Uma relação sexual interminável, orgasmos múltiplos, posições mirabolantes na cama, orgias. Essas são algumas das definições que vêm à mente da maioria das pessoas quando ouve falar de sexo tântrico. Antes de qualquer coisa, é preciso deixar claro que todas estão completamente ou em grande parte erradas. O sexo tântrico é como um buraco negro espacial: todo mundo já ouviu falar, imagina o que seja, mas não sabe o que é na realidade.
A falta de conhecimento se justifica. Originado na Índia, em 6.000 a.C., entre o povo dravda, o tantra - filosofia naturalista, sensorial e matriarcal, que ensina como obter saúde física e evolução interior por meio do prazer, do qual deriva o sexo tântrico - ficou banido por milênios, sendo transmitido apenas oralmente até ser redescoberto e estudado. Hoje, é praticado, na maioria dos casos, por pessoas que têm alguma afinidade com a cultura e as filosofias indianas.
Segundo o professor de ioga e tai chi chuan, Fernando Lima, que também dá aulas sobre tantra, a procura pelos conhecimentos mais aprofundados do sexo tântrico não é tão grande porque muita gente ainda tem dificuldade em expressar a sua sexualidade e trata o assunto com certo preconceito. A curiosidade, porém, é grande, mesmo que se origine de conceitos deturpados que não são de hoje.
Os ingleses, colonizadores da Índia até a metade do século 20, foram os primeiros ocidentais a entrar em contato com o tantra e divulgá-lo sem entender ao certo do que se tratava. “Reprimidos como eles eram, viram no tantra apenas o sexo e passaram a escrever como se fosse só issoâ€, diz Lima. O resultado é que o sexo tântrico passou a ser mais lembrado pelo tempo de duração das relações que proporciona do que por qualquer outra coisa, uma injustiça.
O tempo é importante dentro dos conceitos do sexo tântrico mas não é seu ponto principal. “Um tântrico pode fazer sexo demorado ou rápido e vai ser tântrico. Uma pessoa que não tenha o conhecimento pode ficar três horas na cama que não vai estar fazendo sexo tântricoâ€, comenta o professor. Tudo depende de como a relação é conduzida.
Sem instinto
A primeira diferença do sexo tântrico com o sexo “convencional†é que ele não é instintivo. “Muitas pessoas lidam como o sexo da mesma maneira que os animais, de uma forma instintiva: deu vontade, transa, tem orgasmo e acabouâ€, comenta Lima. “O sexo tântrico não busca o prazer dessa maneira, não busca a ejaculação rápidaâ€, completa. Segundo o professor, a ejaculação é como um espasmo, destinado à reprodução, diferente do orgasmo, entendido como a capacidade de sentir prazer.
O sexo tântrico separa as duas coisas em busca de uma sensibilidade e um envolvimento que proporciona muito mais prazer. Para isso, o homem precisa desenvolver a capacidade de controlar a ejaculação ao máximo. Para a mulher, é praticamente a mesma coisa, só que o orgasmo não deve ser visto como o fim do prazer. A mulher pode ter múltiplos orgasmos indefinidamente. A prática da retenção eleva o prazer em níveis altíssimos, e a um superorgasmo. “O importante é saber que reter não é reprimir. Aprender a reter é desenvolver novas maneiras de sentir e ampliar o sentirâ€, lembra Lima.
É ai que entra a importância do tempo. A penetração, no sexo tântrico, é o estágio final de uma relação que começa ainda na mente e continua no primeiro contato de pele, no olhar (leia no boxe). Sem tempo suficiente para todos esses passos serem desenvolvidos, Lima recomenda que a relação seja adiada para outro dia para evitar frustrações.
Sem posições mirabolantes
Quem não consegue imaginar uma relação sexual sem orgasmo deve estar se perguntando: mas que graça tem isso? De acordo com o professor de sexo tântrico, a graça é a capacidade de ter um orgasmo muito mais intenso. “Você se torna um ser sexual e pode ter orgasmos contínuos porque vai para a relação para se relacionar e não para ir direto aos genitaisâ€, diz.
