A aproximação do Oriente e Ocidente é milenar. Há anos, porém, esse traço está se tornando cada vez mais exacerbado com a popularização de festas e atrações típicas da cultura nipônica. Neste mês, por exemplo, três eventos do gênero integram a programação de festividades dos 109 anos de Bauru.
Entre elas, apresentação de taikô (manifestação artística praticada com instrumentos de percussão), torneio aberto de golfe e o Bon Odori, tradicional festa que reúne dança e músicas japonesas, realizada ontem no Clube Cultural Nipo-Brasileiro.
Grande parte da popularização de aspectos sociais e comportamentais do Oriente entre os não-descendentes é fruto da miscigenação, aponta Massaru Ogino, relações-públicas da Igreja Budista de Bauru. “Cada vez mais, a colônia japonesa tem novos perfis étnicos e socioeconômicosâ€, revela ele, que participa ativamente de todos os eventos relacionados à cultura nipônica na cidade.
Há quase 30 anos, a professora universitária Maria do Carmo Monteiro Kobayashi possui uma forte ligação com a cultura oriental. Descendente de brasileiros, ela conta que o único imigrante de sua família é o marido, Mário Kobayashi, com quem está casada há 27 anos. “Quando comecei a namorar meu marido, meu pai me incentivou a aprender a língua japonesaâ€, conta ela, que faz parte da diretoria do Nipo.
Mãe de dois jovens de 17 e 22 anos, ela sempre fez questão de cultivar aspetos do Oriente em sua casa, a começar pela decoração, até a educação dos filhos. “Nós vivemos a questão Oriente. No meu caso, das famílias híbridas, minha preocupação era que meus filhos vivenciassem as duas culturas, para que isso não morresseâ€, diz Maria do Carmo.
O fato de estar casado com uma descendente de orientais reforçou o gosto do comerciante Marcos Cesar Antoninni pela cultura nipônica. “Desde o tempo de ginásio mantive contato com japoneses. Sempre tive amigos orientais e até hoje conservo algumas dessas amizades. Mais tarde namorei uma moça oriental e tive uma compreensão maior da culinária e de outros aspectos dessa culturaâ€, conta.
Pai de dois mestiços, de 4 e 9 anos, Marcos busca participar da maioria dos eventos nipônicos. “Fui ao Undokai e hoje (ontem) vou dançar no Bon Odoriâ€, conta, animado. “Essa dança é um verdadeiro espetáculo e também uma forma de terapiaâ€, aponta.
A mesma satisfação pela dança também encanta a bancária aposentada Maria Aparecida Batista Ferrarezi, outra fã da cultura japonesa. Diferentemente dos amigos do clube, ela não tem filhos mestiços, mas está em contato direto com o cenário oriental da cidade. “Há oito anos faço parte da Pastoral Nipo-Brasileira da Igreja Católica. Gosto muito da cultura e participo do Undokai e do Bon Odoriâ€, diz.
O que é
Originário do budismo, o Bon Odori é um ritual de oferenda aos mortos, ancestrais e entes queridos, realizado entre os dias 13 e 15 de agosto, segundo o calendário solar. De acordo com a religião, uma vez por ano os espíritos dos falecidos fazem um trajeto de volta para casa, visitando os familiares.
Nessa festa, um dos principais costumes é a dança típica, também chamada de Bon Odori, que homenageia os mortos. Tambores e músicas próprias marcam os passos dos participantes, que costumam se apresentar em um cerimonial.
A festa conta ainda com uma decoração especial, com destaque para as lanternas okuribi, nas cores branco e vermelho, dispostas no salão como um sinal de adeus aos falecidos.