Gostosos e aconchegantes, os travesseiros têm um papel muito mais importante na qualidade do sono do que a maioria das pessoas imagina. Além de conforto, esses acessórios oferecem um apoio indispensável ao corpo e podem prevenir diversos males. Mas é preciso saber usá-los, pois a escolha mal feita também pode significar problemas e dores.
Em média, as pessoas precisam dormir entre seis e oito horas para a manutenção da saúde. Enquanto dormem, o organismo sofre um processo de revisão e ordenação em que tudo o que foi vivido, sentido e aprendido durante o dia é colocado no seu devido lugar. É como organizar a mesa depois de um dia de trabalho para se começar tudo de novo no dia seguinte.
Segundo especialistas, além de um ambiente tranqüilo, o corpo precisa estar numa posição neutra e relaxada para que as horas de sono sejam suficientemente reparadoras. Os médicos chamam de posição neutra uma postura que mantenha a coluna vertebral - ponto de sustentação de todo o corpo - totalmente alinhada e relaxada, respeitando-se suas curvas anatômicas.
“O travesseiro é um apoio, um calço que a pessoa usa para manter essa posição anatômica sem sofrer uma agressão muscular”, explica o ortopedista Aliomar Ferri Amaral.
“É um auxiliar que usamos para nos acomodarmos durante a noite sem forçar o corpo numa posição inadequada”, completa o ortopedista Alberto Sala Franco.
Eles explicam que a escolha e a utilização do travesseiro devem basear-se na posição que cada pessoa usa para dormir. É isso que vai nortear a opção por um acessório mais alto ou baixo, mais firme ou macio, e assim por diante.
“A maioria das pessoas dorme na posição fetal. Ao derrubar a cabeça lateralmente, voce sofre hiperflexão e hiperextensão do pescoço. O travesseiro adequado é aquele cuja altura oferece apoio para manter a cabeça alinhada. Uma altura que preencha o espaço existente entre o ombro e o pescoço”, explica Amaral.
Ele alerta que o travesseiro baixo mantém a cabeça pendente. Mas se ele for alto demais, também causará uma flexão do pescoço. A medida correta é a que permite à cabeça ficar centralizada em relação às costas, como quando se está de pé.
Para quem tem o hábito de dormir com a barriga para cima, a orientação dos médicos é usar um travesseiro baixo. Eles alertam que o alinhamento adequado nesta postura é aquele que mantém o queixo em ângulo reto (90 graus) com o pescoço. Dormir sem o travesseiro vai forçar a cabeça para trás.
“Essa posição também força a região lombar da coluna, que fica suspensa. Não é uma posição muito adequada”, observa Franco. Mas para quem gosta de dormir assim, uma dica é usar também uma almofada sob os joelhos para acomodar melhor a coluna lombar sobre o colchão”.
Dormir de bruços também não é indicado, pois obriga o indivíduo a manter uma rotação de cabeça. No entanto, especialistas admitem que é uma das posições mais relaxantes. Geralmente, é assim que as pessoas se jogam na cama quando estão muito cansadas.
Quem opta por dormir de barriga para baixo também pode usar travesseiros para dar sustentação à coluna vertebral. Ao “abraçar” um desses acessórios, a pessoa assume uma posição semilateral. O uso de um segundo travesseiro sob a cabeça alivia a torção do pescoço.
Amaral e Franco salientam que a posição de dormir é uma coisa muito individual. Quem se habitua a determinada postura dificilmente se acostuma com outra. Por isso, eles destacam que o importante é garantir o alinhamento e relaxamento da coluna.
Alterações
A coluna vertebral é formada por ossos (vértebras) intercaladas por discos intervertebrais e articulações. Por fora, ela ganha sustentação graças aos ligamentos e aos músculos. Por dentro das vértebras passa a medula, que se ramifica em diversos nervos que se prolongam pelo corpo.
A posição inadequada durante o sono pode comprimir, esticar ou torcer essas estruturas e desencadear dores. “Se você sofre um pinçamento de nervos, por exemplo, pode acordar com formigamento nos braços, como se tivesse dormido sobre eles”, comenta Amaral.
O torcicolo é outro exemplo. Ele é conseqüência de um enrijecimento dos músculos por hiperextensão. Outra situação comum é a dor na coluna lombar (na altura da cintura), que ocorre quando a pessoa assume uma postura que acentua essa curvatura por tempo prolongado.
Também há quem acorde com dor de cabeça, principalmente na região da nuca. Segundo os médicos, isso ocorre porque os músculos da região cervical ligam-se à base do crânio. A hiperextensão acaba levando à dor tensional.
“Toda dor é uma defesa do organismo. É um alarme avisando que algo está errado. O que acontece é que as pessoas, ao invés de descobrir a causa da dor, tomam logo um remédio e não dão bola para o alarme. Uma dor persistente precisa ser avaliada por um médico”, salienta Franco.
“Um hábito inadequado que causa dores hoje pode levar a alterações ósseas e evoluir para uma patologia a longo prazo”, completa Amaral.