Moussa Tobias diz que o próximo prefeito da cidade tem que ser ousado, determinado e com espírito público
O empresário Moussa Tobias decidiu romper o silêncio de um ano auto-imposto e volta a fazer análises e comentários de uma paixão eterna: a política. Embora tenha afirmado que não pretende, jamais, ser prefeito de Bauru, Moussa não abandona, no entanto, os bastidores da política. Ele dá opiniões, articula e apara arestas. Em sua empresa, a Sukest, entre uma e outra baforada do charuto cubano Montecristo, o empresário concedeu a seguinte entrevista ao Jornal da Cidade:
Jornal da Cidade - O prefeito Nilson Costa (PPS) já está no comando da cidade há três anos. Como o senhor analisa o desempenho da atual Administração?
Moussa Tobias - Eu dividiria em dois aspectos. Primeiro, as obrigações financeiras do Município, pelas informações que tenho, a Prefeitura tem cumprido com suas obrigações, como o pagamento em dia do funcionalismo municipal, inclusive com o 13.º salário, previsto para ser pago até o dia 20. Nesse aspecto, está dentro daquilo que se espera do administrador público. Por outro lado, vejo uma falta de gerenciamento mais presente nas soluções dos problemas da cidade. A cidade precisa de um gerenciamento mais dinâmico, mais determinado. Muitas coisas não estão sendo feitas e não se pode dizer que é por falta de recursos. A questão dos buracos, no meu ponto de vista, acho que é falta de gerenciamento. Para tapar um buraco não custa mais do que o preço do metro quadrado da capa asfáltica, que custa R$ 4,00, R$ 5,00. São valores insignificantes para uma máquina que arrecada em torno de R$ 120 milhões a R$ 130 milhões por ano, segundo a previsão orçamentária da Prefeitura. Essa questão do gerenciamento da cidade tem deixado muito a desejar.
JC - O prefeito acaba sendo o pára-raio de tudo o que acontece na cidade. Na avaliação do senhor, a equipe de secretários e de técnicos da Prefeitura também pode ser responsabilizada pela falta de gerenciamento ou é uma questão de comando?
Moussa - Na administração privada, geralmente o líder da equipe acaba, paulatinamente, sem que os liderados percebam, transmitindo seu ritmo de trabalho e sua personalidade. A sua personalidade acaba sendo incorporada pelos liderados. E num cargo de executivo, as responsabilidades, os louros, sempre recaem no prefeito. O fracasso, as conquistas são debitadas ao prefeito. É ele quem impõe o ritmo, as metas e as prioridades. Cabe a equipe executar as tarefas. É muito difícil transferir essa responsabilidade para os secretários sem você estar dentro da máquina e saber o que está acontecendo lá. Mas tenho certeza que a cabe ao executivo impor e determinar. E cobrar. Todo ser humano precisa ser cobrado. Talvez esteja aí a maior falha da equipe administrativa.
JC - O prefeito Nilson Costa ainda tem mais três anos de governo pela frente. O que se pode esperar de sua Administração até o final de 2004?
Moussa - É difícil fazer prognósticos. Quando o Nilson assumiu a Prefeitura, havia um sentimento da população de apoiá-lo devido a situação traumática em que ele assumiu a Administração. Havia uma unanimidade em apoiá-lo. A princípio, se dizia que a situação financeira da Prefeitura estava caótica. Acho que um prazo de três anos é muito mais do que suficiente para que o Executivo coloque a casa em ordem. Levando em consideração que a Prefeitura renegociou as dívidas de curto prazo para longo prazo e a folha de pagamentro não está ultrapassando os 60% do orçamento, subentende-se que deve sobrar um certo valor da receita para investimentos. Cabe ao administrador determinar quais são os valores que vão para a manutenção da máquina. Se você deixar à vontade, a manutenção da máquina acaba absorvendo todos os recursos. É preciso ter uma vontade férrea para colocar isso em ordem. Com certeza vai gerar descontentamento entre os liderados, mas é preciso que se faça para sobrar alguma coisa para os investimentos. Se a Prefeitura não está gastando mais do que 60% com a folha, sua situação é boa para investimentos.
