Rio de Janeiro - Quatro homens metralharam e jogaram duas granadas contra o jazigo perpétuo do traficante Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, na madrugada de ontem, no cemitério do Caju, zona norte do Rio. O jazigo foi atingido por pelo menos 13 tiros. Uê, que foi um dos maiores traficantes do Rio, morreu carbonizado em 11 de setembro de 2002, numa chacina no presídio de segurança máxima Bangu 1, comandada pelo rival Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
Na ocasião morreram também outros três integrantes de sua quadrilha. Por volta das 2h30 de ontem, os quatro homens invadiram o cemitério São Francisco Xavier, no Caju, e obrigaram um vigia a apontar para eles onde era o túmulo de Uê. Os homens carregavam duas granadas e fuzis. Ao chegar ao túmulo, que fica a cerca de 30 metros da entrada principal, os criminosos jogaram as granadas, que explodiram na parte de trás do jazigo perpétuo do traficante, e metralharam o túmulo. Pelo menos 13 tiros atingiram o jazigo. Uma das perfurações atingiu o peito da imagem do traficante no retrato de bronze colocado pela família na lápide.
As duas granadas atingiram principalmente partes em cimento de duas sepulturas que ficam atrás do jazigo de Uê. Um túmulo ao lado foi atingido por um tiro. No local, além dos estilhaços das granadas, foram encontradas 18 cápsulas de fuzil. Há informações de que o bando fugiu num Pólo branco pela Avenida Brasil, em direção à zona oeste. O delegado responsável pelo caso, Fábio Ferreira, disse que investiga inclusive uma hipótese de criminosos rivais terem cometido o atentado para ganhar notoriedade. Há 12 dias, duas bombas de fabricação caseira foram encontradas sobre o jazigo, em meio às flores.
Elas foram detonadas pela polícia. Chefe da investigação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), Marina Maggessi também acredita que foi uma provocação de criminosos do Comando Vermelho (CV). “Ele é um ídolo, um mito na Amigos dos Amigos (ADA). Foi um ‘esculacho’. Eles atacaram o Uê e não o Ernaldo, já que a família ergueu ali um monumento ao bandido, com foto dele algemado e sorrindo”, afirmou.
Ela disse ter se surpreendido com a atitude dos bandidos. “Nunca tinha visto isso, de mexer com os mortos. Nem acredito que os chefes do CV saibam. Vai haver represália”, disse. Administrador do cemitério há 50 anos, Paulo Rodrigues, 76 anos, se revoltou com o ataque ao túmulo de Uê. “Nem morto o sujeito tem paz”, desabafou.
Rodrigues reclamou da falta de policiamento no local. O cemitério é cercado por 16 favelas, todas controladas pela ADA, facção criminosa a que pertencia Uê.