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Pão-durismo? Questão de sobrevivência

Sabrina Magalhães
| Tempo de leitura: 5 min

Sabe aquele esteriótipo do Tio Patinhas? Esqueça. Conhecido como o maior pão-duro do Brasil, o jornalista Gustavo Nagib garante que a “arte de guardar o rico dinheiro” evoluiu, deixando de ser sinônimo de não abrir a mão para nada para tornar-se apenas uma importante preocupação em não se deixar levar pelo consumismo. Para ele, ser pão-duro é uma “questão de sobrevivência”.

Com um sobrenome para lá de suspeito, Nagib é autor do recém-lançado “Guia do pão-duro - Feche o bolso e abra sorrisos”. Um texto leve e muito divertido que conta histórias, apresenta curiosidades - algumas nem tão confiáveis assim - e dá dicas de como economizar sem tornar a vida uma grande chatice.

“Sou um pão-duro bem-humorado. Fecho uma das mãos para conseguir abrir a outra. E fazer isso não significa perder o bom humor. É para fechar o bolso, não a cara”, defende. “É o pão-durismo saudável, moderno, pertinente e necessário. Se fechar as duas mãos nos deixa antipáticos, abrir as duas nos faz reféns dos juros. Comprar é bom, mas economizar é melhor ainda”, garante.

Usando de muita sátira, piadas e uma dose de exagero em algumas histórias, Nagib chama a atenção para uma questão muito séria nos dias atuais: a crise financeira. Ele destaca que poucas pessoas dormem tranqüilas hoje em dia quando o assunto é orçamento doméstico e pessoal. E que muitos se enforcam em dívidas por acreditarem inocentemente em facilidades de crédito e na falsa necessidade de consumir tudo o que aparece.

“A gente sabe que tem gente quase passando fome, mas se vestindo com o último lançamento da grife mais cara”, comenta.

Para o jornalista, o hábito de se calcular gastos é algo que se adquire em casa. “Mas, de uma maneira geral, acredito que ainda somos, independentemente de ricos ou pobres, muito despreocupados com nossos gastos. A gente pouco conversa sobre dinheiro. Nos colégios devia haver uma matéria que ensinasse a administrar os gastos, por exemplo”, sugere.

Questionado sobre como nasce um pão-duro, ele destaca, por meio da assessoria de imprensa, que é quando se percebe que ser é mais importante do que ter.

“Mas há também nascimentos inusitados, como o meu. Nunca fui muito de abrir a mão, é verdade (e aqui ele cita o próprio sobrenome). Mas depois que namorei durante dois anos uma mulher que não abria a carteira para nada, só eu pagava, e depois do namoro ela comprou um carro com o dinheiro que juntou durante o namoro patrocinado por mim, decidi fechar bem a mão”, resume.

A história toda, com seus devidos cálculos matemáticos, está no livro, bem como 150 dicas de como economizar no dia-a-dia, a relação entre os signos e a propensão aos gastos e dezenas de curiosidades. “Todas as dicas são possíveis de se cumprir, mas algumas delas o leitor só irá rir mesmo - não terá coragem de seguir”, admite.

A intenção de Nagib é mostrar às pessoas que o pãodurismo, aos poucos, deve ser encarado pela sociedade como uma necessidade. Não aquela avareza de antigamente, do estilo Nonô Correia (personagem de novela) quando se escondia dinheiro dentro de colchões e fundos falsos.Mas aquela norteada pelo bom senso.

“Ser pão-duro hoje é mais ou menos ser filho de pais separados: de um lado ‘dona crise’, a mãe; do outro, ‘seu dinheiro’, o pai. Pão-duro que é pão-duro, ao entender que esse tipo de casamento não tinha que ter acontecido, não os deixa se aproximarem. No máximo, em datas como aniversário e Natal. Até porque, ninguém é de ferro”, pondera.

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Coisas que pão-duro faz

Vêem o pão-duro como sendo um velho mal-humorado e com rios de dinheiro. Não é mais assim. Quem consegue poupar hoje em dia?

Acham que o pão-duro é aquele cara que quer as contas pagas pelos outros. Esse é o aproveitador.

Dizem até que não toma banho para economizar água, xampu e sabonete. Nada disso, ele apenas não fica horas debaixo do chuveiro gastando água, luz e gás.

Esqueça as dúvidas e passe a reconhecê-lo. Veja algumas que ele faz:

• Junta o finalzinho dos sabonetes;

• Estaciona onde não tem flanelinhas, nem que para isso tenha que andar um pouco mais;

• Ao sair para a noitada, leva um isopor no porta-malas do carro repleto de bebidas. Quer dizer, leva o suficiente para o consumo próprio;

• Vai a restaurante por quilo. Paga-se o que se come;

• Vai a cinema somente de segunda a quinta-feira;

• No verão, compra roupas de inverno.

Às vezes, vale abrir mão

Sou da época em que não existia videogame (...) Costumava liderar brincadeiras muito boas: tocar campainha e sair correndo, juntar todos os capachos dos moradores para depois colocá-los dentro do elevador sem destino, passar graxa nas maçanetas das portas dos elevadores (...)

Por que dizer que era eu quem tocava as campainhas e saía correndo? Cabia aos moradores dar o flagrante. Depois de pensar muito, procurei Maurício, porteiro do prédio onde morei e que até hoje está lá.

Resposta do Maurício ao ouvir minha confissão: “Eu já sabia!” Além de dizer que já sabia, lembrou-se de uma história.

Cansados de tanta bagunça, os moradores do prédio me elegeram síndico-mirim. Minha função era entrar no fim da reunião e dedurar quem quebrava lâmpada, quem jogava água na moradora do 303, quem colocava o som alto, quem jogava papel picado quando o Fluminense ganhava, quem...

Em troca do “serviço”, recebia um terço do salário mínimo. Depois de dois anos de mandato, os moradores conheceram a paz.

Moral da história: analise sempre o custo-benefício. Se para o bom funcionamento do edifício você tiver de pagar ao mais levado para ser síndico-mirim, abra a mão!

Curiosidades

• Para produzir a moedinha de R$ 0,01, a Casa da Moeda gasta, aproximadamente, R$ 0,06. Perca a vergonha de se abaixar para pegar R$ 0,01. Encoraje-se cate os seus R$ 0,06.

• De acordo com alguns numerólogos, nomes ou sobrenomes com pelo menos uma letra “h”, “q” ou “z” têm tudo para atrair dinheiro. Eu, Gusthavho Nhagib, brazileiro de quoração, acredhito!

Dicas que valem ouro

• Ao solicitar um número de telefone pelo 102, ligue de um telefone público (sem cartão). O serviço não é cobrado. De casa, no Rio de Janeiro, cobram.

• Nos supermercados, os produtos de marcas mais caras são os que ficam na altura dos nossos olhos. Memorize assim: prateleiras de baixo, preços mais baixos; prateleiras do alto, quase um assalto. Abaixe-se!

• Nos restaurantes por quilo, evite massas, purês, molhos e carnes que tenham ossos. Pesam muito!

• Serviço

Guia do pão-duro, Editora Matrix, 120 páginas. Preço sugerido: R$ 18,00.

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