JC - Pelo que se percebe, as finanças do Município deverão estar equilibrados em 2004, o que será um fator positivo para o próximo prefeito. Levando em conta esse cenário positivo, na opinião do senhor qual o perfil ideal do próximo prefeito de Bauru?
Moussa - Nos últimos 20 anos, Bauru não vem sendo administrada dentro de critérios técnicos corretos. A cidade precisa, urgente, de um prefeito que seja administrador por excelência, que tenha experiência administrativa, que seja determinado, ousado, e que tenha espírito público. Há uma diferença muito grande entre a administração privada e a pública. A administração privada só visa o lucro e não é preciso dar satisfação para ninguém. Na pública, se visa o bem estar social e é preciso convencer a população de que você está certo. Essas características são condições necessárias para o próximo prefeito.
JC - O senhor é um empresário de sucesso, já foi vice-prefeito, é respeitado pela classe política e tem experiências no setor privado e público. O senhor aceitaria esse desafio de se candidatar a prefeito em 2004?
Moussa - Vou dizer com a maior franqueza do mundo: ser prefeito de uma cidade como Bauru, principalmente na minha condição, de imigrante, seria uma honraria muito grande, mas eu jamais faria isso.
JC - Por quê?
Moussa - Disputar uma eleição em que só o vencer está acima de qualquer princípio e ética, onde enxovalhar os outros, onde mentir e iludir também seriam táticas para conquistar o eleitor menos informado, fica difícil e eu não entraria nessa briga. Acho isso deprimente para um ser humano que tem um mínimo de ética. Infelizmente, as campanhas políticas têm se enveredado para esse campo. É lógico que há bons políticos e não devemos generalizar. Temos que valorizá-los e incentivá-los a continuar na política.
JC - Na sua avaliação, quem hoje se enquadra nesse perfil político para administrar o Município?
Moussa - Eu acho que o perfil do empresário Caio Coube se encaixa perfeitamente naquilo que acabei de citar. Ele tem todas essas qualidades. Tem espírito público e provou isso através de sua participação na comunidade, através do time de basquete e de outras intervenções. Tem competência administrativa, é uma personalidade determinada e ousada. O Caio presidiu a Tilibra e quadruplicou o seu faturamento em pouco tempo. Mas é prematuro, hoje, dizer que fulano de tal é candidato a prefeito. Hoje o Caio é pré-candidato a deputado federal.
JC - Na hipótese de o Caio Coube ser eleito à Câmara dos Deputados, corre-se o risco, então, dele abandonar o seu mandato em Brasília para disputar a Prefeitura em 2004?
Moussa - Essa é uma questão de foro íntimo. É difícil avaliar. É uma decisão pessoal.
JC - Bauru, com um colégio eleitoral de 200 mil eleitores, tem encontrado dificuldades para eleger representantes no Legislativo, principalmente no Federal. Corremos o risco de ficar novamente sem ninguém em Brasília?
Moussa - A eleição parlamentar em nível estadual e federal pulveriza muito. Num colégio eleitoral como Bauru, você tem votos religiosos, direcionados a sindicatos patronais e de trabalhadores, temos votos de minorias, de ecológicos. E isso foge do contexto da cidade. Historicamente, Bauru manda 50% de seus votos para os candidatos de fora. Na última eleição, esse percentual subiu a mais de 60%. Não acredito que no ano que vem essa história será diferente. Agora, eu não tenho a menor dúvida de que os candidatos que não fizerem uma base sólida fora de Bauru, não vão conseguir se eleger.
JC - Já temos dobradinhas confirmadas. Eliane Fetter Telles Nunes e Raul Gomes Duarte Neto, do PPS, Caio Coube e Pedro Tobias, do PSDB, Roberto e Renato Purini, do PV. Falta a definição do Tuga Angerami (PSB) e do Carlos Braga (PTB) para ver quem disputa o que. Qual é a sua avaliação desse cenário político?
Moussa - Cada eleição é uma eleição. Nunca se pode olhar para trás e raciocinar naquilo que já se passou. Não se pode, faltando um ano para a eleição, fazer um prognóstico seguro. Por ser uma eleição casada, envolve muitos os candidatos a governador, a presidente da República e o estado de espírito da população em relação a essas candidaturas. Agora, os candidatos atrelados à máquina municipal logicamente que terão as benesses dessa máquina, mas também terão o ônus. É difícil avaliar os novatos. Podem surpreender como também podem ter uma votação mínima.
