Quem passa pela Nações Unidas já está acostumado a ver mulheres em pontos de prostituição. A novidade é que muitas são de cidades da região, que vêm a Bauru especificamente para fazer programas amorosos. Entre elas, o JC encontrou pelo menos três ainda não completaram 18 anos. São meninas com o corpo ainda em formação que se expõem principalmente na rua Henrique Savi à espera de clientes.
Pela forma que mostram o corpo, logo percebe-se que não são pedintes. A barriga e costas de fora, revelando tatuagens pelo corpo, e os lábios pintados de vermelho são sinais de que são meninas de programa, apesar da pouca idade. É o que constatou a reportagem do JC ontem, após ter recebido denúncia de pessoas que moram onde as garotas fazem ponto.
Uma das denunciantes conta que as meninas, além de se prostituírem, não aceitam qualquer observação dos moradores. “Eu já vi três delas. Elas usam poucas roupas e se exibem aqui na região da rua Henrique Savi a partir das 14h. Há dias em que elas permanecem até à noite. São mal educadas e xingam a gente”, conta a moradora Cleonice Oliveira Rebuci.
As adolescentes viriam de Jaú diariamente, em um veículo dirigido por um homem que seria o agenciador. A distância, ele observaria as meninas em atividade, fato confirmado por uma das garotas que já freqüentou a rua Henrique Savi e hoje está fazendo ponto em outro local da cidade. “Lá (na rua Henrique Savi) fica muita gente. Eu prefiro ficar só. As menores chegam de Jaú. São trazidas por um agenciador que cobra R$ 15,00 delas”, relata.
A menina de unhas vermelhas e cabelos da mesma cor, mal tingidos, ainda quase criança, nem percebeu que estava conversando com a reportagem. Ao ser questionada sobre o que fazia sentada na rua Henrique Savi, ela foi logo dizendo que pedia esmola. Mas quando foi questionada sobre prostituição, desconfiou da equipe do JC e abandonou o local em desabalada carreira.
Em poucos minutos, ela desapareceu. Possivelmente tenha encontrado o homem apontado como o que transporta as meninas de Jaú para se prostituírem em Bauru. Os frentistas de um posto localizado na região confirma que as menores vivem da prostituição. “Elas chegam à tarde e só vão embora à noite. Há senhores de meia idade que fazem programas com elas”, conta.
Um dos frentistas vai além. “Elas não só se prostituem. Vivem no telefone público e logo depois apareceu um mototáxi. Eu acredito que elas também comercializam drogas, mas não tenho certeza”, comenta.
Sustento da família
Raissa (nome fictício) é uma prostituta de 27 anos que trabalha há dez anos e já se considera experiente. “Faço de cinco a seis programas diariamente. Venho de uma cidade da região que prefiro não declinar. Tenho três filhos e não quero que eles saibam”, justifica-se.
Ela confessa que seus pais são evangélicos, mas que não se metem em sua vida. “Eles sabem o que eu faço e não falam nada. Não há mal em se prostituir. Eu já tive oportunidade de deixar essa vida, mas gosto do que faço”, afirma.
Os cinco programas diários rendem cerca de R$ 200,00 por dia. “É com esse dinheiro que sustento a minha família. Não vejo nenhum sofrimento nisso. É uma das profissões mais antigas. Não aceito relações sem preservativo. Os espinhos existem em qualquer profissão”, avalia.
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Moradores
Morando na região de prostituição, entre a avenida Nações Unidas e a rua Henrique Savi, Diva Heiffig e Emirene Rodrigues afirmam que não se incomodam com a presença das meninas e mulheres fazendo ponto. Elas não reparam muito e garantem que a polícia faz ronda constante.
Já a moradora Cleonice Oliveira Rebuci reclama. “Vários episódios dessa novela (da prostituição) foram desenvolvidos nessa esquina”, diz. Ela conta que certo dia seu marido discutiu com uma prostituta porque ela estava fazendo ponto em seu portão. “Nós temos filhas e recebemos visitas. Isso coloca a gente numa situação difícil. Enquanto ele discutia com ela, o celular dela tocou e em seguida, veio um homem que se identificou como marido dela”, relata.
Por pouco a polícia não precisou ser chamada. “Ele (o agenciador) fica na Nações Unidas observando e cuidando da mulher dele. Depois da confusão, ela não parou mais aqui. Passou a fazer ponto próximo de um posto de gasolina”, relata.