo semestre do ano que vem, período no qual poderá ocorrer o início da recuperação da economia brasileira. O momento é propício para que as MPEs elaborem o planejamento estratégico de suas ações, uma das ferramentas de administração mais utilizadas pelas grandes empresas, afirma.

Através do planejamento estratégico, as MPEs podem reavaliar seus negócios - identificar oportunidades no cenário, conscientizar-se de seus pontos fortes, pontos fracos e minimizar o impacto das ameaças. O próximo ano poderá ser bem melhor para as MPEs se elas fizerem o planejamento de seus negócios. Além dessa ferramenta, algumas outras recomendações se podem ser dadas, segundo Sette, como aumentar a produtividade e reduzir desperdícios, pois só assim poderão sobreviver e crescer num ambiente altamente competitivo onde o preço é ditado pelo mercado.

A segunda dica é formar capital de giro próprio, evitando tomada de recursos em instituições financeiras, pois a taxa de juros continuará alta nos próximos meses. A tomada de recursos de terceiros a juros altos impacta diretamente na lucratividade do negócio, o que reduz o potencial de capitalização e competitividade das MPEs.

O economista recomenda, ainda, administrar melhor esse capital de giro, gerenciando principalmente os estoques, pois com os juros em alta, o custo de manutenção dos mesmos pesa negativamente no resultado do mês.

Além disso, Sette afirma que é importante aproveitar os espaços internos, a serem proporcionados pela estratégia de substituição de importações, que deverá ocorrer em função da necessidade do País de exportar.

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