JC - No âmbito estadual, o cenário está bem definido. O senhor acha que o tucano Geraldo Alckmin deve polarizar com Paulo Maluf, do PPB, ou com o petista José Genoíno?
Moussa - Eu vi uma pesquisa qualitativa feita com paulistanos. O perfil que o paulistano gostaria de ver como governador tem que ter a credibilidade e a confiabilidade do Alckmin e a determinação e a competência do Maluf. A pesquisa detectou que o Genoíno não teria perfil de executivo e que o paulistano reluta em relação a ele porque já tem a prefeita do PT. Os paulistanos também acham que o Lula é o mais forte candidato à Presidência da República. Então, seria muito PT para os paulistanos se o governador e o presidente da República forem eleitos pelo partido. Pelo quadro atual, tudo caminha para o Alckmin ser o vencedor e até corre-se o risco dele ser eleito ainda no primeiro turno. O Maluf, mesmo com a enxurrada de denúncias que pesa contra ele, continua com 20%. Se nós tivermos o segundo turno, eu acho que o Maluf acabará indo para a reta final. Ele é um herdeiro do Adhemar de Barros. O Adhemar chegou a fugir para a Bolívia para não ser preso devido a denúncias de corrupção. Dois anos depois voltou do exílio, foi candidato e ganhou a eleição para a Prefeitura de São Paulo com 31%.
JC - A corrida para a Presidência da República também está ganhando contornos. Lula, Ciro Gomes, talvez José Serra. O cenário que se desenha mostra uma disputa que poderá ser acirrada.
Moussa - Pelo quadro atual, nós não vamos ter uma eleição decidida no primeiro turno. Com certeza, vamos ter o segundo turno. E pelas perspectivas atuais, não vejo mudanças drásticas no quadro sucessório presidencial nem para o segundo turno. A pergunta é: quem é que vai com o Lula para o segundo turno. Eu não sei se a candidatura da Roseana Sarney é para valer ou não. Apesar de todo o desgaste da administração do presidente Fernando Henrique, as pesquisas apontam que 20% dos entrevistados o acham ótimo e bom. Isso mostra que esses eleitores, na reta final, vão acabar votando no candidato do governo, seja ele Serra ou Tasso Jereissati. Aí temos os 30% do Lula e mais 50% de votos que são voláteis. Ora estão com o Anthony Garotinho, que chegou a 15%, e caiu para 7%; o Itamar Franco chegou a 17%, mas hoje está com 9%, a Roseana estava com 10%, hoje está com 17%. Esses 50% são de uma volatilidade de migração impressionante de um candidato para outro. Eles só não migram para o Lula.
JC - Deixando de lado a política doméstica, o mundo vive hoje um clima tenso, após os atentados terroristas de 11 de setembro. Como o senhor vê a liderança isolada dos Estados Unidos nas áreas política, comercial e militar?
Moussa - O atual presidente George W. Bush foi eleito com menos votos do que seu adversário, Al Gore. Ele era um presidente fraco para exercer o seu poder na nação mais poderosa do mundo, seja militarmente ou economicamente. Bush partiu para o bombardeio do Afeganistão para fortalecer sua posição interna. E fortaleceu. Agora, os Estados Unidos acabaram cometendo um erro ao criar uma lei em que o Estado é o Poder Judiciário. O Estado, agora, tem o poder de prender pessoas e julgá-las, sem o advogado dos acusados ter direito ao processo. São os tribunais militares. Isso é uma violação aos direitos individuais sem precedentes na história da democracia ocidental. É perigosíssimo. A sociedade americana não sabe o mal que está fazendo para si própria. Depois do desmoronamento da antiga União Soviética, que impunha um certo equilíbrio de forças, o mundo passou a ser quintal dos Estados Unidos. Criou-se uma nova ordem econômica extremamente perigosa, onde o mundo todo depende da superpotência que são hoje os Estados Unidos. A sociedade mundial, com o tempo, vai acabar reagindo a esse quadro.