Brasília - O presidente da GTech para a América do Sul, Fernando Cardoso, disse ontem, em depoimento à Polícia Federal (PF), que a empresa foi vítima de tentativas de extorsão feitas por Waldomiro Diniz e Rogério Buratti, que teriam tentado vender à multinacional, por R$ 6 milhões, a renovação de seu contrato com a Caixa para gerir o sistema de loterias do País.
A versão de Cardoso, conforme a qual a GTech teria sido extorquida, reproduz o que já fora dito pelo diretor da empresa Marcelo Rovai e pelo seu ex-presidente Antonio Carlos Lino da Rocha. No depoimento, prestado a pedido da CPI dos Bingos, Cardoso afirmou que até o momento a Caixa não assumiu o processamento de nenhum dos pontos lotéricos do País, obrigação que teria sido acertada pelo banco no último contrato firmado com a GTech.
Conforme os termos contratuais, até maio de 2006 a Caixa deveria comandar 100% da gestão do sistema de loterias. “Precisamos ver agora quem está mentindo’’, disse Leonardo Rolim, assessor da CPI dos Bingos que acompanhou o depoimento, ontem em Brasília. Em nota à imprensa, a Caixa afirma que “já assumiu completamente o processamento das loterias federais, incluindo a apuração, rateio, repasse dos recursos arrecadados e autorização para pagamento dos prêmios”.
Ainda conforme a nota, atualmente “há 48 terminais captando apostas e recebendo contas de concessionários no Distrito Federal. No dia de anteontem, quando o sistema da GTech ficou fora do ar durante aproximadamente 50 minutos, somente esses terminais continuaram captando apostas”. Para Rolim, outro destaque do depoimento foi a revelação, feita por Cardoso, de que, no início de 2004, GTech e Caixa teriam mantido reuniões nas quais discutiram a oferta de novos produtos da multinacional ao banco.
Entre eles está o “Caixa Aqui”, agências de correspondentes bancários (estabelecimentos que, credenciados pela CEF, assumem operações bancárias) sem pontos lotéricos, cuja gestão seria repassada à multinacional. Isso mostraria, no entendimento do assessor, que, até se tornar público o chamado caso Waldomiro, em fevereiro de 2004, não haveria um movimento para retirar a GTech da Caixa.
A separação definitiva dos dois teria sido consagrada apenas no último contrato firmado entre o banco e a empresa, que expira em maio do próximo ano. Ainda conforme o assessor da CPI, Cardoso não conseguiu explicar que elementos Buratti utilizou para demonstrar seu suposto poder sobre os negócios firmados entre a Caixa e a GTech.
No depoimento de quatro horas de duração, no qual não há nenhuma referência às relações entre Buratti e o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, Cardoso disse não ter elementos para “confirmar que as ligações (telefônicas) recebidas por Marcelo Rovai (presidente da GTech em abril de 2003, época da renovação do contrato com a Caixa) informando da postergação do contrato por parte da Caixa Econômica Federal seriam ou não uma evidência sólida da influência do sr. Rogério Buratti”.
Cardoso não falou com a imprensa. Em nota oficial, a GTech “reafirma sua confiança na justiça brasileira” e sua convicção de que as investigações irão “comprovar a lisura das atividades da empresa no país”.