Um final previsível, mas com prejuízos permanentes para a democracia argentina teve seu ápice com a renúncia do presidente Fernando de la Rúa, após intenso clamor popular na madrugada de 21/12/2001. O terrível epílogo de Fernando de la Rúa no poder parece confirmar uma previsão antiga que envolve a Argentina: que ao ter seu modelo econômico quebrado teria também o risco de uma convulsão institucional.
Não podemos achar que os episódios recentes sejam fruto de casualidade, desde que a democracia voltou a reinar em solo argentino em 1983, depois de sucessivos golpes militares. Nem tampouco podemos esquecer que os últimos três governos de Raul Alfonsín, Carlos Menem e De la Rúa causaram sérios danos a economia portenha. E conseguiram acabar com a paciência de uma sociedade que foi ludibriada por esses governantes em nome de uma falsa estabilidade econômica. A primeira conseqüência econômica da renúncia será o fim do regime de conversibilidade do peso argentino em relação ao dólar, iniciado em 1991.
O segundo desafio do Partido Justicialista é encontrar uma receita para superar a recessão que começou em 1998, e que se aprofundou nos dois anos de gestão De la Rúa. Segundo avaliação de analistas de mercado ao jornal Clarín, de Buenos Aires, a primeira medida a ser adotada deveria ser um plano de livre flutuação do dólar em relação ao peso argentino, com a volta do peso como ancora dos ativos e passivos financeiros para evitar-se um colapso do mercado interno e poder suportar o lançamento de um amplo plano de desenvolvimento social.
Esse plano de desenvolvimento social teria entre outros, um seguro desemprego, subsidio às camadas mais pobres da população, com o financiamento sendo realizado através de algumas alternativas que já estão sendo estudadas, tais como: emissão de novos pesos, emissão de bonos do tesouro nacional ou ainda por meio da criação de um imposto de emergência sobre as altas rendas das empresas ou das grandes fortunas. Por enquanto, essas avaliações não passam de meras especulações, uma vez que ainda existem muitas indefinições no plano político e uma forte depressão econômica e social. Enquanto a praça rosada - sede do governo argentino- arde em chamas, o FMI Fundo Monetário Internacional, se exime de qualquer responsabilidade frente ao processo que culminou com a falta de governabilidade argentina.
O representante do FMI Thomas Dawson, em entrevista coletiva concedida em Washington, reconheceu que já existem equipes do FMI estudando alternativas para ajudar a Argentina a enfrentar o futuro. Porém, rechaçou violentamente a responsabilidade do Fundo pela grave crise, e não respondeu à pergunta sobre a possibilidade do FMI adotar uma postura mais flexível devido à insatisfação popular, alegando que isso era apenas teoria. Na verdade, além dos fatores políticos, o grande responsável pela falência da economia argentina é o FMI, com sua política centralizadora e altamente retrógrada em relação ao desenvolvimento das nações de terceiro mundo. Resta- nos torcer para que nossa instável economia não venha a ficar também na rua da amargura. (Rafael Moia Filho - RG 6.711.407-6)