Regional

Livro conta a passagem dos ingleses por Gália

Rita de Cássia Cornélio
| Tempo de leitura: 3 min

Doces Lembranças de Outrora”, um livro de autoria das professoras Rosemari Gatttás Barnezi e Maria Zélia Sellani Pontes conta, dentre outras histórias, a passagem dos ingleses pelo município de Gália, em meados de 1918.

Segundo uma das autoras, a professora Rosemari Barnezi, a Fazenda São João era quase uma cidade, ou melhor do que a cidade. “Gália não tinha teatro e nem cinema, enquanto que na propriedade rural tinha ambas as coisas. As salas de cinema e teatro não só refletia a opulência da época como conseguia exibir filmes simultâneos com a Capital. Com o filme King Kong, a primeira versão, foi assim.”

Peças de teatro famosas eram encenadas no espaço da fazenda. “De acordo com relatos, os funcionários da fazenda ganhavam tão bem que podiam pagar a entrada. Para participar dos eventos, eles dispensavam a roupa de trabalho e se vestiam como os ingleses.”

O 13º salário pago pelos ingleses da Companhia Agrícola do Rio Tibiriçá era coisa de fazer inveja, de acordo com a escritora. “Eles pagavam três salários de uma só vez no final do ano.”

A “quase cidade” Fazenda São João, tinha tudo. “Lojas, sorveteria, farmácia, teatro, cinema, açougue, igreja, campo de futebol e aeroporto dentre outras coisas. Hoje, só tem ruínas”.

A igreja, que existe até hoje, é uma réplica da existente na praça central da cidade, paróquia São José de Gália. Atualmente o prédio encontra-se abandonado, os vitrais que davam a ela um colorido diferenciado, estão quebrados e o local passou a ser ninho de pombas e pássaros.

As atividades artísticas e recreativas refletiam o prestígio da Companhia Inglesa frente a cidade de Gália. “Com seus mais de dois milhões de pés de cafés, suas atividades artísticas e culturais, seus modernos equipamentos agrícolas fizeram do lugar palco de espetáculo sutilmente elaborado que, mesmo de aparente forma aristocrática, se tornou um dos maiores empreendimentos agrícolas do Interior do Estado de São Paulo.”

Sonho sucumbiu

A crise cafeeira na década de 50 e o governo de Marechal Eurico Gaspar Dutra forçaram a saída dos ingleses de Gália. Era o fim do sonho dourado.

O livro das professoras conta ainda que um grupo de ingleses comprou uma gleba de terra de cerca de 5 mil hectares e instalaram a fazenda de café, cereais e algodão. A idéia era montar uma estrutura independente.

Na cidade de Gália, eles montaram um armazém para catação de café, ensacamento e despacho. “A Companhia Paulista de Estradas de Ferro construiu um ramal de desvio, para que a composição carregasse a produção diretamente do armazém.”

A intenção era produzir café para exportar para a Inglaterra que precisava, naquele momento, manter os operários acordados e o café seria o estimulante. O grande fornecedor de café da época era o Brasil.

O negócio teria dois aspectos interessantes para os ingleses, o café produzido seria exportado para a Inglaterra. O pagamento recebido seria transformado em ouro, também exportado para lá. Assim, o Brasil ficaria sem o café e o ouro. Dutra se deu conta da abertura utilizada, proibiu a conversão e limitou a remessa. A partir daí, o negócio começou a ficar desinteressante, até a retirada dos investidores.

Comentários

Comentários