Dados divulgados pela Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) mostram que, pela primeira vez desde 2001 (ano do racionamento no País), foi registrada no ano passado uma recuperação do consumo de energia elétrica em Bauru. Os números incluem consumidores residenciais, comerciais e industriais, mostrando crescimento de 5,24% no consumo de 2003 sobre o ano anterior: 579.174 MWh contra 550.328 MWh.
Mesmo assim, o consumo não retornou nem mesmo ao patamar registrado pela CPFL na cidade em 1999, que foi de 587.446 MWh, menor do que no ano 2000. Ao que tudo indica, os brasileiros teriam realmente aprendido a economizar energia quando um risco de apagão no País forçou o racionamento anunciado pelo governo federal em 2001.
O diretor de planejamento da comercialização da CPFL, Marco Antônio Oliveira Siqueira, diz que o aumento nos níveis de consumo - conforme ocorrido no ano passado - tem se destacado em Bauru entre as cidades da área de abrangência da empresa, que atende cerca de 3 milhões de consumidores no Interior paulista.
“No ano passado, o consumo em toda a região Sudeste cresceu em torno de 3,5% sobre 2002, e no Brasil foi menos de 2%, enquanto que em Bauru houve crescimento de 5,24%. A CPFL como um todo cresceu 5%. Mas basicamente, o que explica a manutenção dos níveis de consumo em baixa desde o racionamento é a mudança de hábitos somada às dificuldades financeiras. As pessoas viram que é possível economizar”, avalia Siqueira.
Para ele, a partir do momento em que houver uma recuperação da renda dos trabalhadores, o consumo de energia por parte de consumidores residenciais e comerciais pode subir. “Já no segmento industrial, a maioria das empresas já voltou aos patamares registrados antes do racionamento porque já eram eficientes (em planejamento energético)”, acrescenta.
De qualquer forma, Siqueira afirma que os níveis de consumo que vêm sendo mantidos desde 2002 não preocupam a empresa. “A CPFL está equilibrada e ajustada para essa nova realidade. Nossa curva de mercado está dentro das expectativas, e para 2004 as estimativas são de que o nível de consumo seja parecido ao do ano passado.”
Hábitos
A dona de casa Maria de Lourdes Moretti, 55 anos, diz que os hábitos em sua casa mudaram bastante desde a época do racionamento de energia. De acordo com ela, a segunda geladeira existente na casa nunca mais foi ligada. Por outro lado, a máquina de lavar roupas voltou a ser usada com mais freqüência.
“As luzes passaram a ser usadas por todos (são quatro pessoas na casa) com mais cuidado, meu filho já não usa mais tanto o aparelho de som, entre outras coisas. Mas agora, o valor da conta de luz está quase voltando ao que era antes do racionamento, porque a tarifa tem subido muito”, conta. Na última semana, a CPFL anunciou reajuste médio de 12,74% em suas tarifas.
Michel Miguel Júnior, 36 anos, diz que continua usando pouco o forno microondas, o freezer permanece desligado, as lâmpadas foram trocadas por fluorescentes (mais econômicas) e até mesmo um televisor foi desligado e encaixotado novamente.
“Em casa nós conseguimos reduzir bastante o consumo de energia. Acho que as lições de economia que aprendemos na época do racionamento foram importantes para mostrar que é possível reduzir os gastos com eletricidade.”