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Soninha lamenta rótulo de maconheira

Rose Araújo
| Tempo de leitura: 7 min

A apresentadora foi demitida da TV Cultura após ter declarado a uma revista que era consumidora exporádica da droga

A apresentadora Sônia Francine, 34 anos, a Soninha, viu sua vida se transformar nos últimos dias, depois de declarar a uma revista de publicação semanal que consome maconha esporadicamente. Apesar de dizer que fuma muito pouco, apenas em festas e casas de amigos, e de levantar o problema que as drogas causam à sociedade, ela acabou perdendo o emprego na TV Cultura, onde comandava o programa de debates RG. Desde então, ela tem sido convidada a conceder várias entrevistas, seja na TV, rádio, jornais ou revistas, sempre em debates em torno do uso de maconha.

Apesar da agenda lotada, ela concedeu a seguinte entrevista, via e-mail, ao Jornal da Cidade:

JC - Acredito que toda a polêmica em torno do seu nome não se deu nem por causa das suas declarações, mas justamente pelas conseqüências de suas palavras (a perda do seu emprego na TV Cultura). De qualquer forma, você levantou uma discussão importantíssima nos meios de comunicação. Acredito que nunca se falou tão abertamente sobre o assunto como agora. Diante de tudo isso, como você avalia o seu posicionamento e os debates que ele gerou?

Soninha - É uma pena que muita gente tenha simplesmente me carimbado como maconheira ou viciada, sem ao menos ler o que eu escrevi. Mas, por outro lado, foi muito bom ver o debate sobre maconha acontecer em tudo quanto é lugar - na mídia, nas escolas, nas casas. Quanto mais informações honestas as pessoas tiverem, mais elas têm condições de formar uma opinião sobre o assunto. O que acontece hoje em dia é que elas têm uma opinião sobre o que nem conhecem!

JC - Você disse que fuma muito pouco. Você acredita que, de alguma forma, isso possa afetar negativamente o seu organismo?

Soninha - Na quantidade que eu fumo, acho que não. Mas se eu fumasse muitas vezes, tenho certeza que sim. Faz mal para a garganta, por exemplo.

JC - O que você acha do consumo de maconha por adolescentes? Você acha que os pais não deveriam ficar tão alarmados com o assunto?

Soninha - Bom, se os pais não souberem nada do que acontece na vida dos filhos, eles vão ficar alarmados com várias coisas - os jovens vivem passando por situações arriscadas, perigosas... Tomam várias decisões erradas...Fumar talvez nem seja a pior delas. Eles precisam tentar descobrir por que os filhos fumam - para enfrentar os pais? Para se afirmar diante dos amigos? Só por prazer? Mesmo que seja para enfrentar as autoridades, qual o grau do enfrentamento? O desejo de contestação pode ser o normal da idade ou pode ser o sinal de algum desajuste ou descontentamento mais grave. De qualquer modo, nesse caso, fumar seria um sinal - não o maior problema de todos. Não adianta impedir o fumo e continuar com um relacionamento problemático. É claro que fumar faz mal e pode prejudicar as suas atividades. É verdade que eles estarão correndo vários outros riscos pelo fato da maconha ser crime (podem se envolver com traficantes e estarão sujeitos à ação da polícia, que pode ser honesta ou desonesta). Mas é importante perceber que nessa hora os pais não podem ser um inimigo a mais...

JC - Você tem duas filhas adolescentes, não é mesmo? Elas já experimentaram? O que você acha delas fumarem?

Soninha - Elas nunca experimentaram e não parecem muito interessadas (muito pelo contrário). Mas, eu sei que um dia elas podem ter essa curiosidade, e eu prefiro saber - por quê, onde, com quem, como...

JC - Como os pais devem se comportar ao se depararem com um filho que fuma?

