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Gestão participativa amplia responsabilidade

Redação
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Ao apresentar o tema para 150 convidados, entre empresários, diretores e gerentes de empresas e órgãos públicos de Bauru e região, Bojikian baseou-se na experiência realizada pelo Grupo Semco para mudar seu modelo de gestão de autocrático para participativo, o qual prevê a transparência das ações e a tomada coletiva de decisões.

O sucesso do caso foi relatado no best-seller “Virando a própria mesa”, de Ricardo Semler, presidente do Grupo Semco, conglomerado que atua na área de fabricação de equipamentos e prestação de serviços (consultoria ambiental, gerenciamento de propriedades, inventários de estoque, arquivos e documentos, manutenção volante, torres de telecomunicações e gerenciamento de infra-estrutura).

O processo de mudança de gestão no grupo teve início na década de 80 com a alteração na forma de tomada de decisões. “Queríamos dar uma virada na empresa, antes atuante somente na área industrial, mas precisávamos fazê-lo com a ajuda das pessoas que trabalhavam conosco. Para isso, tínhamos que envolvê-las, motivando-as a vibrar com o que faziam”, relata Bojikian.

Sem recursos financeiros e diante de pouca literatura sobre o assunto, a direção do Grupo Semco vislumbrou que a motivação somente iria ocorrer quando fossem oferecidas às pessoas oportunidades de participação no dia-a-dia da empresa. Uma das várias chances foi gerada a partir da mudança de postura das chefias, as quais passaram a propor que os problemas apresentados pelos funcionários fossem resolvidos por eles mesmos. “Nossa idéia era motivar o debate, para gerar produtos coletivos”, conta o executivo.

E assim foi feito em relação às escolhas do cardápio do restaurante – motivo freqüente de queixas - e do uniforme. “Para muitos, a mudança de uniforme é irrelevante na vida dos empregados, mas retrata com exatidão o processo de como pessoas muito simples podem tomar atitudes que alteram o cotidiano da empresa”, afirma Bojikian.

Sem esconder os salários

O desafio seguinte foi a reestruturação do plano de cargos e salários. Dentro do conceito de gestão participativa, que prevê direitos igualitários nas oportunidades de participação, todos os setores do grupo elegeram seus representantes, os quais formaram comissões para elaborar o projeto. Apesar do trabalho ter sido concluído em nove meses – quando uma empresa de consultoria o realizaria em três meses -, Bojikian aponta resultados positivos na iniciativa.

“Eliminamos aquele tabu de que valores de salário não podem ser comentados. No Grupo Semco, todo mundo sabe o salário de todo mundo e não há revolta, porque foram eles próprios quem definiram os critérios do plano de cargos e salários”, ressalta o executivo.

As outras oportunidades de mudança envolveram a escolha de cargos de gerência, que deixou de ser realizada pela direção e passou a envolver diretores, gerentes e liderados. “Como o processo foi coletivo, ou seja, a escolha foi de todos, que queriam um bom gerente, o tempo de integração do novo funcionário na empresa foi reduzido. Todos queriam ajudá-lo, porque sabiam exatamente onde ele tinha dificuldades e em quais áreas tinha conhecimento”, explica Bojikian.

O modelo de gestão participativa também foi aplicado na avaliação de funcionários, que foi acrescida de uma novidade: os liderados passaram a avaliar o líder. Agora, a avaliação se dá de cima para baixo e de baixo para cima.

As vagas privativas no estacionamento foram eliminadas, assim como as paredes que dividiam os escritórios e as fábricas. A participação nos lucros foi outro plano implantado, mas com um diferencial: os funcionários aprenderam a ler balancetes, a partir de curso desenvolvido com cartilha que trazia ilustrações do cartunista Miguel Paiva.

Direitos iguais

Dentro do ideal de igualdade, os horários foram flexibilizados, da direção à fábrica. Agora, o Grupo Semco está envolvido na desterritorialização do local de trabalho, para que os funcionários tenham a liberdade de trabalhar em diversos locais, não necessariamente na sua unidade da empresa. Ao longo do processo, houve resistências, mas muitas barreiras foram quebradas.

“Quando o funcionário descobre que têm direitos e pode exercê-los de maneira igualitária, o processo é enriquecido. Descobrem-se sinergias que não se suspeitava antes. Por isso, trabalhamos pela ausência de controle: você assume a responsabilidade. E não terminamos isto ainda. A continuidade é determinada pela cultura e pelas pessoas, razão pela qual cada setor do Grupo Semco tem um envolvimento diferente com a gestão participativa”, conclui Bojikian.

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