Pesca & Lazer

Peixes se 'escondem' no inverno

Roberta Mathias
| Tempo de leitura: 4 min

Quando a temperatura cai, os pescadores “diaristas” torcem o nariz, pois sabem que aumentam as dificuldades na pescaria. A água esfria e o peixe, aparentemente desaparece. Mesmo naquela lagoa, onde todos os dias o pescador encontrava as tilápias ativas, quando o inverno chega, a quantidade de fiscadas é reduzida a quase zero.

Os aficcionados aproveitam o período para programar as próximas aventuras e cuidar da tralha, o que também é muito importante. Quem tem oportunidade, muda de espécie, como as trutas, por exemplo, que adoram a água fria, ou mudam de local, à procura de condições mais adequadas à pescaria.

O pescador carioca Márcio Big Mattos, 49 anos, tem a vantagem de viver no Rio de Janeiro, onde raramente depara-se com dias frios, mas quando isso ocorre, é preciso buscar outras alternativas. “O que nos atrapalha a vida nesses dias é que as frentes frias, normalmente, vêm acompanhadas de mau tempo, vento e de um mar mais agitado”, salienta.

Mattos diz que nos dias frios encontra dificuldades e para localizar seu peixe preferido, o robalo. “O vento encrespa muito a superfície da água e o robalo acaba comendo mais no fundo, ou mesmo não comendo... Ficamos nós, pescadores cariocas, não acostumados ao frio, tremendo como varas verdes, mesmo a temperaturas não tão abaixo dos 15 a 17 graus.” E ele brinca: “Isso deve ser motivo de risos para nossos compatriotas mais ao sul, pois estão acostumados a pescar em situações muito mais adversas”.

O pescador porém não deixa de praticar seu esporte preferido, opta por uma outra espécie. “Sigo em busca das anchovas, que nos proporcionam uma bela briga, mas que não exigem tanta técnica para serem pescadas”, ensina. Com informações adequadas e um pouquinho de empenho, o pescador consegue encontrar uma solução criativa para não passar o inverno inteiro sem pescar.

Por isso, é importante também entender o porquê do “desaparecimento” dos peixes nesse período, assim fica mais fácil adotar medidas para evitar estresse quando os peixes, simplesmente, não aparecem. O site Pescarte traz muitas informações importantes sobre o comportamento dos peixes e aponta alguns estudos esclarecedores.

A partir de um grupo de pesquisa coordenado pelo professor Antonio Carlos Amorim, que faz parte do Grupo Interdisciplinar de Pesca Esportiva (Gipe) da Unicamp, as biólogas Daniela Maria Ribeiro e Maria Eleonora Feracin da Silva concluíram que muitas das observações dos pescadores que passam horas olhando o comportamento dos peixes à beira do rio também têm fundamento.

Em uma das pesquisas desenvolvidas pelos acadêmicos buscou-se responder à tão falada pergunta: “Por que é tão difícil pegar peixes no inverno?”. Com esse questionamento, o grupo informa que existem várias evidências sobre o assunto.

Os vertebrados ectotérmicos (aqueles cuja temperatura corpórea é igual à temperatura ambiente), em se tratando de pesca - os peixes -, respondem de forma diferente à cada período do ano. “As mudanças metabólicas que ocorrem nos peixes são respostas diretas das alterações das condições ambientais durante as estações do ano”, informa o grupo.

Diante disso, segundo o estudo, no verão, quando as temperaturas variam de 26 a 32 graus, os dias são mais longos - com até 14 horas - e a salinidade baixa (no caso da água salgada), faz com que o metabolismo dos peixes se eleve, grande parte da reserva corporal de gordura é utilizada para fornecer energia ao peixe e ele parte à procura de alimentos.

Nesse período, o peixe torna-se mais leve, o estoque de gordura se restringe a 2% do peso seco do peixe e o crescimento acelera. “No período de verão, os peixes tornam-se mais ativos na procura de alimentos para acumular reservas para serem queimadas no inverno”, acrescenta o grupo.

Já no inverno, quando a temperatura da água do mar varia de 12 a 20 graus, o dia é mais curto e a salinidade eleva-se, o metabolismo dos peixes torna-se mais lento e a taxa de crescimento diminui. “A lipogênese é estimulada, a porcentagem de gordura corporal aumenta (5 a 10% do peso seco do peixe), o peso das gônadas (glândulas sexuais) e a produção do hormônio testosterona também se elevam. O animal poupa energia, evitando sair à procura de alimento e não se reproduzindo”, comentam.

Nos rios, onde a temperatura varia de 5 a 18 graus, o processo é ainda mais intenso, dificultando o “trabalho” do pescador, pois nesse período os peixes não mordem iscas . “Eles querem evitar o gasto de energia, uma vez que seus processos metabólicos são regidos pela temperatura ambiente. O processo metabólico está mais baixo em virtude da baixa temperatura da água dos rios”.

Isso significa que não há muito o que fazer contra as mudanças de metabolismo, mas os pescadores mais experientes sugerem iscas mais atraentes e que cheguem até o fundo, dependendo da espécie, ou mesmo escolher aquelas que são mais ativas. Como no Brasil existem os peixes apaixonados pelo friozinho gaúcho, há também os que não abandonam o calor carioca. Basta descobrir quais são os interesses de cada espécie.

Para saber mais

www.pescarte.com.br

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