Soninha - O ideal seria conversar para descobrir qual o papel da maconha na vida deles - mas eles podem não querer falar (principalmente se nunca tiver havido diálogo antes). Se os pais não souberem como agir, ou se os filhos reagirem muito mal, eles precisam pedir ajuda - para um psicólogo ou um orientador da escola, por exemplo. Vale até uma consulta a um site ou revista! O que os pais não podem perder de vista é o conjunto da obra: quem é o filho deles? Como ele é? O que ele faz? Como ele age com os amigos, os mais velhos, os irmãos? Tudo isso tem de ser levado em conta - não é só porque um garoto fuma que a casa caiu e ele não presta mais, é só um maconheiro, viciado, marginal...

JC - Na sua opinião, a proibição do uso da maconha acaba incentivando adolescentes a fumar? Por que?

Soninha - Alguns são atraídos pela proibição, pelas próprias características da idade. Mas não dá para dizer que com a liberação o consumo ia diminuir - provavelmente a maconha ia mesmo perder a graça para alguns, mas outros talvez decidissem experimentar sem a ameaça da lei. Tudo isso é só hipótese.

JC - Você já calculou quantas entrevistas você deu desde que saiu da TV Cultura?

Soninha - Quase 100...

JC - Você acredita que as pessoas ainda têm medo de falar sobre o assunto?

Soninha - Sim! Muita gente pensa que só por falar em maconha, você está ressuscitando um assunto que estava enterrado. Que é só não falar e pronto, a maconha desaparece do mundo. E muitos imaginam que a maconha é mesmo um monstro capaz de desagregar a família, de transformar uma pessoa comum em um pervertido, doido, vagabundo, etc. E pensam também que, quanto mais se fala, mais os jovens vão se sentir atraídos. Não é bem assim... Talvez eles tenham atração de qualquer jeito, enquanto os pais desconhecem totalmente o mundo em que eles vivem.

JC - Você vai processar a revista Época? Por que?

Soninha -Sim, porque o destaque que eles deram para a foto e para o fato de eu fumar foi exagerado, descabido. Muita gente viu a capa ou o outdoor e não leu a matéria, e não sabe por que eu resolvi espalhar para o mundo inteiro que eu fumo. Muita gente nem me conhecia, e agora só sabe uma coisa: ela fuma. A idéia de participar da matéria era bem diferente de aparecer da forma como eu apareci. Houve um uso indevido da imagem - eu nunca posaria para uma foto sorrindo, para sair na capa dizendo eu fumo! - e tive vários danos por causa disso.

Atitude dos pais

Ao encontrar um cigarro de maconha no meio das coisas do filho, o primeiro pensamento dos pais é onde foi que eu errei?. Em alguns casos, a resposta a essa pergunta está no mundo globalizado de hoje, no qual a luta pela sobrevivência faz com que pais e mães deixem a educação do filho para outras instituições, como a escola por exemplo. Os pais que ficam ausentes da educação dos filhos abrem uma porta para a entrada das drogas, disse o dirigente regional de ensino Jair Sanches Vieira.

Ele salientou que o diálogo é fundamental para o esclarecimento dos jovens diante das drogas. Não é botar medo. Isso definitivamente não funciona. O que é preciso fazer é mostrar as conseqüências que o uso das substâncias podem trazer para o organismo do usuário, disse o dirigente regional.

Depois do fato consumado, ou seja, quando descobre que o filho já experimentou e está fazendo uso da maconha, os pais devem tomar muito cuidado para não provocar uma crise familiar ainda maior. Para a psicóloga Maria Regina Vanin, é fundamental entender o que está acontecendo para saber que atitude tomar. Às vezes, o adolescente experimentou apenas por curiosidade e não usa com freqüência. Mas, se a situação está num patamar mais avançado, a família não deve hesitar em procurar ajuda de especialistas, disse.

Se essa atitude for adotada no começo, fica mais fácil livrar o jovem do vício. Vale observar o comportamento do filho, tanto sintomas físicos como psicológicos, para avaliar em que grau está a situação.

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