Ser

Tribo emo

Cristiane Goto
| Tempo de leitura: 4 min

“Oi Lindinha! Xabia q. eu ti adoro. Vc é mto fooooófis!”. Não raramente, frases como essa são trocadas entre emos nas conversas do MSN (programa de mensagens eletrônicas), páginas da Internet ou em comunidades do site de relacionamento Orkut.

Assim como outras tribos adolescentes, os emos possuem códigos específicos, principalmente na Internet. Um deles é usar palavras no diminutivo e não economizar demonstrações de carinho. Nas Capitais, algumas meninas se tratam como “maridas - o que não significa traços de homossexualismo - e os meninos se abraçam.

Apesar do visual e do comportamento peculiar, os emos, a exemplo dos rappers, patricinhas, funkeiros, punks, entre outras turmas, têm uma característica em comum: o fato de andar em grupo.

Na maioria dos casos, os emos compartilham os mesmos gostos, roupas, pensamentos e ideologias. A importância do grupo é um dos aspectos de destaque no processo de globalização decorrente do pós-modernismo, explica Luiz Carlos de Oliveira, psicólogo clínico e doutor em educação.

“Numa sociedade fragmentada, as pessoas buscam se integrar e se identificar por meio de tribos”, analisa ele. Segundo Oliveira, fazer parte de um grupo é característica do processo de desenvolvimento, afirmação e aceitação social dos jovens e adolescentes. “Os emos expressam apenas um jeito diferente de ser, se comunicando por meio de uma determinada linguagem. Isso representa um ‘mix’ do que outros jovens de épocas anteriores já viveram, como, por exemplo, os hippies, mas desta vez com algumas variações”, diz.

Lutar por uma mundo sem violência, pregando o amor e a expressão livre das emoções é a bandeira defendida pelos emos. De certa forma, essa filosofia pode ser uma resposta ao atual sistema social, aponta Oliveira. “O que parece é que os emos querem uma sociedade com menos violência. Embora não seja explícita, o fato de não revidar quando são agredidos é um aspecto positivo.”.

A psicoterapeuta Marilene Krom explica que o adolescente se sente fortalecido em um grupo de iguais. “Em momentos de dificuldade acentuadas, o que se percebe é que eles pregam sobretudo uma mudança de atitude diante das situações de maior impacto”, diz.

“Os emos privilegiam a expressão livre das emoções e flexibilização das discriminações sociais, aliada a uma certa conservação dos ícones infantis e culto ao amor e à paz”, acrescenta Krom.

O emo Victor Luan Caciatore de Souza, 11 anos, abraça essa causa. Ele não entra em brigas ou discussões em sala de aula. “Prefiro ‘ficar na minha’”, diz. Dandara Tierra Borges, 13 anos, e Emily Ingrid Corrêa Leite, 16 anos, têm a mesma opinião: “Somos a galera da paz, amor e amizade”, dizem, em coro.

A ideologia da tribo está atraindo cada vez mais adeptos, caso da estudante Letícia Carolina Braga de Souza, 11 anos. Prima de Victor, ela conta que começou a gostar do som emotional hardcore por influência do irmão. “Ele escutava e depois eu passei a me interessar”, revela a pequena, exibindo os olhos pintados e a camiseta do Evanescence.

Papel dos pais

De forma explícita ou não, os emos sofrem preconceito, especialmente de outras tribos. Um dos exemplos ocorreu recentemente na Galeria do Rock, em São Paulo, quando alguns adolescentes sofreram um “arrastão”, sendo expulsos do local por um grupo de punks.

No Orkut, existem mais de 400 comunidades envolvendo os emos. Quase metade delas é contra a filosofia do grupo e apresenta insultos ou comentários preconceituosos.

Oliveira aponta que participar de grupos é uma fase transitória da vida do jovem. “Eles se entendem, têm linguagens e características em comum. Isso é importante no processo de educação. O impacto negativo ocorre quando a tribo passa a ser gangue, gerando intolerância.”.

Segundo o psicólogo, nesse aspecto há uma contrariedade porque os jovens buscam uma forma de expressão livre, mas ao mesmo tempo são intolerantes com o diferente.

Por conta desse cenário, os emos ou qualquer outra tribo merecem atenção especial de pais e educadores, aponta Oliveira. “Os pais precisam ficar atentos. Não podem direcionar a vida dos filhos, mas precisam monitorar”, diz.

A socióloga e professora de psicologia social Marilene Cabello Di Flora, compartilha da mesma opinião do psicólogo. De acordo com ela, orientação, cuidado e muito diálogo são essenciais na educação dos jovens e adolescentes. “É preciso haver uma preocupação, não exagerada ou neurótica. Tem que ser uma coisa leve. Os pais devem conversar com os filhos, ver onde e com quem eles estão e conhecer seus amigos”, recomenda.

“Uma das maiores preocupações dos pais é a questão das drogas e da violência. Uma das formas de acompanhar a vida do filho é trazê-lo para perto”, diz Oliveira.

A atitude é adotada pela mãe de Emily, a dona de casa Nivânia Lúcia Corrêa Leite. Ela conhece os amigos da filha e não se importa que a turma emo se reúna em sua casa aos finais de semana.

Cabe aos pais compreender, respeitar a individualidade dos filhos e intervir quando necessário, ressalta Oliveira.

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