Auto Mercado

Vale a pena comprar carros em 60 meses?

Marcelo Ferrazoli
| Tempo de leitura: 5 min

Não é de hoje que os financiamentos são as formas preferidas - estima-se que respondam por mais de 70% das vendas de automóveis do País - dos consumidores para realizar o sonho do veículo próprio. Sabendo disso, as montadoras disponibilizam planos com prazos cada vez mais dilatados e, conseqüentemente, prestações mais baratas para tentar aquecer o mercado. Desta forma, hoje é possível adquirir um carro em até 60 meses. Mas será que esta opção vale a pena?

A resposta soa como óbvia, mas é ideal para definir a situação: depende do poder aquisitivo, de quão necessário é o veículo para o consumidor e, principalmente, de uma boa dose de informação sobre os demais planos de financiamentos oferecidos pelas montadoras. Integrantes de concessionárias bauruenses ouvidos pelo AutoMercado & Cia não são unânimes em apontar os 60 meses como um bom negócio. Entretanto, há também quem defenda esta forma como uma excelente oportunidade para trocar ou comprar um automóvel.

O gerente Renato Tambara Neto, de uma revenda Volkswagen, considera os 60 meses inviáveis para os zero quilômetro em razão das taxas de juros. “Nas compras dos zero os valores financiados são de, em média, R$ 11 mil a R$ 12 mil. Assim, quanto maior o prazo, maiores serão os juros incididos. Neste caso, é preferível esforçar-se um pouquinho mais e optar pelos planos de 36 ou 48 meses”, alega.

Para justificar seu raciocínio, Tambara Neto argumenta que as diferenças das parcelas nos planos de 48 e 60 meses são pequenas. Ele cita um exemplo. “Suponha que o valor financiado seja de R$ 12 mil. Enquanto no de quatro anos as parcelas serão de R$ 400,00, no de cinco anos serão de R$ 371,00”, explica.

No entanto, o gerente sustenta que os 60 meses pode ser boa escolha para quem estuda adquirir um veículo usado. “Neste caso, o valor financiado médio cai para algo entre R$ 6 mil e R$ 7 mil e o impacto dos juros nas prestações não se evidenciam tanto”, salienta Tambara Neto.

Quem também segue igual linha e expõe os mesmos motivos contrários a escolha do financiamento em 60 meses é a vendedora Ana Ervilha, de uma concessionária Chevrolet. “Só opta por esse tipo quem não é informado ou orientado pela revenda sobre os outros planos, principalmente em relação aos juros”, enfatiza.

A favor

Há quem enumere argumentos favoráveis aos financiamentos de 60 meses. O gerente Jorge Simão Neto, de uma revenda bauruense da Ford, sustenta que o plano é um bom negócio por três motivos. “Além de contar com prestações fixas e de menor valor, no caso da Ford a taxa de juros é apenas 12% mais cara em relação aos planos de 36 meses e é a mesma dos de 48 meses. É uma diferença que não é catastrófica”, pondera.

Segundo Simão Neto, quem escolhe planos com prazos mais longos, como os de 48 e 60 meses, costuma pensar mais no valor da prestação do que nos juros. “São pessoas que buscam prestações mais baixas a fim de não comprometer o orçamento familiar, que normalmente já conta com outras despesas. Por isso, as taxas acabam não sendo significativas na hora de concretizar o negócio”, sustenta.

Outro que mantém a mesma linha de raciocínio favorável aos 60 meses de financiamento é o gerente Carlos Alberto Semenara, de uma agência Fiat. Além de enfatizar o valor mais em conta das parcelas, ele destaca que a acomodação dos juros em patamares mais razoáveis também auxilia. “Eles não estão mais em índices tão assustadores como há algum tempo e o que conta muito hoje é o custo das parcelas”, salienta. Semenara revela que, de janeiro a maio deste ano, 80% dos veículos comercializados na revenda foram financiados, sendo 45% deste total através dos planos de 60 meses. “Além disso, muitos consorciados migraram para este tipo de financiamento, pois enxergaram as vantagens de ter o carro na mão rapidamente com valores de parcelas semelhantes”, ressalta.

O gerente da Fiat enfatiza, ainda, que o fato dos financiamentos mais longos gerarem custos finais dos automóveis muito elevados é uma conta errada. “Muita gente fala que não financia nesses prazos porque, no final, pagará um carro e meio em razão dos juros. Só que as pessoas esquecem do usufruto de um veículo zero quilômetro e não se atentam para a idéia de que financiar em 48 ou 60 meses não significa que o veículo terá de ficar durante todo esse período com elas. Não é raro encontrar quem escolha esses planos e, na metade, faça a revenda”, destaca.

Já no caso de um usado, o gerente entende que os 60 meses podem ser viáveis, mas faz uma ressalva. “Acho válido para os carros a partir do ano 2000, mas as prestações ficarão muito próximas das de um zero”, conclui Semenara.

____________________

Pesquisar é essencial

Antes de se definir pela compra de um automóvel através do financiamento, independentemente dos prazos, o procedimento mais adequado é pesquisar os preços à vista dos veículos. É o que recomenda o economista bauruense Wagner Ismanhoto. “Este deve ser o ponto de partida antes de se definir por qualquer parcelamento, mesmo que o consumidor não vá comprar o carro à vista. Só depois de encontrar os melhores preços é que a pessoa deve consultar as condições dos financiamentos em relação às entradas mínimas e às taxas de juros”, orienta Ismanhoto. “Fazendo isso, é possível encontrar um veículo por um preço mais em conta, barateando também o financiamento”, acrescenta.

O economista sustenta também ter cautela com as taxas de juros. “Não se iluda com elas, pois qualquer juros é caro. Basta considerar que, com um índice de 2% incidindo no plano de 60 meses, ao final a pessoa pagará o valor de mais de um carro. Mas se o orçamento do consumidor não permitir outra forma de parcelamento, os cinco anos são um bom negócio. Além disso, ainda há a opção de transferir o financiamento antes dos 60 meses”, enfatiza. E complementa:

“Mesmo assim, é prudente consultar os demais planos de financiamento, pois as diferenças entre as parcelas pode não ser tão grande.”

____________________

Planos de cinco anos

• Fiat Taxas de Juros*: 1,75% Entrada Mínima: 20%

• Ford Taxas de Juros: 1,94% Entrada Mínima: 30%

• General Motors Taxas de Juros: 2,01% Entrada Mínima: 30%

• Honda Taxas de Juros: 2,27% Entrada Mínima: 10%

• Renault Taxas de Juros: 2,0% Entrada Mínima: 20%

• Toyota Taxas de Juros: 1,78% a 1,80% Entrada Mínima: 20%

• Volkswagen Taxas de Juros: 1,99% Entrada Mínima: 35%

* Os valores referem-se aos índices praticados por bancos próprios das montadoras ou privados

Fonte: Concessionárias bauruenses das marcas

Comentários

Comentários