Geral

Estranha falta de curiosidade

(*) Jorge Boaventura
| Tempo de leitura: 3 min

Continua na ordem do dia - por irrisão - a denominada guerra do Bem contra o Mal. Do que se infere do noticiário internacional, praticamente todo manipulado, algo torna-se irrecusavelmente patente: das toneladas e toneladas de bombas mortíferas, inclusive as crudelíssimas denominadas de fragmentação, por subdividirem-se em centenas de outras, menores que, com maior eficácia, espalham a morte, os grandes beneficiários até agora foram os componentes de uma denominada Aliança do Norte que, sob a liderança de grandes traficantes de heroína, tornaram-se irreconciliáveis inimigos dos talibãs por estes, em seu fundamentalismo religioso terem, alcançado o poder, reprimido impiedosamente o tráfico e a produção do entorpecente. Por incrível que possa parecer, de fato a tal Aliança usou os paladinos do Bem contra o Mal os quais, justiça seja feita, não desejavam que os integrantes dela entrassem e ocupassem as cidades que os bombardeios haviam tornado incapazes de continuar a resistir, antes de que o fizessem os paladinos. É que eles sabiam, muito bem, que tipo de aliados os estavam, supunham, servindo. Não contaram que estes, usados como carne para canhão, pela inapetência dos paladinos a, em matéria de guerra, exporem as próprias vidas, acostumados como estão a, quando lhes convém, realizar massacres nos quais, dada a sua imensa superioridade tecnológica, as vítimas não têm a mínima capacidade de defender-se, não atenderiam ao combinado e, tão logo os paladinos lhes abriram o caminho, ocuparam as praças conquistadas de onde, agora, declaram não ver com bons olhos a presença de estrangeiros. Quem, então, usou a quem? Aí está uma pergunta cabível e embaraçosa, à qual a empresa livre não tem dado destaque. Mas, antes, muito antes dela, há outras curiosidades que, misteriosamente, não surgem na mesma imprensa livre. Por exemplo: sabido como é, que o instinto de sobrevivência está presente e é fortíssimo, o que ou quais motivos teriam levado os terroristas do 11 de setembro a praticar a barbaridade que praticaram, mas imolando também as próprias vidas? E, ao fazerem-no, por que teriam escolhido o World Trade Center, e não a Estátua da Liberdade, ou o Empire State Building, em nível mundial, muito mais famosos do que as torres gêmeas do WTC? Seria por estas serem alguns poucos andares mais altas do que o Empire? Ou seria por que este não simboliza o que as torres gêmeas simbolizavam e continuam a simbolizar? Este terrível poder que, como uma espécie de nação pluriestatal como o temos designado, em níveis diferentes de influência manipula o poder de diferentes Estados e os mantém como tributários seus, pela via de dívidas cujos serviços estiolam a possibilidade de progredir adequadamente dos citados tributários, eternizando neles o atraso e a pobreza. O poder a que nos estamos referindo é nação que, além de pluriestatal, é também pluriétnica, sendo constituída por todos os que, têm como sentido da vida, como sua finalidade fundamental, senão exclusiva, o desfrutar de bens materiais, em consumismo exacerbado e insensato - de vez que, no homem, a capacidade de desejar, de ambicionar, é indefinida, mas a de possuir efetivamente é limitada, a começar pela própria fugacidade da existência corpórea. São os adoradores do Bezerro de Ouro, agora denominado Mercado, diante do qual aquele sem o qual ele não existiria, deve prosternar-se - o ser humano.

Essas curiosidades e essas questões, pensamos, têm suficiente importância para merecerem o realce que a grande imprensa, em nível mundial, lhes tem negado. Um francês diria: et pour cause...

(*) Jorge Boaventura - Home-page: www.jorgeboaventura.jor.brE-mail: boaventurajorgeboaventura.jor.br

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