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Câncer: Manoel de Abreu é referência

Rose Araujo
| Tempo de leitura: 5 min

Considerado modelo no tratamento de tuberculose desde a sua inauguração, na década de 50, o Hospital Manoel de Abreu, que integra a Associação Hospitalar de Bauru (AHB), passou a ser classificado como referência no tratamento do câncer e infectologia. O Centro Regional de Oncologia, uma das unidades do hospital, está completando cinco anos de existência, atendendo cerca de 3.000 pessoas por mês através do Sistema Único de Saúde (SUS), sem a necessidade de formar filas de espera.

As qualidades da instituição ainda estão escondidas por trás da velha arquitetura e do estigma de centro de tratamento do tísico. Isso faz com que o Manoel de Abreu acabe sendo alvo de preconceito por parte de muitas pessoas que necessitam de tratamento para o câncer. “Tem gente que não aceita ser encaminhado para cá, pois teme não encontrar estrutura suficiente para sua cura. Essas pessoas são aquelas que nunca entraram nem para conhecer o hospital”, destaca o médico oncologista e hematologista Paulo Eduardo de Souza, um dos diretores do local.

Como o prédio do Centro Regional de Oncologia está localizado numa parte de pouca visibilidade no hospital, muitas pessoas que só conhecem o Manoel de Abreu pela fachada não se dão conta da estrutura que o Centro oferece.

Depois de passar por uma reforma em 1997, o local transformou-se numa área que destoa do restante do prédio antigo hospital.

As instalações são modernas, pintadas em cores quentes e com mobiliário que nem de longe lembra um hospital. “Nosso objetivo é prestar um atendimento o mais humanizado possível aos pacientes, para que eles não sofram ainda mais com a doença”, disse Cazuo Arakawa, radioterapeuta da instituição.

Para a quimioterapia, o Centro possui uma ampla sala, onde ficam os pacientes que vão receber pequenas doses de medicamento, por cerca de meia hora ou 40 minutos. Os que necessitam ficar mais tempo recebendo o tratamento são colocados em quartos individuais, com aparelhos de televisão para ajudar a passar o tempo.

A radioterapia, que é aplicada em menos de cinco minutos, não necessita de espaço para repouso. No setor, há duas salas voltadas para a aplicação da irradiação, uma delas monitorada por câmera de vídeo ligada a um computador, na qual o funcionário do hospital acompanha o paciente.

A auxiliar de cozinha Adriana Alquatti, mãe de Tuany, de 4 anos - portadora de leucemia linfólica aguda - diz não ter do que reclamar em relação ao tratamento da filha. “Assim que a doença foi descoberta, a Tuany iniciou o tratamento. Nós sempre tivemos todo o apoio, tanto do hospital, quanto da Associação Bauruense de Combate ao Câncer (ABCC)”, diz.

Sem condições para comprar alguns medicamentos necessários ao tratamento, Adriana conta que recorre com freqüência à entidade assistencial. “Eles me dão os remédios que a minha filha precisa e alguns alimentos, como leite e Sustagen”, salienta.

Muito agitada e esperta, Tuany recuperou suas energias desde que iniciou a quimioterapia, de acordo com sua mãe. “Quando ela chegou aqui já estava sem andar por causa da leucemia. Hoje melhorou 100%”, salienta.

Interação

Com 32 anos trabalhando na área de oncologia, o médico Cazuo Arakawa ressalta a importância de valorizar as necessidades humanas do paciente. “O tratamento de qualquer tipo de câncer exige um acompanhamento multidisciplinar, pois a doença mexe com o corpo e a mente da pessoa”, explica.

Por isso, os setores de quimioterapia, radioterapia e cirurgia trabalham em conjunto. “Às vezes, a operação deve ser priorizada em detrimento da quimio e da radioterapia; em outros casos, o tumor está avançado e é preciso atacá-lo com a radioterapia antes de fazer a cirurgia. Cada caso pede um tipo de orientação”, destaca o oncologista Paulo Eduardo de Souza.

Para dar apoio psicológico aos pacientes e seus familiares, o Centro Regional de Oncologia mantém uma parceria com a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), através da sua Clínica de Psicologia Aplicada (CPA).

Já o lado social do atendimento fica por conta da ABCC. A entidade auxilia os pacientes através de doação de remédios, alimentos, custeio de exames (quando não cobertos pelos SUS), auxílio viagem, transporte, empréstimo de perucas, cadeiras de roda, muletas, entre outras coisas.

De acordo com a assistente social da ABCC, Gilcéia Peres, o atendimento visa proporcionar ao portador de câncer um tratamento médico e psicológico adequados. “Nós procuramos despertar nos familiares uma consciência mais aprofundada sobre a doença, para que eles possam orientar e ajudar os portadores, dando apoio às suas necessidades emocionais”, salienta.

A ABCC mantém ainda, com a renda da promoção McDia Feliz, da rede de fast food Mc Donalds, uma brinquedoteca no pátio do Hospital. Criado em 1996, o espaço é voltado para pacientes de zero a 14 anos e tem como intuito promover a motivação emocional necessária ao tratamento, além de entrosar pacientes e familiares.

Cura já chega a 60%

De acordo com dados apresentados pelo radioterapeuta Cazuo Arakawa, atualmente o índice de cura de câncer atinge 60% dos casos. Em 1950, esse número não ultrapassava 35%. A previsão é de que, em 2015 90% dos pacientes com tumores malignos consigam se livrar do problema com os tratamentos. “Hoje o câncer já não é mais encarado como sinônimo de morte. A expectativa de vida está cada vez mais presente”, salienta.

Ele ressalta que um dos avanços da medicina em relação à oncologia é a possibilidade de estender a sobrevida do paciente em bom estado de saúde. “Claro que isso ainda depende do tipo de tumor e do seu estágio de evolução”, diz o oncologista e hematologista Paulo Eduardo de Souza, um dos diretores do Centro Regional de Oncologia de Bauru.

Para se atingir o patamar de cura atual foi necessário interagir métodos de tratamentos, como a quimioterapia, a radioterapia e a cirurgia. “Além disso, é preciso dar atenção especial ao lado psicológico do paciente, que não pode ficar desamparado em momento algum nesse sentido”, destaca a médica hematologista Viviane Alessandra Capelluppi, do Centro Regional de Oncologia.

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