Pirajuí - Demorou exatamente 16 meses. Este foi o tempo que a cadeia feminina de Pirajuí (58 quilômetros de Bauru) levou para registrar sua primeira rebelião. Ontem, uma parte das detentas colocou fogo em colchões e provocou grande confusão dentro das celas.
Depois da desativação da cadeia masculina em meados do ano passado, o prédio vem sendo usado para atender a demanda de presas da Delegacia Seccional de Bauru. Pirajuí conta, atualmente, com 40 presas.
Inconformadas com a demora na transferência para o sistema penitenciário, as detentas já condenadas resolveram protestar colocando fogo em colchões e produzindo um barulho ensurdecedor com latas e outros objetos. Em voz alta, as presas passaram a ofender os funcionários com palavras de baixo calão. O alvo principal foi a diretora da cadeia, a delegada Rosemeire Bárbara.
O tumulto só foi totalmente controlado cinco horas mais tarde, com a chegada dos policiais militares de Pirajuí e de policiais civis da Delegacia de Investigações Gerais (DIG/Garra) de Bauru. O fogo foi controlado com a ajuda de um caminhão-pipa do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) do município.
Apesar do fogo e de toda confusão, os danos foram apenas materiais. Ninguém ficou ferido. As celas não foram danificadas pelo fogo. O problema maior foi registrado no corredor das celas, onde a fiação elétrica foi destruída pelo fogo.
De resto, muita sujeira podia ser vista no corredor. Pedaços de espumas se misturavam com marmitas de comida, pratos plásticos, caixas de papelão e cobertores, entre outras coisas.
Objetos proibidos
A rebelião começou por volta das 12h30. Os funcionários da cadeia conseguiram controlar o motim e colocar todas as detentas no pátio para uma revista nas celas.
Enquanto aguardavam no pátio, elas botaram fogo em dois colchões que estavam do lado de fora. Nesse momento, foi solicitado o auxílio do caminhão-pipa do SAAE.
De volta às celas, as detentas almoçaram e deram início a novo tumulto. De acordo com a delegada Rosemeire, elas teriam se irritado quando notaram a falta de alguns objetos pessoais, como alicate de cutícula e espátula de unha. Segundo a delegada, os objetos foram apreendidos por serem considerados de uso proibido dentro da cadeia. Em represália, as presas jogaram colchões no corredor e iniciaram novo incêndio.
Oito presas foram apontadas como as principais articuladoras da rebelião. Elas foram colocadas em uma cela separada e terão prioridade em uma eventual transferência. A medida, segundo a delegada, tem por objetivo evitar que novos motins sejam registrados na cadeia.
Rosemeire disse que a maioria das mulheres que estão detidas em Pirajuí já foi condenada pela Justiça. Como não existem vagas no sistema penitenciário, elas são mantidas em cadeias, muitas delas superlotadas e com estrutura precária.
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Festa sem ‘brilho’
A rebelião de ontem na cadeia de Pirajuí tirou o “brilho” das comemorações que estavam previstas para a semana que vem, por ocasião das festividades de Natal.
De acordo com a delegada Rosemeire Bárbara, a intenção era aproveitar o dia de visita, na próxima quarta-feira, para transformá-lo em um dia de “festa”. Por iniciativa da delegada, o comércio da cidade doou brinquedos, como bolas, carrinhos e bonecas, e até mesmo um bolo para serem distribuídos aos filhos das detentas.
“Ainda não sei o que vou fazer”, disse Rosemeire, numa expressão que misturava decepção e revolta com a rebelião de ontem. Ela ainda não sabe se mantém a “festa” ou cancela tudo.
Sobre a reposição dos colchões queimados no motim, a diretora da cadeia também não soube dizer quando isso ocorrerá. “Nem me fale em colchão agora”, rebateu.