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Diocese de Bauru comemora hoje 40 anos

Gimar Dias
| Tempo de leitura: 7 min

Os 40 anos de instalação da Diocese de Bauru vão ser oficialmente comemorados hoje em celebração que será presidida pelo bispo dom Luiz Antonio Guedes, às 16h, na Catedral do Divino Espírito Santo. A cerimônia contará com a presença de todos os padres da diocese, religiosas e leigos.

Os três bispos que passaram por Bauru no passado ajudaram a construir, cada um à sua maneira, a sólida história da Diocese. O primeiro, dom Vicente Ângelo José Marchetti Zioni, abriu as portas da recém-criada Diocese de Bauru, em 1964. Depois, em 1968, chegou dom Cândido Padin, que marcou sua história na cidade num período político conturbado. Em 1989, assume dom Aloysio José Leal Penna, hoje arcebispo da Arquidiocese de Botucatu.

Dom Vicente Zioni, paulistano do Ipiranga, conta que recebeu com surpresa a notícia de que assumiria a nova diocese criada pelo Vaticano. “Foi uma coisa totalmente inesperada. Agora, como bispo, percebi que começava a me realizar. De modo que cheguei com toda pujança, energia e entusiasmo a Bauru. Eu já era bispo há nove anos em São Paulo”, relata. Embora reconheça que seu tempo em Bauru tenha sido rápido, dom Vicente observa, porém, que trabalhou muito para consolidar a nova diocese.

“Tudo tinha que ser feito. Organizei e preparei o terreno para as futuras paróquias. Mesmo assim, criei seis delas. Fiz o Mosteiro das Concepcionistas e depois o seminário de adultos”, lembra. Nos quatro anos em que permaneceu em Bauru, ele destaca com uma memória fertilizante, formada nos seus 92 anos de vida, a bênção que concedeu à primeira edição do Jornal da Cidade, em agosto de 1967.

“Nessa época, morava na Paróquia São Judas, no Jardim Estoril. Toda manhã enchia um ônibus de seminaristas. Eles iam assistir as aulas no Colégio La Salle, ao lado da Igreja Nossa Senhora Aparecida.” Dom Vicente diz que a criação da Diocese de Bauru se deve muito à dedicação do padre Pedro Paulo Koop, na ocasião vigário da Igreja Santa Terezinha. “Como vigário, foi encarregado pelo arcebispo dom Henrique de dar os passos necessários para fazer de Bauru uma diocese. De modo que deve-se muito a ele. Tanto é que, logo depois, a Santa Sé o fez bispo de Lins”, conta.

Antes de chegar a Bauru para iniciar sua missão diocesana, o arcebispo emérito de Botucatu – cidade onde dirige, atualmente, a entidade Casa dos Meninos – cumpriu uma extensa atividade. Ele nasceu em São Paulo, no bairro do Ipiranga, onde foi bispo auxiliar (1955-1964). “Nasci perto da colina histórica do Museu do Ipiranga, mas como ela era na época, sem aqueles jardins”, acrescenta. No seu currículo consta sua passagem como professor e reitor do Seminário Central do Ipiranga (1938-1955); reitor do Seminário e diretor administrativo da Faculdade Teológica (1947-1955); vigário geral da Arquidiocese de São Paulo (1947-1955); fundador do Secretariado Nacional de Defesa da Fé (1939-1950); diretor arquidiocesano do Apostolado da Oração; e dirigente dos Seminários da Arquidiocese de São Paulo até 1955.

Dom Cândido Padin

A passagem de dom Cândido Rubens Padin por Bauru foi registrada por uma atuação destacada como bispo. Permaneceu no comando da Diocese por mais de 20 anos (1969-1990), deixando-a solidificada e renovada com as orientações do Concílio Vaticano II. Dom Cândido Padin, 89 anos, é um dos bispos brasileiros que mais se projetou nacional e internacionalmente no século 20.

Nascido em 1915 (São Carlos/SP), participou, sempre com destaque, da vida religiosa e política brasileira, num período marcado por profundas transformações sociais, políticas e religiosas. Em livro da Editora da Universidade do Sagrado Coração (Edusc), ele apresenta ao público memórias de uma longa vida de dedicação à vocação religiosa, pastoral e de educador, daquele que foi um dos principais religiosos da Igreja Católica no Brasil.