Para isso não são necessárias posições absurdas. “Sexo tântrico não tem nenhuma relação com o Kama Sutraâ€, explica Lima, se referindo ao antigo livro de práticas sexuais de origem indiana. As posições devem ser confortáveis e privilegiar o contato entre os parceiros porque o envolvimento é o que conta. “Uma relação sexual deve ser tranqüila, envolver a fala, o olhar, o beijo, o cheiro e a exploração da sensibilidade tátil do corpoâ€, ensina o professor.
Os sete níveis do sexo *
1º - Mental Quando uma pessoa deseja outra e visualiza um ato de amor com ela, já começa a desencadear forças que têm valor tântrico. Sua mentalização encontra um campo favorável, ou até mesmo neutro, poderá se realizar. No entanto, se a outra pessoa não a quer, há leis naturais que impedem a violentação da liberdade.
2º - Olhar O olhar tem um poder extraordinário de estabelecer ligação profunda entre as pessoas e de desencadear excitação sexual. É um recurso que, em público, em menos de um segundo, sem que ninguém perceba nada, pode estabelecer vínculos definitivos entre as pessoas. Durante um simples beijo ou durante um contato sexual de último grau, o uso do olhar pode superdimensionar as sensações.
As pessoas que beijam ou fazem amor de olhos fechados estão perdendo um upgrade precioso. Um iniciado tântrico, que tenha desenvolvido o poder do olhar, pode produzir excitação sexual numa pessoa sem tocá-la. É importante frisar que neste como nos demais níveis, o catalisador é a reciprocidade.
3º - A palavra Durante um contato sexual a palavra é fundamental. Um diálogo picante pode projetar os amantes para os limites da excitabilidade.
4º - O toque O toque pode ser estimulante ou desestimulante. O toque é uma arte que precisa ser desenvolvida. Nenhum exercício é mais eficiente do que estar atento a cada toque aplicado no parceiro.
5º - O beijo Beijar já é fazer amor. Experimente beijar com mais suavidade. Explore mais os lábios, deslize-os, alterne a pressão. Toque carinhosamente a ponta da língua no lábio do parceiro.
6º - A carícia corporal Cada pessoa sente mais prazer em determinadas áreas e com diferentes formas de toque e pressão. Fale com seu parceiro para que ele não tenha que adivinhar.
7º - O ato O contato sexual tântrico não deve ser realizado com pressa. Se não há tempo para isso, não se deve partir direto para a penetração. Deixe para uma ocasião mais apropriada.
* de acordo com o Tantra
Mais prazer
Quem conhece o tantra afirma que tem atualmente uma vida sexual muito mais prazerosa do que tinha antes. Para o estudante universitário Fabiano Machado Filardo, que já conhecia a ioga, a descoberta do sexo tântrico mostrou o quanto a relação sexual “convencional†é mecânica apesar do orgasmo. “O sexo tântrico é mais amplo, mas rico, faz com se tenha uma sensibilidade maior de tudo. O beijo passa a ser sexual, o abraço também, tudo é voltado para o sensorial, para o toque. Por isso é mais prazerosoâ€, avalia. “Isso não quer dizer que o sexo ‘convencional’ precise ser deixado de lado, a gente fica com as duas opçõesâ€, comenta.
Para a também universitária Paola Oliani Vieira, o sexo tântrico proporciona um nível de sensibilidade muito grande entre os parceiros. “A gente se sente mais presente no ato, mais conscienteâ€, diz. Mas ela salienta que não é de uma hora para outra que isso acontece e sim de uma maneira gradativa, que exige dedicação, entrega e também a superação de algumas barreiras culturais. Uma vez em contato com a filosofia, porém, nada mais prazeroso. “Muda tudo e para melhorâ€, afirma.