Cultura

Sebos

Da Redação
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Os únicos que vendem livros usados em Bauru. Essa é a situação da “rede” de três sebos comandada pela família Bau (assim mesmo, sem acento) na região central de Bauru.

As lojas não ficam mais do que 100 metros distantes umas das outras e a vista interior das três também é praticamente a mesma: pilhas e mais pilhas de livros acomodadas em todos os espaços possíveis, fitas de vídeo, CDs, LPs, gibis, revistas e até doces, como no caso da banca de seu João Bau. Foi ele quem, há dez anos, começou a vender livros de segunda mão na Vila Falcão.

Na verdade, a situação de monopólio vivida pelos sebos não favorece culturalmente a população. Ainda mais se for levada em conta a importância de Bauru, uma cidade de referência regional que abriga sete instituições de ensino superior. Grande parte do público freqüentador desses sebos, por exemplo, é composta por universitários, sejam eles da área das ciências biológicas, exatas ou humanas.

É impossível, aliás, traçar um perfil exato de quem vai “garimpar” raridades e chega a ficar três horas procurando por elas. “Não tem classe social: é do favelado ao aristocrata, de 8 a 80 anos de idade”, garante Luiz Carlos Matielo, funcionário de um dos dois estabelecimentos que ficam na Rua 13 de maio (o outro, o primeiro a ser aberto, fica aos cuidados de João).

Até a procedência das pessoas que estão habituadas a procurar antigüidades nessas lojas é variada. Vem gente desta e de outras regiões. Entre as cidades de origem desses “garimpeiros” estão Botucatu, Lençóis Paulista, São Manoel, Jaú e, por incrível que pareça, Limeira (região de Campinas) e a própria Capital: “Nos feriados prolongados vem gente até de São Paulo”, revela Antonio Bau, o filho de João que está à frente do sebo da Avenida Rodrigues Alves.

Raridades

Não é de se espantar que venha gente de outras regiões: boas e raras obras não faltam nas estantes. O excelente livro “1984”, de George Orwell, é uma prova. Em um estado entre o ótimo e o bom, ele pode ser adquirido por menos de R$ 15,00. Uma amostra das raridades, por sua vez, é a obra “Histoire du Consulat et de L’Empire”, do escritor e político francês do século 19 M. A. Thiers.

Impresso em 1845, o livro é tido como difícil de ser achado até pelos franceses. Tanto o “1984” como o “Histoire...” podem ser achados na loja da Rodrigues.

Mesmo estando sozinhos no ramo em Bauru, os Bau exercem uma função notável para a cultura local, seja ela erudita ou popular: preservar a leitura, forma mais eficaz (e talvez menos utilizada) de se obter conhecimento no meio da avalanche de informações do século 21.

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