Dom Cândido entrou para o Mosteiro de São Bento, em São Paulo, destacando-se imediatamente como exímio educador, atividade que sempre exerceu simultaneamente ao desenvolvimento de sua carreira religiosa. Assessorou a Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB) e o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), onde marcou presença de maneira definitiva no Documento de Medellín (1968), com a chamada Educação Libertadora, lida, estudada e aplicada em toda a América Latina. Foi também vice-reitor da Pontifícia Universidade Católica (PUC), em São Paulo.

Dom Cândido foi eleito Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro e assistente Nacional da Ação Católica Brasileira, nos tempos difíceis da ditadura militar no Brasil. Destacou-se como um grande defensor da democracia e da justiça social no período da repressão às liberdades democráticas e desrespeito aos direitos humanos.

“Minha presença em Bauru como bispo diocesano ocorreu de 1970 a 1990. Inicialmente, caracterizou-se por ser um período imediatamente seguinte ao término do Concílio Vaticano 2.º”, lembra Padin. Ele explica que as novas orientações do Concílio exigiram uma aplicação “prudente e adatada às características sociais da Diocese”, levando em conta as diferenças entre as classes sociais.

“Por outro lado, recomendava uma ampla participação dos leigos nas tarefas pastorais diocesanas. Tudo isso exigia uma mudança no ordenamento pastoral, acentuando a adoção de um amplo planejamento pastoral em cada paróquia e nos programas diocesanos”, relata. O bispo emérito diz que encontrou compreensão e participação do clero para a efetivação das transformações.

“Considero gratificante, de um modo geral, a participação dos fiéis na colaboração dada não só na paróquia como também nos programas de âmbito diocesano. Ressalto particularmente a colaboração para a introdução do sistema de dízimo como participação dos fiéis na manutenção dos ministros eclesiásticos e das atividades pastorais”, observa.

Dom Padin ressalta que os leigos tornaram-se participativos e criativos em todas as atividades de responsabilidade da Diocese. “Ao celebrarmos os 40 anos da Diocese, só nos cabe agradecer a Deus pelas graças que nos concedeu, aos bispos, sacerdotes, religiosos e leigos que assumiram suas responsabilidades na realização do anúncio e prática do Evangelho em nossa realidade social”, finaliza.

Dom Aloysio José Leal Penna

Antes de assumir a Diocese de Bauru, dom Aloysio José Leal Penna, 71 anos (natural de Piquete/SP), conheceu de perto as amarguras do povo nordestino. De 1984 a 1987, foi bispo de Paulo Afonso, na Bahia. Depois, em 1988, assumiu a função de coadjutor da Diocese de Bauru, trabalhando ao lado de dom Cândido Padin.

A partir de 1989, assumiu de vez a direção da Diocese e foi seu bispo até 2000. “Cheguei com muito gosto e prazer. Era um novo desafio, diferente de Paulo Afonso. Encontrei um clero bastante ativo. Tive contato com as irmãs Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, que administram a USC. Me envolvi com elas na jornada da evangelização”, lembra.

Hoje arcebispo da Arquiodiocese de Botucatu, dom Aloysio conta que chegou a Bauru disposto a trabalhar pelas vocações sacerdotais. “Reabri o seminário e ali começamos a trabalhar pelas vocações. Se há uma coisa que devemos deixar sólida para uma diocese são os futuros padres”, observa. No plano pastoral, o arcebispo conta de uma grande pesquisa realizada com o apoio da USC e de outras instituições que mapeou dados da pastoral. “Nesse trabalho, foram ouvidas 36 mil pessoas de todos os segmentos sociais e de todas as partes da Diocese. Esse estudo, ainda hoje, é um documento muito importante.”

Através desse levantamento, foi feito um planejamento pastoral. “Fizemos um diagnóstico da Diocese com as principais necessidades. O projeto ganhou o nome ‘Comunhão e Participação’, o Procompar. Unimos todas as forças, os padres, os leigos, junto com o bispo. Sempre trabalhei muito com os leigos”, relata.

“Os frutos foram bastante bons. A Igreja, continuamente, deve estar se renovando. Nesse tempo que passei em Bauru, trabalhei, paralelamente, oito anos na CNBB. Nesses anos, coordenei nacionalmente, as Pastorais da Família, da Educação e da Juventude. Desde 1992, sou presidente do Conselho Nacional da Pastoral da Criança”, conta.

Ao povo de Bauru, dom Aloysio pede que se sinta co-responsável pela Igreja. “Os leigos têm muitas iniciativas boas no campo profissional e devem ter o mesmo espírito de colaboração, criatividade e iniciativa com as coisas da Igreja, para que nós possamos atingir toda a comunidade numa dimensão missionária.”

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